A vida podia ser um verso.
Não é: a vida é o reverso do verso,
prosa rasa onde às vezes pinta uma pepita:
pedra de ofuscante fulgor, epifania, rosa em agonia.
A vida podia ser um verbo:
ser, ter, parecer. Não é. A vida, substantivo abstrato,
é concreta: pedra de toque, pedra angular, pedra pedra.
A vida, diabos, podia ser tanto: espanto, quebranto,
encanto.
Um sonho? Teatro? Cinema?
A vida é um soco na cara. Ou no saco. No útero. A vida
é um saco, um suco, um susto.
Não um verso. Pois é,
a vida podia ser um verso,
um verso branco, sem metro, sem medo.
Não é. A vida é isso que é,
isso que temos pra hoje:
prosa rasa, prosa chocha, prosa escrota
mas que oculta em meio a suas orações
diamantes, esmeraldas e um rubi.
Sim, um rubi, que Bilac, pra não perder a rima,
grafou 'rubin" e engastou num poema chato
que graças a deus não é a vida.
Otto Leopoldo Winck
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