Verônica, a moça loira que ajudava minha mãe nos serviços da
casa, se apaixonou pelo Agenor, o pedreiro negro e batuta que veio construir um
alpendre junto com meu pai. Agenor curtia Amado Batista. Vêronica curtia Amado
Batista. E ele todo se exibia numas de Bruce Lee, quebrando dois tijolos com um
golpe de mão. Verônica ria e suspirava. Não deu outra, rolou amor. Foi festa e
fofoca em minha casa. Um casal pra durar. Nossa mãe botou fé, nosso pai ficou
pasmado! Olhe isso! Esses dois. Que coisa, hein! Esse moreno é sedutor! E o
namoro deu-se na calçada. Com radinho tocando Amado. Roupa limpa, passada,
perfumada. Mão pretinha colada na mão galega. A gente rindo e correndo em volta
do casal alegria geral da minha rua.
Mas o homem da esquina achou aquilo um escândalo. Veio com
facão na mão, gritando esculhambações, um bafo brabo de cachaça tomar
satisfação de nossa mãe e nosso pai. Como podiam aceitar aquilo numa casa de
família. Os olhos vermelhos de ódio paralisaram a festa. Nossa mãe partiu pra
cima. Vá-se daqui, bêbado sem vergonha. Cuide dos seus assuntos. Nosso pai, um
tanto trêmulo, deu todo o apoio possível à fúria de minha mãe. E eu, que só
tinha uma coleção com doze lápis de cores, vi o quanto é destrutivo enxergar em
preto e branco.
Assionara Souza
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