Não tenho dúvidas de que leitores ficam de fato muito decepcionados quando descobrem que escritores são pessoas normais: tem muitos defeitos e muitas qualidades, são contraditórios e sentem medo, além de dor e vaidade. São gente como a gente.
Como uma boa parte joga para a plateia (que aqui pode ser compreendida com bastante amplidão), costuma assumir um papel. Há uns dez anos, mais ou menos, um papel muito apreciado, que os escritores viram que estava em alta, era o de transgressor, o malvado, que falava em público dos seus porres e das drogas que usava. As opiniões políticas eram a de não ter opinião política.
Esse perfil público saiu de moda. Agora está em alta o cara legal, virtuoso e engajado. Vai durar alguns anos. Tenho curiosidade por ver qual vai ser o próximo.
Tudo isso dá muita corda para leituras que se afastam da literatura – e aliás também da sociologia da literatura, que não estuda pessoas, mas movimentos sociais. De um jeito ou de outro, afasta-se muito da obra.
É uma pena, pois obras são muito mais efetiva e potencialmente (no sentido da potência) políticas do que autores, que são normais, embora muitas vezes finjam que não. Melhor dar mais espaço para a arte mesmo.
Uma boa semana a nós tudo.
Ricardo Lisias
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