quinta-feira, 30 de agosto de 2018

CABEÇA FEITA




Distraído eu estava,
Quando num repente,
Comecei a ouvir vozes,
O que me preocupou,
Porque eu estava sozinho,
E isso não é coisa normal.

Procurei localizar, identificar,
De onde as vozes vinham,
Notei, como não era de esperar,
Que estavam na minha cabeça,
Entremeios as vozes, pensei:
- Estou enlouquecendo?

Concentrei-me naqueles sons,
Percebi que era uma conversa,
Dos meus hemisférios cerebrais,
Criando um fértil diálogo não senil,
Interlocutado simultaneamente,
Numa..., Perfeita Simbiose.

O direito:
- Conhecimento..., para o quê, serves?
O esquerdo:
- Sirvo, para te fazer diferente do ignórico!
O direito:
- É..., mas, com isso, o que mais sei,
é que Socratianamente..., nada sei.
O esquerdo:
- Então, passe para reações Aristotélicas,
porque menos sofrerás. Eureka!
O direito:
Não quero ser tão racional e dedutível,
O esquerdo:
Então aceite o sofrimento do apego.
O direito:
Renuncio ao sofrimento..., desapego.
O esquerdo;
Duvido que consiga, esse não é você.

Como plateia desse jogral,
Entremeios as vozes, pensei:
Não estou louco, ao contrário,
Minha lucidez é assustadora,
Consigo me perceber até...,
Inconscientemente reflexivo.

Nessa discussão do meu ego,
Questionado pelo meu superego,
Percebi-me como meu alter ego.

Éramos três num desdobramento,
Que em sentido da pluralidade,
Se fazia simplesmente, singular.

Para aumentar a confusão,
Eu me vi..., sim, eu me vi,
Eu estava fora..., eu..., alter ego,
E via juntos, embora separados,
O ego e o superego,
Isso era tramoia em festa, do Id.

Instinto da matéria instigando,
Razão e emoção se digladiando,
Espírito desgarrado do corpo, livre,
Mas, agarrado à Ariadne, fio a fio,
E eu alma verdade integrado ao todo,
Somos cinco onde apenas um existia.

E o surpreendente diálogo continuou,
Em meio a toda essa parafernália,
Quando um hemisfério ao outo falou:

O direito:
- Sim, esse sou eu porque me basto.
O esquerdo:
- Bastar-se-ia sem ação do sangue.
O direito:
Mas, o sangue correndo é vida.
O esquerdo:
Não. Vida é o que faz o sangue correr.
O direito:
Então a vida é o que sinto.
O esquerdo:
Não. A vida não pode ser sentida.

Entretido na audição da conversa,
Eu estava quando noutro de repente,
Nova voz ouvi:

Ei..., silenciem-se..., o corpo se mexe,
Disse o Id Instinto da matéria instigado,
Quando em movimentos espasmódicos,
Células vivas se contraíram profundamente,
Durante uma inspiração mais profunda,
E relaxaram quando houve a expiração.

A respiração sequencial foi percebida,
Entre um espreguiçar e outro renovar,
Despertou o olhar antes adormecido,
Foi quando entendi que havia dormido,
E o que em normal é chamado de sonho,
Eu vivi em inteiro, por ter..., a cabeça feita.

Olinto Simões – 26/06/2018 – às 3,40 h.

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