quinta-feira, 30 de agosto de 2018

DOIS REINOS (continuação...)



Nunca esquecerei os caminhos
de fogo em tua carne: tuas hidras
solares.

Inventas a grife incendida
para nomear as cinzas. E esta
arte de vender relâmpagos.

Germinas em mim tua vegetação,
como se eu fosse o teu vale; a lareira
do teu riso.

Por vezes, me encerro
à sobra ancestral. Bêbado
de eterno, como o gemido
da terra.

Escrevo em tua rocha
para resgatar luz das águas.
Sou um selvagem que sangra
aquarelas.

Assim, recolho esta lírica-vinagre.
desde as conjurações das sombras;
desde o nocaute das horas.

Deve haver-me
um veneno abstrato, uma
flecha de átomos

Poesia é o que desnuda
a lavoura de signos.
E o desejo que virou pedra.

SALGADO MARANHÃO

(Do livro “A CASCA MÍTICA”)

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