sábado, 4 de agosto de 2018

"Soneto sem decassílabos"




A noite caiu e tu estavas ausente,
A pele do corpo tocava os dedos,
Como murmúrios suaves na boca carente.
Falando da tristeza que acoberta os medos.

Os teus cabelos vermelhos tocavam o peito,
Adormecidos na pele sensível,
Como velas de um barco desfeito,
Sem rumo e sem mar possível.

A minha ternura percorria o ventre,
Como afagos da memória dos tempos,
Em que os lábios se tocavam lentos,
Em carícias e beijos de enchente.

Cheiravas como uma flor do campo perdida,
Navegavas abandonada na saudade,
Caminhos de uma pele desconhecida,
Ao toque de dedos que enlaçam a vontade.

Percorria em sonhos todos o teu corpo,
Encontrado-te nos lábios molhada,
como amor eterno que nunca jaz morto
Ou perdido numa obsessão ignorada.

Memórias da consciência retardada,
Num dia em que te procurava desligada.
Acendi de novo a chama desse amor,
Que não ignoraste na causa da dor.

Voltaste de novo a amar e a acolher,
A consciência que o fez reconhecer.
Hoje percebeste sentimentos,
Amores sem lamentos...

Deste-me a mão sem a onda revolta cair,
Agarraste-a para o amor não trair,
Coração de mulher nobre,
Que acolhe o sorriso na saudade pobre.

Olhei os teus olhos de favos de mel,
Vi tuas mãos sem a alma vazia,
percorri os olhos como órbitas de alegria,
encontrei palavras sem o aço do cinzel,

Foi aí o simples enlaço sem dor..
Sem decassílabos que falam de amor.

Miguel Martins de Menezes      22 de agosto de 2011 12:54

               

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