domingo, 9 de dezembro de 2012

Conto I-


De Mara Paulina Arruda

O poeta encaixotou 460 exemplares de seu livro de poesias. As veias roxas nas mãos. Passou três quadras de sua casa com aquela caixa entre os braços. Tropeçando, virando o pé, maldizendo o mundo. Os sonetos encaixotados. A contracapa virada expondo o rosto da mulher amada. O poeta, por forças das circunstâncias, subjulgava esse tão falado valor das palavras. Carnificina. Tem alguma palavra esquecida aqui? O poeta e sua mãe. Tantas coisas que nem cabiam no vocabulário. O silêncio. E o grito. O poeta estava louco, louco de vontade de mostrar o podre de uma instalação de si mesmo bem na praça, para todo mundo ver o quanto ele estava feliz, determinado em fazer o necessário: Incinerar. Os arquivos, ossos, necessidades fisiológicas. Ele dependurado feito um Jesus qualquer; manco.

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