Conto I-
De Mara Paulina Arruda
O poeta encaixotou 460 exemplares de seu livro de
poesias. As veias roxas nas mãos. Passou três quadras de sua casa com aquela
caixa entre os braços. Tropeçando, virando o pé, maldizendo o mundo. Os sonetos
encaixotados. A contracapa virada expondo o rosto da mulher amada. O poeta, por
forças das circunstâncias, subjulgava esse tão falado valor das palavras.
Carnificina. Tem alguma palavra esquecida aqui? O poeta e sua mãe. Tantas coisas
que nem cabiam no vocabulário. O silêncio. E o grito. O poeta estava louco,
louco de vontade de mostrar o podre de uma instalação de si mesmo bem na praça,
para todo mundo ver o quanto ele estava feliz, determinado em fazer o
necessário: Incinerar. Os arquivos, ossos, necessidades fisiológicas. Ele
dependurado feito um Jesus qualquer; manco.
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