domingo, 9 de dezembro de 2012

Quase lygia telles, quase ficção




Era uma história assim. Quase história. Ela me contava. Era sobre a Lígia. A Lygia, a escritora. Mas era uma história real. Parecia que sim. A mulher saía do cinema e se dirigia para casa. Era no Rio de Janeiro. Caminhava pelo passeio, caminhava.
De repente percebeu que dois rapazes numa moto a estavam seguindo. Percebeu, mas não queria acreditar. Os rapazes a olhavam. Ficavam a uma distância propícia para o sobressalto. A mulher caminhava, agora em passos mais rápidos. O edifício estava próximo, tão próximo, mas a distancia dos olhos era inalcançável pelas pernas.
A mulher tremia e apressava-se. Apressava-se. A mulher tremia, temia. O portão do edifício, o portão. Era ali tão pertinho. A mulher de repente correu mais que as pernas. Encontrou uma força além do físico. Agora já era do outro lado do portão, fechado. Ela, a mulher, olhou para trás e viu os dois rapazes. Os dois rapazes da moto. Até que ouviu a voz
de um deles num grito: “Lygia Fagundes Telles nós te amamos”.
A mulher não conseguia encontrar olhos para chorar.


Assis Freitas

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