terça-feira, 31 de janeiro de 2017

PROCURO UMA NARRATIVA


Procuro
uma narrativa
que não seja
uma narrativa
da carochinha.
Para narrativa
da carochinha,
basta
uma verdadeira
narrativa
da carochinha.

Paulo Vallim - 01/01/2017

PAI SEM FILHO



Joelhos ao chão na dor da perda.
A troca que faríamos se pudéssemos.
Lágrimas que escorrem pela face do vivo.
Amargas gotas cristalinas da nascente da dor.

Jaz a vida de quem amamos.
Desmaterializa-se o chão que pisamos.
Rasgado fica o coração que não sentimos.
Na alma se faz maior todo o sofrer do ser.
Se pudéssemos... Trocaríamos os lugares.
E a folha verde ficaria no lugar desta que esta amarela.

Marcio Gleide Nunes dos Santos

Curitiba-PR 31/01/2017

sábado, 28 de janeiro de 2017

Há um cão raivoso na porta do boteco
ele quase nada fala e pouco sorri
rosna seu osso aos nossos ossos metafísicos
e bebe pouca cerveja como pablo picasso
ele não conversa com ninguém
e dá tacadas magistrais na mesa de sinuca
e sabe mais sobre a vida do q os bebedores deste boteco
este cão raivoso cérbero extraviado na calçada
não vende fiado e do pouco q fala nos ensina
q o silêncio é quase um nirvana embriagado

Sérgio Villa Matta

o que souberam de mim
naquela noite fechada?
souberam que sou assim.
que vou morrer. e mais nada."
RR

Da janela, as de mim
Que me exilam,
Espiam a chuva nas rosas
Enquanto coleciono saudades
Roxas nos dedos do pé.
Faz tempo me dei de partir,
Nuns calos de vento
Pra dias de velhos intentos.
Por isso, quase não venço
O jardim que me inventas
Azul e amarelo.
Por isso, quase abandono
O castelo intacto das louças
Que jogamos no ar
À espera de boa maré.

Lázara Papandrea
Acolhimento de refugiados é uma obrigação moral para as pessoas que estão a fugir de zonas de guerra ou que são perseguidos por suas crenças, sua orientação sexual, a cor de sua pele, o seu sexo, etc. A América é um grande país graças a milhões de pessoas que vieram sem qualquer coisa, mesmo sem falar inglês, da Irlanda, Polônia, Itália, África, China, França e outros. Quando os refugiados são expulsos, a estátua da liberdade chora

JR. Artista francês 

A QUIMERA


governo propõe que jornada de trabalho
diária tenha 12h. coréia do norte
confirma que fez teste nuclear. após
quatorze jogos, inter reencontra a vitória
diante do santos. Obama aperta a mão
de líder que xingou sua mãe. SP tem mais
um protesto contra Temer. Odair tem recurso
negado e fica sem o ouro. Marquezine
arrasa com decotão. áudio mostra que seis
jovens são suspeitos de matar jornalista.
sem sutiã, sofia richie ousa de top.
policial resgata 43 cães em casa de SP.
gabigol revela motivo de não jogar
na europa. senado aprova texto de reforma
ministerial. daniel dias leva a décima
sexta medalha da carreira. Menina é estuprada
por 33. timão atropela sport. indiana
sobrevivente de ataque a ácido desfila
em new york. Iphone 7 tem usuários
insatisfeitos. conflito fundiário deixa
dezenas de feridos. nova curadora
da FLIP quer mudanças. jogo de tiro
leva jovem a matar dois. eu morro
por descuido. você morre por precaução.

Italo Diblasi

quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

Estudo do método


I
escrever é suar o verbo
II
todo poema é uma inspiração q transpira
III
ler e reler: reler e reler: escrever
IV
não há receitas: isto não é um bolo
V
labuta: lavrar os campos da palavra
VI
todo escritor é antes de tudo um leitor. o vice-versa não é verdadeiro
VII
alimentar-se de dicionários e experiências reais ou imaginárias
VIII
a tradição existe para ser traída. mas, antes deve-se conhecê-la
IX
botar palavras numa linha e ver se está bom
X

o leitor sempre entende o q ele quer entender

Sérgio Villa Matta

CONHEÇO VOCÊS PELO CHEIRO

ANTOLOGIA PESSOAL 11

Conheço vocês
pelo cheiro,
pelas roupas,
pelos carros,
pelos aneis e,
é claro,
por seu amor
ao dinheiro.
Por seu amor
ao dinheiro
que algum
ancestral remoto
lhes deixou
como herança.
Conheço vocês
pelo cheiro.
Conheço vocês
pelo cheiro
e pelos cifrões
que adornam
esses olhos que
mal piscam
por seu amor
ao dinheiro.
Por seu amor
ao dinheiro
e a tudo que
nega a vida:
o hospício, a
cela, a fronteira.
Conheço vocês
pelo cheiro.
Conheço vocês
pelo cheiro
de peste e horror
que espalham
por onde andam
– conheço-os
por seu amor
ao dinheiro.
Por seu amor
ao dinheiro,
deus é um
pai tão sacana
que cobra por
seus milagres.
Conheço vocês
pelo cheiro.
Conheço vocês
pelo cheiro
mal disfarçado
de enxofre
que gruda em
tudo que tocam
por seu amor
ao dinheiro.
Por seu amor
ao dinheiro,
é com ódio
que replicam
ao riso, ao gozo,
à poesia.
Conheço vocês
pelo cheiro.
Conheço vocês
pelo cheiro.
Cheiro um e
cheirei todos
vocês que só
sobrevivem
por seu amor
ao dinheiro.
Por seu amor
ao dinheiro,
fazem até das
próprias filhas
moeda forte,
ouro puro.
Conheço vocês
pelo cheiro.
Conheço vocês
pelo cheiro
de cadáver
putrefato que,
no entanto,
ainda caminha
por seu amor
ao dinheiro.

Ricardo Aleixo

do livro impossível como nunca ter tido um rosto
(Edição do autor, 2015)


Silêncios

horas verdes assentam-se sobre o trapézio
girafas circulares discorrem sobre foucault
olhares triangulares se desdizem
como beija flores cinzentos
uma música abandonada ressoa
magneticamente em dias
lúcidos e abissais.
IX0999
ao redor tudo é silêncio. trovões. ouço agora trovões. é como um
êxtase em sentido cego. esgarçam-se como gaivotas afogadas.
antes:
jogo xadrez no caos dentro de um quadro de di chirico.
beijos geométricos se
desfazem como as areias vermelhas.
o movimento é um diálogo oblíquo.
MMXXII
o telefone está tocando. está tocando
desesperadamente há três dias.
o som vem de dentro de uma maçã sonâmbula.
(Silêncio escuro)
agora:
as palavras criam confusões.
a neutralidade do silêncio.
a verdade do silêncio.

(tudo é turvo. e nunca mais)

Sérgio Villa Matta

De nada adianta alimentar o corpo
se a alma estiver vazia, não adianta tomar água
se estamos sedentos de chuva.
De nada adianta sermos sábios
se não utilizamos nossa sabedoria
para o bem maior que é a fraternidade
entre os seres humanos.
Amaury Nogueira

Poeta Paranaense

terça-feira, 24 de janeiro de 2017

Final de tarde chuvosa. Uma, duas três no quarto. Uma, duas na sala. Uma no banheiro. Amanhã tenho que subir no telhado. Jd

E la nave va...



Flutuando entre nuvens
Num céu febril de janeiro
Tudo contrário
Com exceção do amor
Esse que escorre das mãos
Enquanto a noite cai
E espalha seus cheiros
Abreviando os medos
E la nave va...
Vaporosa e concreta
Escultura de baleia
Em minha janela
Entre mil lampejos
Um olhar miope interroga
O mistério solto nas horas
Da luz lunar das esferas
Anjos hereges despencam
E la nave va...
Nada temos de nosso
A não ser a propensão à luta
Crianças dopadas
Ilusões do consumo
Resumo do que somos
Esgotada a euforia
Quedamo-nos perplexos
Dispostos a um outro destino
Distante
Sempre adiante

E la nave va...

Assionara Souza

sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

Lendas da Danceteria Amnésia de Curitiba

                    
Nos anos 90, em Curitiba, existia uma discoteca chamada Amnésia que era considerada a mais chique da cidade. Porém, interessantes mesmo são as lendas que existiam sobre aquele estabelecimento:
O Cientista do Casarão:
Na época do Brasil Colônia, em que Curitiba ainda se chamava Vila de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais, num local onde fica a região do Largo da Ordem, morava Vicente, um cientista muito estranho, que todos diziam que se tratava de um bruxo. Ele era charmoso, pois tinha os cabelos loiros e os olhos azuis, emoldurados com óculos de grau.
Reza a lenda que quando uma pessoa desaparecia misteriosamente era porque ela entrou na casa do cientista. Pois, toda a criatura que penetrava naquela residência, voltava para casa sem memória.
Por isto, todos temiam falar com este famoso pesquisador.
Vários anos se passaram e surgiu a danceteria Amnésia, justamente com o nome da doença de quem perde a memória, bem no local onde o cientista estranho morou.

O Loiro do Cemitério e a Danceteria:
Reza a lenda que quando ocorre um fenômeno, chamado Lua Azul, causos misteriosos podem acontecer. Uma vez, quando isto ocorreu nos anos 90, um loiro entrou na danceteria Amnésia e tirou Daniele para dançar. No final da festa várias pessoas viram os dois saindo juntos.
Mas, pela manhã, Daniele acordou e não lembrava nada do que aconteceu, apenas que tinha bailado com um loiro. Porém, viu que estava nua deitada em cima de um túmulo. Quando ela olhou a foto na lápide viu que se tratava do mesmo homem com quem dançou na noite anterior.
Reza a lenda que este rapaz era o cientista que deixava as pessoas com amnésia quando Curitiba ainda se chamada Vila de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais.

Zumbis da Danceteria

Patrícia era uma jovem sensitiva que nunca gostou de baladas, pois sempre se sentia mal nestes ambientes.
Uma certa noite, ela foi convidada para ir a festa de aniversário de sua amiga Tati, na danceteria Amnésia e, como a moça era sua amiga de infância, não teve como recusar.
Porém, quando Patrícia entrou para dançar na pista, começou a passar mal. Então, parecia que a batida da música soava como a palavra:
- Umbral!
- Umbral!
- Umbral!
Deste jeito, esta moça começou a ver vultos brancos que voavam pelo local.
Mas, outra canção começou e ela teve a impressão de escutar a seguinte palavra repetidamente:
- Purgatório!
- Purgatório!
- Purgatório!
Assim, Patrícia passou a ver somente zumbis, que não tinham nada a ver com as pessoas que estavam presentes e as luzes da danceteria, de repente, sumiram em sua mente.
Após isto, o disque-jóquei trocou de música e a donzela começou a escutar:
-Inferno!
-Inferno!
-Inferno!
Desta maneira, Patrícia começou a sentir um cheiro de enxofre e desmaiou.
Quando ela acordou, estava no hospital e perguntou à enfermeira:
- O que aconteceu?
A profissional de saúde explicou:
- Você ficou em coma, sem explicação aparente, durante quinze dias. Mas, voltou agora.
Então, as amigas de Patrícia vieram visitá-la. Assim, Sílvia mostrou umas fotos e comentou:
- Acho que trocaram os retratos do meu aniversário na Danceteria Amnésia, pois as pessoas parecem zumbis.
- Veja!
Depois de analisar as fotos, Patrícia comentou:
- Eu tenho a certeza de que não trocaram.

Luciana do Rocio Mallon

terça-feira, 17 de janeiro de 2017

poema ruim para uma saudade danada

o que dói mesmo não é a ausência
mas esse inverno nos lábios
toda vez que o teu nome me visita
entre os cantos deste silencio.
o que dói mesmo não é ausência
mas esse tremor nas mãos
quando a viola desacampa no peito
a música dos nossos instantes.
o que dói, no fundo, meu benzinho
é esse horizonte sem caminho
é essa vontade de regressar
aos braços naufragados na saudade
o que dói é esse mormaço nos olhos
esse brejo esgotado no sexo.
são esses cacos de instantes míticos
enterrados em ocas fotografias.
o que dói mesmo não é ausência
mas os poemas paridos na saudade
encharcados pelas lágrimas

destes que um dia foram amantes.

 Sândrio Cândido

RESIGNAÇÃO


Desceu a rua correndo, no sentido do vento
Atrás de uma pipa vadia que o amigo “cortou”
Não pegou e assim mesmo
Sorridente, o moleque, à favela voltou
Lá estava eu, nesse dia, no terreno sem dono
Que meu avô por ciúmes, um dia comprou
Era muito isolado e após a infância lá por anos morei
Meu cachorro era do guia dos barulhos estranhos
De que em noites insones, eu tanto cismei
Hoje fora invadido, tanta gente carente para lá se mudou
E o menino na rua, atrás de uma pipa
Fez o mesmo que eu
Só que o tempo era outro e o menino da rua nem chegou a crescer
Tornou-se traficante, empunhou uma arma
Matou e morreu
Hoje eu faço esta prece
Para que sua alma perdida se reencontre com Deus
E este, lhe posse ensinar - E lhe cure as feridas
Perdoe seus crimes - Que eu sei cometeu
E que lá existam outras pipas
Soltas ao vento, belíssimas
Que nos lembrem a infância
Onde brinquem as crianças
Ele, você e eu.
Paulo Bocks (Livro Poesias d'Bocks)


INDIGENTES


Qual a causa do crime?
De certo apenas: um corpo estendido no chão
Coberto e um carro de polícia com o giroscópio ligado
Em volta a multidão
Muitos, como eu, haviam chegado mais tarde
Todos comentavam o fato
Alguns afirmavam ser crime passional
Marido traído que matara a esposa
Outros que fora um assalto
Idoso que não respeitara o semáforo
Briga, por motivo fútil, entre dois cidadãos ...
Para mim que chegara mais tarde
Apenas um corpo caído no asfalto, coberto
Um carro de polícia em uma grande confusão
Enquanto me afastava pensei
Com a extinção de uma vida, quantos sonhos são perdidos
Qual seria a nossa parcela de culpa
Tragédias todos os dias e as cidades se expandem
E ninguém acendeu uma vela, soube o nome
Ou lembrou de fazer ao menos uma simples oração.


Paulo Bocks (da série Poesias d'Bocks)

domingo, 15 de janeiro de 2017

Que sorte não ser uma mãe Palestina,
Nem uma mãe a Síria, nem uma mãe afegã,
Nem uma mãe curda,
Nem uma mãe do corno de África!
Que sorte não ter que segurar
A morte do meu filho em meus braços...
Aquele pequeno corpo
Que foi morto, sem mais,
De fome, de sede,
Sangrado,
Atravessado, zás, por uma bala!
Que sorte não ter que abraçar o meu filho morto
Enquanto os meus olhos ficam gretados, lentamente,
De dor, de impotência,
De raiva contida!
Que sorte não ter que contornar cada dia
O rosto enxuto e escuro da morte,
E presentear, esconder, ocultar
Os rostos malditos dos meus filhos,
Que nasceram onde nada importam,
Onde nada valem, onde nada são...!
Que sorte, eu repito a cada dia, que sorte,
Enquanto os meus filhos, serenos, dormem a infância merecida.
*

Marisa Peña
‎ as letras
um quebra-cabeças
as sílabas
meio soltas
as palavras
um tanto desconexas
mais um dia nasce
e a poesia
está toda ali.
- é coisa de garimpo

(Rogerio Santos)

João, filho do Brasil


I
“Mataram João!”
“Mataram João, Cláudia! Foi um tiro. Um único e certeiro tiro que tirou a vida do rapaz. Era estudante e estava querendo crescer na vida. Pois é, menina. Tinha um futuro e tanto pela frente.”
“Assassinaram João. E foi na frente da mãe. Meu Deus, que mundo é esse?”
“João foi morto. Você viu o corpo dele? Está lá, Mortinho da Silva, com um tiro na cabeça. Pegaram para arrebentar! Olha, não quero falar nada, mas parece que ele tinha envolvimento com droga.
Estudava? É mesmo? Não sabia. Achei que era vagabundo como o pai.”
“Meu Deus, por quê? Por que não foi comigo? Eu estava aqui, ao lado dele, Pai, e você levou o meu filho. O meu menino!”
“Olha, seu policial, eu estava do outro lado da rua e vi que João só quis proteger a mãe do assalto. Ela estava no portão com o filho, e os dois caras da moto avançaram para ela. Aí ele entrou na frente e já era. João? Conheço desde pequeno. Era, era. Estudante, bom filho e excelente rapaz!”
Naquela manhã, João acordou uma hora mais cedo. Era seu último dia de aula. O rapaz estava ansioso por ser o dia de apresentar o projeto final que lhe renderia o diploma. Desde a infância, dizia à mãe que queria fazer uma faculdade e conseguir um bom emprego para ajudá-la no sustento dos irmãos. “Mãe, você vai ver. Irei retribuir tudo o que você fez por mim até hoje. Pode ter certeza.”
Nervoso, ele vestiu uma calça jeans, comprada na véspera para trazer sorte durante a apresentação, e uma blusa preta social.
Escolhera o melhor traje para o dia que representaria o começo de uma nova etapa em sua vida. Enquanto arrumava os cabelos, o rapaz se lembrou da época em que corria descalço pelas ruas próximas, sempre com “a bola nos pés”, como costumava falar a avó. Só ia para casa quando o sino da igrejinha soava as dez badaladas em conformidade com o relógio. Recolhia a mochila e os tênis e corria para dentro do lar, faminto e desorientado.
Paula Vigneron

do livro: Sete Balas Ao Luar
As vielas e as praças esperam silenciosas a chegada do Outono. Suas árvores agonizantes sob o calor do sol aguardam pacientemente a recompensa. Estou eu, abaixo de suas folhas que caem desordenadamente.Tudo há de ser renovação quando meus pés pisarem as folhas secas espalhadas pelo chão. __ Reggina Moon

vazios


não é o corpo, é a alma que me dói
matei os sonhos e com ele os desejos
e joguei fora as lembranças de um dia.
e assim,
já não escrevo teu corpo
porque as laudas vazias já não são,
e as cheias de ternura deixei do lado esquerdo do meu peito onde os ritmos do silêncio não alcançam.
e hoje
o carmim que me enfeitavam os lábios, já não carimbam desejos
esvaziei-me de esperanças
apagaram-se os sorrisos
já não há brisa nas manhãs
me despedi dos desertos
e sequei os oásis com meu pranto
perdi o encanto pelo mar
e deixei ir o barco vazio de uma espera...
não é o corpo, é minha alma vazia que me dói
Margarida Di

quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

"Quanto a algum escândalo possível que o trabalho possa causar, sem sacudir a poeira das sandálias, que não uso sandálias dessas, sempre tive uma paciência (muito) piedosa com a imbecilidade pra que o tempo do meu corpo não cadenciasse meus dias de luta com noites cheias de calma/pra que no tempo do corpo não viessem cadenciar meus dias de luta as noites cheias de calma."


Mário de Andrade, primeiro prefácio de "Macunaíma, o herói sem nenhum caráter" (1926)

“O tempo está vivendo-me” (Borges)

O tempo vive, impronunciável.
Tu também não o dizes,
Em silêncio, lábio,
Contracanto da destruição.
Vive o silêncio. Escutas?
Não o há. Teus nervos, o tempo
Em mim, som do quanto ressoa
O peito, mesmo calmo, galopa na tarde.
Ruído branco; recebe
Ondas, contingências tonais
Da carne; um silvo;
Arrepia ao teu chamado.
A casa: transparente,
Um hiato intocado.
Respira no tempo,
Intervalo de espelhos.
O poeta me diz. Cego,
O instante me abre
A imagem da tempestade;
Canais de água
E rumor da tua aparição.

Roberta Tostes Daniel


(2012)
Comendo um pastel de carne numa feira livre de domingo
e se tudo falhar vc poderia ir vender
bananas na feira
mas quem tem paciência de ir a feira e comprar bananas
todo mundo sabe q as pessoas andam pela feira sobretudo em busca de pastéis
o pastel é o grande queridinho de toda e qualquer feira livre
por mais q hajam legumes e hortaliças
e quem sabe até possíveis e inumeráveis bugigangas eletrônicas
o pastel é o rei da feira
e vc q apenas escreve poemas e lê alguns outros tbm
não poderia competir com isso
e tampouco fazer os seus incontáveis poemas tão bons e saborosos
como um pastel de carne junto a um caldo de garapa
num feira livre de domingo.

Sérgio Villa Matta


Como quem escreve um último verso sobre a mesa de bilhar dentro de um bar lotado
bebendo mais um gole da sétima cerveja
vc cumprimenta os jogadores de bilhar do mesmo modo q
pessoa saúda whitman num dos seus poemas
vc sabe q cervejas são boas companheiras
e vc fica com o seu copo levantado no ar esperando a tacada final
como se esperasse a definição de um verso q te habita
mas q pelo efeito do álcool ainda não se definiu completamente
e aguarda como vc a sublime tacada final onde a bola 7 deslizará
limpamente pelo carpete verde da mesa de bilhar e diante de olhares incrédulos encontrará a caçapa do fundo
e então todos irão rir e dizer alguns bons palavrões
ao hábil jogador q definiu com maestria esta tacada final
e vc deixará seu copo suspenso no ar até q num átimo
o levará de encontro a boca e beberá triunfalmente o gole final

desta cerveja como quem escreve um último verso sobre uma mesa de bilhar dentro de um bar lotado.

Sérgio Villa Matta
minha sede é da gota d'água que deixa o copo cheio"
**
"não se muda a alma de um lobo
somente com carícias"
**
"o que você faria
por cinco minutos mais
de eternidade?'
**
Que exista amor para tanto pecado
e que em cada canto quântico de cada átomo
caótico e errático seja nosso divino"
**
Aqui na terra. Saiba. Uma flor. Bebe sua lágrima.
E te espera. Descer.
Ou deseja que eu cresça. Até você?"
**
"Viajei o mundo pela única razão. De não
Poder viajar às estrelas"
**
"Um revolucionário. Anarquista. Não pode temer
A revolução. De um coração. Em chamas"
**
Tudo que é agora. Perde o interesse.
Desfaz-se o encanto. Do presente.
Tudo que é momento. Desaparece.
Para meus olhos.
Só o depois. Acontece.
**
"Te beijo. Te beijo. Te beijo.
E então peço. se posso fazer. Uma só. Pergunta:
Meu amor. Funde uma verdade. E seja sincero:
Você acha que valho. Todo esse risco?"
**
Isso é tão. Eu e você.
Morrer de noite. E renascer.
Quando já não haja abraços.
Entardecer. Em despedaços.
E então amanhecer.
**
Jr. Bellé
Trato de Levante

Patuá (2014)


Quando perdi a pessoa com a qual convivia diariamente, senti falta de conversas que tinha; passeios que faziamos juntos; a cumplicidade nos projetos de trabalho e afetivos, o seu grande apoio em tudo que eu fazia. A perda foi abrupta e me afastei de amigos mais antigos, sem perceber que assim o fazia. Porém continuei trabalhando em projetos nos quais todos diriam ser loucura, um passatempo inútil. Mas agora estou colhendo os frutos do que plantei. Não consegui, ainda, ficar feliz com o relativo sucesso, porque a pessoa que lutou comigo por isto já partiu. Minha mãe me acompanhava, mesmo não entendendo bem o que eu fazia. Parece que fiquei preparada pelo luto recente para perdê-la. Sinto mais paz do que tristeza. Para me consolar, dizem: "cumpriu sua missão". Concordo inteiramente. Uma pessoa de 80 anos já viveu muito, e bem, desfrutando do que achava ser a plenitude da existência. Deixar as outras pessoas felizes (ou confortáveis) com seu esforço, ensinar aqueles com os quais convivia a serem alegres, pacientes e a terem persistência nos sonhos e esperança nos fracassos. Não ter luxo nenhum, apesar de poder ter tudo, porque havia trabalhado o suficiente para dar a volta ao mundo quantas vezes desejasse. Os japoneses usam a expressão yasetai - definhou - quando parece que alguém não quer lutar mais pela vida. Acho que ela lutou - até para não viver demais, doente, incomodando os outros. Foi indo lentamente, só não via quem era cego. Quando estava no hospital, perguntei a ela se era correto dizer "Yoi otoshi wo("Feliz Ano Novo" ) no dia 31 de dezembro e ela respondeu: não, se diz "yoi otoshi wo mukaete kudasai". Há tanto a lembrar sobre memórias antigas, embora nos últimos tempos ela estivesse mais adaptada à cultura caiçara. São poucos os que conseguem que o legado cultural seja transmitido de uma geração para a outra. Já não sou adepta das tradições reinventadas dos imigrantes japoneses porque estudei para ter uma visão crítica sobre questões de identidade. Não sei qual será o reflexo destas memórias tão particulares para a minha arte. Mas sei que sim, admiro estas pessoas que se foram, e ensinaram que o verdadeiro sentido da vida é a alegria da convivência (o que não raro implica atrito) não só com a família: também com os vizinhos, as pessoas mais simples e os poderosos da comunidade na qual se habita.

Marilia Kubota

alone/enola


a solidão
é o avião
que leva
a bomba
atômica

Bárbara Lia

De todas as lógicas uma se faz a mais terrível
É a lógica dos parvos, simplória e estúpida
Que procura na loucura das multidões-manadas
Destes nossos medonhos e apressados dias
Construir verdades de hospício
Como provar que um cavalo é um pato

E que os espelhos dos homens são os jumentos

Fernando Nandé

"ANTIELEGIA Nº. 1


O dia e a noite são ligados pelo prazer
E pelas ondas do ar
A vida e a morte são ligadas pelas flores
E pelos túneis futuros
Deus e o demônio são ligados pelo homem."

Murilo Mendes. O Menino Experimental. Antologia. Os Quatro Elementos (1935) Summus Editorial. p.77. 1979.
corro contra o vento
vejo um cavalo
que se prepara pra atravessar a rua
paro
olho pro cavalo
enquanto ele me olha
dois homens passam
um risco
entre nós
e gritam “gostosa”
eu quase caio
o cavalo se assusta
e nunca mais volta
vou com ele
ser acrobata e não gostosa
catarata e não gostosa
dálmata e não gostosa
geneticista e não gostosa
gaivota e não gostosa
pateta e não gostosa
otimista e não gostosa
passeata e não gostosa
ultravioleta e não gostosa
violonista e não gostosa
poeta e não gostosa
ser cavalo
além de gostosa

Regina Azevedo


poema publicado no site mallarmargens

terça-feira, 10 de janeiro de 2017

O problema do brasileiro é pensar que a solução é ser menos brasileiro. Grave erro. Cesar Lattes só detectou a sub-partícula méson-pi quando, em uma ação típica do jeitinho brasileiro, alterou por conta própria a emulsão da chapa fotográfica. Quem ganhou o Nobel foi o chefe da equipe, mas isso é outra história. Ganhamos cinco títulos mundiais no futebol jogando, ao menos em alguns momentos cruciais, de um modo que só o brasileiro sabe jogar. Quando atingimos musicalmente o mundo, foi com samba (Carmen Miranda) e Bossa Nova. E o que dizer da arquitetura de Niemeyer? Segundo o próprio, ela é baseada nas curvas do Rio de Janeiro.
O caminho, portanto, é sermos mais brasileiros, não menos.



 Humberto Cosentine

Ler no braço toda uma história - as placas de gordura , as pelancas, as casquinhas do ressecamento; tudo marcado pelas vírgulas das cicatrizes;cada letra com o devido pingo de sarna.Um pergaminho de deterioração, degeneração a espera do ponto Final.

O olhar perdia-se no opaco enredo de u'a estória de desenganos.

Naquele café esfumaçado bebia a si próprio , a cada gole ,enquanto o tempo passava .Impreciso caminhar."Que horas 'serão' , será noite ou dia ?Não importava mais, sua juventude se fechara e só restara uma lâmina de luz cortando os pés da porta.

Chegou em sua sórdida morada embora não tenha lembrança de haver caminhado até lá .Pôs-se a descamar-se de suas roupas e a medida que se aliviava delas , não encontrava sinal de si.A sombra que o perseguia , perseguia o sobretudo que ora o cobre de seu derradeiro inverno .

Agora entre o pó e as teias de seu quarto tornara-se o vulto translúcido de seu trincado espelho.


Wilson Roberto Nogueira
"Quanto mais inteligente ele é, mais sofrimento ele tem. O homem que é dotado de inteligência sofre mais do que todos."

— Arthur Schopenhauer

diário de uma feminista-bland.

ao primeiro sinal de machismo alheio, independentemente do gênero desse ser humano, e caso não queira entrar em um embate com ele, apenas se afaste. sim, afaste-se de machistas porque essas pessoas são tóxicas. são vampiros... não perca seu tempo com sentimento de vitimização, o qual mais me parece uma maneira efetiva e prática de auto-ódio. se está sem força, busque sempre a presença de seres humanos mais transparentes, fortalecidos, que já se libertaram e/ou se engajaram na causa contra o machismo ... no limite, aqueles que estão tentando ao menos.

de qualquer maneira, só não me diga que não percebeu os sinais machistas em alguém. porque se olhar com a razão verá os traços bipolares nas entrelinhas indecisas que são inerentes aos machistas ...
partindo do pressuposto da exclusão social pré-estabelecida, o feminismo é um movimento que visa a tentativa de inclusão social igualitária para os gêneros; com base nesse conceito, torna-se falacioso dizer que o movimento exclui os homens porque por si o projeto busca resoluções que, de algum modo, obstrui ainda mais negativamente a vida das mulheres se comparadas aos homens. mais nada. e isso não deve doer em ninguém.


a literatura é a-gênero. então, eu pergunto, por que ainda em janeiro de 2017 se vê alguns encontros poéticos onde a programação é formada e constituída somente por homens como convidados para participação, digo, como atração do evento? são as "afinidades" ou onde foi que eu me perdi?


Adriana Zapparoli

5 de janeiro às 14:23 · São Paulo ·

Estevão Antonio Sousa

Do carnaval à quarta-feira de cinzas,
a certeza expressa em alegria fugaz
surge de lições baseadas em quimeras.
E a vida segue feito nuvens ao vento,

diamantes vistos são cristais opacos.


- das pérolas em rótulas as patelas que fixam diamantes. nossas caminhadas humanas , ás vezes, são rotas púrpuras ...

Adriana Zapparoli

"Você,sair para gastar um dinheiro virtual,Um Dinheiro que Você Não Tem e ainda ficará Devendo Mais além do que Gastar?Cartão de Crédito (!?).Você tem café por que sair para um café em um Café ?"Não é só o café Babka, são as vozes , as Pessoas.Vida .compartilhar a fumaça de se estar vivo.Sentir se inspirado a continuar a viver .


Wilson Roberto Nogueira

Mendigos Talentosos Que Não Apareceram em Redes Sociais

  

Este ano o Brasil inteiro se emocionou com a história do mendigo-gato, um rapaz de Curitiba, que virou morador de rua por causa da dependência química. Mas, uma turista ficou encantada com a beleza deste homem e para atender a um pedido dele, tirou uma foto, que foi compartilhada na Internet e isto ajudou a sua família a encontrá-lo. Não tardou para os meios de comunicação descobrir que ele tinha sido modelo. Assim, o moço recebeu ajuda, foi internado numa clínica, recuperou-se e agora tem até namorada.
A atitude da moça que tirou foto do morador de rua foi válida porque ajudou a um ser humano.
Mas, esta história lembrou-me do causo sobre uma outra moradora de rua que, pelo que me falaram, não teve um final feliz.
Nos anos 90, também na capital paranaense, havia uma mendiga que escrevia poesias entre as ruas XV de Novembro e a Mariano Torres, em frente ao Mercadorama. Uma vez, vi esta senhora rabiscando uns papéis e pedi para ler. Assim, achei seus poemas muito bons e ela vendeu para mim, um livrinho feito à mão e depois disse que seu nome era Izabel. Até que um certo dia, esta moça ganhou uma máquina de escrever, de um morador de um dos prédios, e passou a datilografar seus textos neste aparelho.
Todos os dias, eu passava pela aquela rua porque tinha aulas na reitoria da UFPR. O interessante é que eu nunca vi vestígios de bebida, ou, drogas nesta mendiga. Pois, ela não tinha cheiro de álcool e estava sempre sóbria.
Na época com o objetivo de ajudá-la escrevi cartas para a mídia local, mas nunca tive resposta. Também, telefonei para o resgate social da prefeitura. Neste caso, a “van” que recolhe os mendigos chegou, porém Izabel não quis embarcar. Depois eu perguntei o porquê da sua atitude e ela me confessou que há moradores de rua que são agressivos, com colegas, nos próprios albergues.
O problema é que naquele tempo, a Internet era restrita somente a uma pequena parcela da população e confesso que, nos anos 90, eu nem sabia ligar um computador.
Algum tempo depois, esta senhora desapareceu das ruas. Infelizmente, a mensagem que recebi é que Izabel faleceu, mas não consegui comprovar esta notícia ainda.
Se esta febre de redes sociais fosse naquela época, as pessoas poderiam ajudar a poetisa com mais eficácia.
Este causo lembrou-me de uma outra história que foi batizada de: Ana, a Mulher de Branco de Curitiba. Trata-se da trajetória de uma artesã que, nos anos 70, vivia nas ruas, mas que só se vestia com roupas claras. Esta senhora fazia um artesanato lindíssimo e digno de ser admirado. Apesar de ser moradora de rua, ela não tinha vestígios de bebida e muito menos de droga. O interessante é que ela chegava aos locais, principalmente, nos pontos de ônibus e falava:
- Gente, preciso de dinheiro para fazer o meu artesanato.
- Não tenho filhos, as doações são somente para materiais que preciso para confeccionar a minha Arte.
Nos anos 80, ela desapareceu e a notícia que tenho é que ela foi assassinada por uma gangue de playboys.
Hoje em dia, é fácil ajudar a um morador de rua que seja talentoso. Basta fotografar seu rosto, sua arte e colocá-los na Internet, que ele corre a sorte de reencontrar a sua família e de ter seu talento reconhecido, privilégios que Ana e Izabel, infelizmente, não tiveram.

Luciana do Rocio Mallon


A escrita chama. O fel em brasa. A escrita em chama. Na garganta o sexo é objecto sagrado. Aguardam-me as várias mortes que a um corpo numeroso pertencem. Sobre a mesa os papeis à polpa dos dedos começam a deformar o lábio superior.
Erguida sobre a testa, a escrita continua demasiado e larga. Um documento caducado.
Valerá a pena continuar? Nunca fui desertora, embora as pregas da carne implorem à pausa.
Escrever contra a parede. A ideia mora-me, e sob todas as aparências de sanidade existe um ultimato constante que ascende, implacavelmente.
A escrita é a minha única arma. Em todos as horas a captura. Verdade indefinível, mastigar e engolir até à borda, dactilografar. Letra a letra, roliça e ademane sob aparências, a vulva é um ultimato, o escuro, a tempestade, o fogo que não acende cigarro, a detonação. O sol de um mundo sanguinolento que arde, desobedece, contém hostilidade e uma transpiração pesada.


 Luisa Demétrio


AÉREA-VELOCIDADE


Tudo o que a gente pensa,
não dá para escrever.
Tudo o que a gente escreve,
não dá para falar.
É preciso escrever,
para se caber maior.
Mas é fundamental
Voar,
para pensar.
*
Paula Valéria Andrade - 2008
Poema no e-book da Antologia Poética "Saciedade dos Poetas Vivos"


risonho é o teu altaneiro sonho
expugnado foi o imaginado ideal
interroga a ti tua morada final
na mordida do ósculo ígneo da calçada
no leal olhar do luar a prateada pedra risonha
mera gota de sangue seco na cicatriz da cidade.


Wilson Roberto Nogueira
Circundo os arredores de minhas dores
- Como um ser meu duplo de repente olhando-me de fora
E súbito elas se me afiguram mesquinhas
E pronto elas se apequenam, restituídas em sua forma talvez real.
¿O que resistiria ao aço de um juízo experimentado na forja do próprio juízo?
*

Arzírio .Cardoso

Desabafo da Kombi



Sou uma Kombi, um veículo a motor
Que já presenciou histórias de amor
E promessas de esperança e felicidade,
Que se transformaram em realidade!

Mas, reza a lenda que neste ano
Através de um triste plano
Debaixo do molhado pano

Minha figura irá desaparecer
Isso causa depressão no meu ser!
Mas, deixarei saudades nas pessoas
Das caronas nas chuvas e garoas!

Sempre fui mais do que uma simples van...
Muito mais do que uma vaidosa perua
Eu acordava vários seres pela manhã
Quando aparecia na esburacada rua!

Já fui a fase REM do homem do sonho
E musa do tio da pamonha cheirosa
Que acabava com um choro tristonho
Através da música maravilhosa!

Transportei hippies, ciganos e atores
Num teatro móvel e itinerante!
Já fui pintada de todas as cores
Quando virei um cenário elegante!

Já fui altar de casamento
Com todo o sentimento!
Um automóvel assim, não acaba com o tempo

Já fui Kombi escolar
Com alma infantil
Pintei em todo o lugar
O mundo de rosa e anil!

Em Catanduvas, virei biblioteca
No projeto: Viajando Pela Leitura
Li contos para a menina sapeca,
Que me retribuiu com ternura!

Eu já fui igreja e templo
Agora, minha produção vai se acabar
Em 2013, em dezembro
Mas, minha magia ainda durará no ar.

Luciana do Rocio Mallon
Alguns compenetrados, outros vagando pelos quadrantes da sala a consumir o tempo em lenta lenta agonia ou olvidando por completo os insondáveis caminhos das matérias .Outras personas a paisagem do teatro interpretando?Interpretando saberes e seriedades; outras profissionais catando códigos na busca por peneirar pedras preciosas de algum edital.Mais adiante zanzam a procura do que desconhecem, apenas flanando nas veias expostas de cidades imaginárias .Naquele canto alí , a natureza morta dos gestuais de sapiência dos abancados."Oito horas a Biblioteca fechará suas portas . "Os livros ficaram presos e dentro deles leitores fantasmas.Essa catedral não recebe sem tetos e suas correntes de pedras.


Wilson Roberto Nogueira.2009/19/09
Adriana Zapparoli

não me concentro em julgar a pessoa. o que eu devo me perguntar, sempre na terceira pessoa, é: - dri, você ri com essa pessoa? - você se sente bem com essa pessoa aí, dri? ...

sou assim. os outros não me interessam como selecionam.

Lenda da Hermafrodita de Curitiba


                     
Na cidade de Curitiba, no século dezenove, havia um casal chamado José e Ana, que tinha o sonho de ter filhos gêmeos. Para realizar este sonho, a mulher foi até uma “curandeira” e falou:
- Meu sonho é ter um casal de gêmeos.
Deste jeito a feiticeira disse:
- Então você precisa fazer a seguinte simpatia:
- Consiga: uma vela azul e rosa, um punhado de feijão, um punhado de lentilha e um prato virgem.
- Numa noite de Lua Nova, pegue a velas rosa e azul e coloque-as num prato virgem. Mas, não deixe elas se grudarem. Depois coloque metade de lentilha e metade de feijão na frente das velas.
Assim, Ana tentou fazer a magia, mas como não achou lentilhas fez o ritual só com grãos de feijão. Porém, ela não reparou que as velas rosa e azul se grudaram.
Nove meses depois, nasceu um bebê. Porém, a parteira notou que a criança tinha os dois órgãos sexuais e avisou:
- Dona Ana, o bebê é saudável, mas tem um problema: ele tem os dois sexos.
A jovem exclamou:
- Como assim?!                                                
- Não são gêmeos?!
- Tem dois sexos?!                          
A parteira explicou:
- A criança é hermafrodita, pois é menino e menina ao mesmo tempo.
Deste jeito, a idosa mostrou o bebê nu à mulher, que se assustou e falou:
- Assim, precisamos de um nome que sirva tanto para homem quanto para mulher...
- Hum...
- O nome da criança será Darci.
- Com relação ás roupas, nada de azul e nada rosa. Pois, o bebê vestirá só cores neutras: bege, amarelo, branco, etc.
Então, a dona da casa mandou chamar a curandeira e pediu explicações:
- Eu paguei caro por uma simpatia que me dessem gêmeos de sexos diferentes: um menino e uma menina. Porém, fiquei grávida de um hermafrodita.
- O que deu errado?
A bruxa explicou:
- A senhora não fez nada fora das normas?
- Será que as velas grudaram?
- Usou feijão e lentilha?
Ana comentou:
- Bem, não achei lentilha, por isto só usei feijão.
- E eu acho que as velas grudaram uma na outra, sim.
A feiticeira comentou:
- Então, foi isto!
- Quando falta lentilha e as velhas se grudam, nasce uma criança hermafrodita.
A nova mãe se conformou com a explicação. Desta maneira, ela passou a mentir que ganhou um casal de gêmeos para a vizinhança. Por isto, ás vezes, ela vestia o bebê de menino, e, em outros momentos vestia o bebê de menina. Porém, as crianças nunca eram vistas juntas.
Darci cresceu sempre pensando que deveria usar roupas masculinas e femininas em dias alternados para não sofrer preconceito. Por isto, sua mãe sempre proibia esta criatura de freqüentar festas e de ter amigos.
Uma certa noite, este ser colocou sonífero na comida dos seus pais para poder ir a um baile. Desta maneira, Darci colocou seu melhor vestido e foi para o evento. Porém, três homens acharam este andrógeno bonito e começaram a assediá-lo. Por isto, Darci saiu da festa, mas os rapazes foram atrás. Até que numa rua deserta decidiram abusar da pobre criatura. Porém, os homens se assustaram ao ver que aquele ser tinha os dois sexos, saíram correndo e espalharam o boato pela cidade.
Assim, a casa de Darci foi alvo de pichação e protestos como:
- Fora, Darci, pois gente com dois sexos é coisa do diabo!
O preconceito foi tanto que, numa noite, Darci saiu vestido com uma metade do corpo de homem e outra metade do corpo de mulher, com uma cruz e um machado nas mãos, porém com uma arma na cintura. Deste jeito, este ser foi até a esquina de uma rua e se suicidou com um tiro no coração.
Por coincidência, a rua onde aconteceu esta tragédia, hoje, chama-se Cruz Machado para homenagear um escritor com este nome.
Depois da morte de Darci pessoas afirmaram ver, nesta rua, uma criatura, que metade tem roupa de homem e outra metade possui vestes de mulher. Reza a lenda que se você deixar, uma calcinha e uma cueca na esquina da Rua Cruz Machado, o espírito de Darci realiza o seu pedido.

Luciana do Rocio Mallon
Comprara livros .Lia ?Eram vidas que o mantinham em pé.De si só vidas dos outros.Pensamentos-velas e idéias âncoras munição para o espírito.Até o jogarem no arquivo morto da repartição.


Wilson Roberto Nogueira

domingo, 8 de janeiro de 2017

Uma poesia só...
(nos braços de Miriam...)
... no todo,
um aroma pleno...
a noite traz com o sereno
o momento em que meu coração
poderá inserir-se num céu...
no azul de seu lindo olhar...
... resiliente,
o horizonte mantém o sol...
ele quer clarejar seus lindos olhos azuis,
para extrair deles a confirmação da beleza...
não aquela que aporta em qualquer cais,
mas sim, aquela que se projeta nos risos,
aquela que desmorona os ais...
aquela que convida para o amor...
... que a madrugada chegue e aconchegue-nos
num lugar onde o que se faz luzir, não seja luz qualquer...
... segredos?
Não existem mais...
medos são apenas dizeres comuns,
que se ocultam.
... no todo,
um reencontro...
um desejo de ver sua figura mulher
colada a mim...
como se fossemos uma poesia só...
josemir(aolongo...)


Sérgio Villa Matta

Só é bom se sangrar
como carne no açougue
ele me disse isso:
só é bom se sangrar.
literatura só é boa se sangrar, entende.
o troço tem que doer.
tem q te fazer chegar até as vísceras
tem q te fazer estragos no corpo
tem q te dar cicatrizes.
eu praticava isso todos os dias
um mantra recitado ao avesso
uma tatuagem em brasa.
socos e pontapés regados a vodca
e vômitos ao ar livre.
escrever é colocar a dor na ponta da palavra
é perfurar a pele com a tesoura.
só é bom se sangrar, lembre-se disso
ele me disse
mais ou menos como comer carne crua
e ainda viva.
deve-se comer a alma com farofa, meu amor
toda palavra é um tapa, um soco, uma porrada.





Ieda Godoy

Que mais posso sentir agora senão pavor? O mundo gira há tanto, tanto tempo, e eu aqui, essa areiazinha. Caio para dentro de mim nesse segundo. Caio num salto sombrio, numa morte lenta e pequena. Tão pequena quanto insignificante. Penso nos meus. E prossigo mesmo assim, porque sou mais egoísta que o centro de qualquer coisa. Preciso comer uma cebola crua, com casca, pra ver se entendo alguma coisa dessa vida antes de partir.

(capítulo 1 de um romance suicida ).

SLOW-MOTION

às vezes chegamos perto do abismo
rodeamos o inferno
chegamos à conclusão de que nada mais vale,
de que o passado foi um saco de merda
& o futuro será uma mina explodindo em slow-motion
debaixo do pé esquerdo
aquele negócio de que o amor tudo suporta,
tudo espera,
não passou de um sonho apostólico de paulo,
& a maior virtude do ser humano é sentir saudade
amor é um perigo,
é uma faca afiada
nas nossas mãos de menores infratores da vida



 O paranaense Felipe Pauluk, em mallarmargens:

A FOTO


A foto é o
prolongamento
do meu olhar
a sua memória
o meu buscar
além
de mim
na imagem
que me foge
o que se perderia
ao longe
se não fosse
a ilusão
de eternidade
guardada
congelada
ao clique
do meu dedo.

- por JL Semeador de Poesias, o José Luiz de Sousa Santos, dia desses, fotografando na Lapa –

sábado, 7 de janeiro de 2017


BOCA A BOCA

Sandra Fonseca


Palavra
Enquanto escorre
Suor e seiva
Deita aromas
Fagulhas, sedas
Além do nome.
Compõe
Um corpo
Palavra assanha
Revira o olho
Acende a lenha
Gesto passional.
Na rigidez do verso
Languidez de ventre
Frutos e fomes
Lavra o caminho
Palavra senda
Abrindo músculos
Tecendo letras.
Febril
Atenta, de cor
O canto profano
Adorna a boca
No boca-a-boca
Palavra fala
Se estende ao corpo
E se demora.
Se estende larga
Enquanto morre
Nas omoplatas
E na garganta
Palavra arranca
Estaca fere
O corpo adentro

A alma afora.
Ao entrar na casa vazia, abro a porta para as saudades. Encontro felicidades acumuladas nos cômodos abarrotados de lembranças, JDamasio
Pegue seu casaco colorido. ,
Não faz sentido você parar por aí.
Abra janela, escancare a porta
Saia!
Vá viver e sorrir.
Plante uma árvore frondosa
Plante cravos, plante rosas.
Plante sorrisos também.
Você é livre, irá ficar muito bem.
Não deixe que os pesadelos da vida te consuma.
Pense em você!
Se assuma.
Se não te aceitarem...
Mande a merda.
Faça do seu mundo um mundo livre.
Corra riscos,
Não entre em crise.
Faça tudo para ser feliz.
E quando um dia ou outro for escuro.
Fale, cante,ame.
Salte o muro das desilusões,
Seja importante.
Lute um pouco neste mundo louco.

Arlete Klens

como fazer poesia

como fazer poesia
se o prefeito cobre de tela verde
os mendigos?
como fazer poesia
se os novos pixos
são facistas?
se o amor erra, erra
até esquecer a mirada
se as pulgas pulam sobre o almaço
sem encontrar sangue
se o palco da vida
virou picadeiro
e se fechou o circo
como se faz poesia?


Leandro Rafael Perez
"Voo sobre a montanha virada ao mar
Ao embalar da brisa marítima de um frio cristal
Sou criatura que carrega a solidão
Pela estranheza com que me visto
Pelas malhas da invisibilidade com que me teço
Perdi o norte perdi a sorte
Já não sei a minha verdadeira idade
Sou pura castidade
Que armadilha me cortou os membros
Que espada me derrubou as asas
Da minha essência da minha sã demência
Da sublime sensualidade
Onde esqueci o meu corpo que se acendia
Em ímpeto voraz
Que me justificava o respirar
Onde se escondeu o amor
Que era a minha razão de ficar
Feito toque cálido na minha pele
Que me fechava os olhos
E me transportava para o mundo divindade
Ah vulcão que me ameaças de extinção
Sem companheiro de armas
Lembra-te como o divino é justo
E a vida uma dádiva
Mantem vulcão então acesa a lava
Não me empurres milagre da perpetuidade
Para uma apatia cortante
Uma seriedade amorfa
Sem riso interior constante
Serei casta no sentir
No abraçar nas ações
Mas dá-me o alimento o vício
De um amor de enleios
De entusiasmo sem freios! "

Maria Oliveira

UM CASO DE ESPANTOSA INSIGNIFICÂNCIA


Nunca na minha vida tive problemas com seres imaginários. Mesmo porque, delatei-os todos ao meu psicanalista.
Até descobrir que ele era produto, também, de minha imaginação. O que me irrita é o fato, que considero uma traição, de que ele diz o contrário. De que eu sou o fruto da imaginação dele. Ledo engano, minha cara abstração. O consultório, a rua, o bairro sequer existem. Eu mesmo fui à região e comprovei. Vi uma funerária azul, uma praça e um ponto de ônibus. E nunca ouviram falar em clínica ou consultório por ali.
Volto agora soberbo ao lugar de onde eu vim. Mas assalta-me uma dúvida: de onde eu vim?

[André Ricardo Aguiar ]
por atos e abutres deste porte
o dia de amanhã contém a morte
mas na paixão exata e decidida
a noite de amanhã carrega a vida."

RR
Fragmento:

O cão meio que me acompanhou o tempo todo. Bebeu água da chuva; se enchafurdou na lama à beira rio; desapareceu no capim alto para reaparecer em seguida ainda mais cão; atravessou a movimentada avenida ziguezagueando entre os carros para desespero deste meu coração que não queria cão morto espatifado no asfalto. Foi, voltou fiel, como velho amigo de novo encontrado, e nem me deu tempo de pensar direito o que fazer com o inusitado de sua vinda. Perto do fim do caminho, aproximou-se um pouco mais, cheirou e lambeu-me as mãos em singelo gesto, mas não foi a saliva grossa e quente, nem o balançar contente da cauda, que me atiraram a flecha no para sempre cativo de uma lembrança: foram os olhos de um amarelo vivo, de um amarelo terno e vivo, quase criança de puro sorriso, que me trouxeram para casa com esse gosto de muita graça e esse pensamento que não passa, de que havia um Jesus Cristinho muito sorrateiro andando pelos olhos dele....

Lazara Papandrea

TEMPO DE EXÉQUIAS


Estamos cevando a terra
bárbara: aprendendo
a ceifar.
Dia após dia lava-se
o chão para as novas exéquias.
Lava-se a lágrima.
Dia após dia
aprendendo a morrer;
aprendendo a esquece o coração
no armário.
(E os novos enterros
com as flores de ontem).
Virá o tempo
de agradecer os urubus.
SALGADO MARANHÃO

(Do livro "A Sagração dos Lobos).
quanto de impossível eu era.
quanto de amor eu carreguei.
quanta fera, quanta fera.
eu sei."

RR

Retrato Social



A folha de jornal que cobria o rosto do menino negro assassinado na rua, estampava na capa a foto de outro menino negro morto em outra rua no dia anterior, que tinha o rosto coberto com outra folha de jornal com outra foto... jd

O Enaltecer
Bendizer aos céus
todo o encantamento
que existe entre nós.
Os nós que foram
desatados através
dos tempos.
Seu olhar de maresia,
coração pleno de amor.
Estar ávido de amor...
Plenitude! Plenitude!

Iracema Alvarenga

Nome de Flor


Dona Margarida, minha vizinha, tem nome de flor, mas sua lida mesmo era com os bichos. Não foram poucas às vezes que a vi, fora de hora, dando comida e água aos cachorros de rua nos terrenos baldios. Falava com os vira-latas como se fossem da família. No seu quintal, não cabia mais nenhum animal. Quando a encontrava, nunca estava sozinha, sempre uma matilha a acompanhava. Dois deles estavam sempre presentes: Dodô e Dodó. A diferença ficava por conta do acento nos nomes, era o focinho de um, o rabo do outro. Irmãos gêmeos. Dodô era mais sapeca.
Tem mais de meses que Dona Margarida adoeceu, foi compulsoriamente levada para a casa de um filho em outra cidade. Agora, os safados pensam que sou caridoso igual a ela. Só porque me viram conversando com dona Margarida, imaginam que gosto deles! Cachorrada pulguenta!!!
Hoje, às três da manhã, estranhei novamente, pois faz mais de uma semana que Dodô não aparece pra comer a ração e tomar água fresca que sirvo no terreno baldio. Logo agora, comprei o pó anti-pulga!. Perguntei ao Dodó do paradeiro do seu irmão, ele não me respondeu, mas abaixou a cabeça.
JDamasio rascunho


RASTROS


Reggina Moon

E a vida se mistura aos livros antigos
e já não sei quais foram as folhas
que se perderam...
Um rastro de memória permanece
e os capítulos felizes
possuem uma marca sublinhada.
As imagens me sorriem
acenando um adeus,
mas ainda tenho o futuro
e as suas promessas lindas

nas quais eu tento crer.
esse traço magoado deixa um rastro de pólvora, tem pouco alento pra se esconder do vazio e do descaso, tem um berço de abismo balançando sob as cabeças, a frieza me corta em pedacinhos enquanto escuto o rastro de pólvora chiando, será que consigo esboçar um sorriso antes da explosão?

Rita Medusa
Mais vidas para o aprendizado.
Eu às vezes fico comigo pensando
Quantas perguntas existem ainda para mim sem respostas
Quando eu a noite olho para o infinito cheio de estrelas
Quanta coisa em meu pensamento nesta hora brota
Quando vejo uma favela
Sei muito bem que lá existe gente boa
Quantas crianças convivendo junto com a maldade
Mas eu sei que talvez, não estejam lá á toa
Quantas pessoas enganando o próximo
Mas quantas pessoas também a procura de crescimento
Quantos políticos mal intencionados
São tantas perguntas que me faço, mas sei que ainda estou muito longe do entendimento
Por isto eu peço á Deus
Que de algumas vidas ainda para este ser
Porque se eu morrer hoje e não mais voltar

Muita coisa deixarei de fazer.
Luiz Carlos Brizola
"Em F. amo as expressões equilibradas, a habilidade em elaborar enredos riquíssimos para descrever pequenos acontecimentos abalando assim a estreiteza dos cotidianos, emprestando luz ao fosco ao embrutecido. E quando vejo a sua boca dizendo sobre a vida, me orgulho de pertencer àquele universo, me alegra saber que os toques daquelas mão muitas vezes vêm em direção ao meu corpo e que encontra, F como um todo, conforto e talvez júbilo também em como eu nos exerço. (...) Em F amo o discurso do corpo que frequenta o meu, antes, que harmoniza com o meu com delicadeza singela, que revela o encanto das melodias simples e repouso num inteligível que me faz sempre bem."


Trecho do conto "?Escaleno" de Luci Collin in: Geração 90: os transgressores (org.) Nelson de Oliveira.
Sensa(tua)tez
meus olhos
te contam
o que
nossos lábios
já sabem
o que
nossos rostos
já sentiram
um toque
um arrepio
de cada tez
de cada
corpo uma
lembrança
que já não
nos cabe
de uma só
vez
Chris Herrmann