quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

Galiza:


teus velhos paços de granito,
tua pompa de fidalgo encanecido,
o lamento longo de tuas gaitas tristes
e o nome de tuas ruas
(Rua das Fontinhas, Ruela De Sae se Podes, Rua da Amargura...)
me fizeram recordar
que a vida não é lida
nem Ilíada
mas velha cantiga de amigo,
dorida,
sussurrada a um ouvido machucado
num fast-food em Vigo.
Hoje eu sei que foi aí
que minha língua primeiro se soltou.
Hoje eu sei que posso desistir
sem me lançar ao mar (que será sempre de Portugal,
teu filho mais ingrato).
Galiza, triste nai,
aprendi que saudade
é um jeito de voltar sozinho
depois que se esteve acompanhado.
Hoje, neste cabo, que já foi o fim do mundo,
choro todas as mágoas dos emigrados
galegos, sírios, haitianos...
Choro tudo,
pois agora eu sei,
como uma libertação,
que o hábito de sofrer,
(que tanto me diverte),
nasceu em tuas rias
e nos sinos roucos
de teus desolados campanários.

Otto Leopoldo Winck

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