sábado, 7 de janeiro de 2017

Fragmento:

O cão meio que me acompanhou o tempo todo. Bebeu água da chuva; se enchafurdou na lama à beira rio; desapareceu no capim alto para reaparecer em seguida ainda mais cão; atravessou a movimentada avenida ziguezagueando entre os carros para desespero deste meu coração que não queria cão morto espatifado no asfalto. Foi, voltou fiel, como velho amigo de novo encontrado, e nem me deu tempo de pensar direito o que fazer com o inusitado de sua vinda. Perto do fim do caminho, aproximou-se um pouco mais, cheirou e lambeu-me as mãos em singelo gesto, mas não foi a saliva grossa e quente, nem o balançar contente da cauda, que me atiraram a flecha no para sempre cativo de uma lembrança: foram os olhos de um amarelo vivo, de um amarelo terno e vivo, quase criança de puro sorriso, que me trouxeram para casa com esse gosto de muita graça e esse pensamento que não passa, de que havia um Jesus Cristinho muito sorrateiro andando pelos olhos dele....

Lazara Papandrea

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