Fragmento:
O cão meio que me acompanhou o tempo todo. Bebeu água da
chuva; se enchafurdou na lama à beira rio; desapareceu no capim alto para
reaparecer em seguida ainda mais cão; atravessou a movimentada avenida
ziguezagueando entre os carros para desespero deste meu coração que não queria
cão morto espatifado no asfalto. Foi, voltou fiel, como velho amigo de novo
encontrado, e nem me deu tempo de pensar direito o que fazer com o inusitado de
sua vinda. Perto do fim do caminho, aproximou-se um pouco mais, cheirou e
lambeu-me as mãos em singelo gesto, mas não foi a saliva grossa e quente, nem o
balançar contente da cauda, que me atiraram a flecha no para sempre cativo de
uma lembrança: foram os olhos de um amarelo vivo, de um amarelo terno e vivo, quase
criança de puro sorriso, que me trouxeram para casa com esse gosto de muita
graça e esse pensamento que não passa, de que havia um Jesus Cristinho muito
sorrateiro andando pelos olhos dele....
Lazara Papandrea
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