A menina veste a boneca. Trouxe duas fraldas, um biquíni, do
qual ela logo desiste por considerá - lo muito largo. Trouxe ainda o arco para
o cabelo, uma toalha, pomada para assaduras e uma papa verde, que me explica,
detalhadamente, ser de ervilha, leve, própria para o verão. Por instantes
preciosos capturo o seu mundo de dedicação magnífica e trágica, mas ela ainda
não sabe a tragicidade. Preparam-na para a maternidade aos nove anos. Aos nove,
quase meio século atrás, chutava eu bolas de meia na trave improvisada com
bambus. É grande o meu espanto que meninas ainda embalem seus filhos
imaginários.
Na hora da foto o xis. Alguém grita : xis pênis.
Ela, agora fotógrafa, paralisa o instante, quer saber o que
é pênis. Em uníssono umas três mulheres gritam novamente : uma marca de pasta
de dentes!
Dentes brancos sorriso perfeito, ilusão perfeita, como na
propaganda.
Antes do clic, entretanto, o longo suspiro:
- acho que já ouvi sobre isso na aula de ciências!
Quem sabe nem tudo esteja perdido! Agora quem suspira
profundamente sou eu.
Lázara Papandrea
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