Este ano o Brasil inteiro se emocionou com a história do
mendigo-gato, um rapaz de Curitiba, que virou morador de rua por causa da
dependência química. Mas, uma turista ficou encantada com a beleza deste homem
e para atender a um pedido dele, tirou uma foto, que foi compartilhada na
Internet e isto ajudou a sua família a encontrá-lo. Não tardou para os meios de
comunicação descobrir que ele tinha sido modelo. Assim, o moço recebeu ajuda,
foi internado numa clínica, recuperou-se e agora tem até namorada.
A atitude da moça que tirou foto do morador de rua foi
válida porque ajudou a um ser humano.
Mas, esta história lembrou-me do causo sobre uma outra
moradora de rua que, pelo que me falaram, não teve um final feliz.
Nos anos 90, também na capital paranaense, havia uma mendiga
que escrevia poesias entre as ruas XV de Novembro e a Mariano Torres, em frente
ao Mercadorama. Uma vez, vi esta senhora rabiscando uns papéis e pedi para ler.
Assim, achei seus poemas muito bons e ela vendeu para mim, um livrinho feito à
mão e depois disse que seu nome era Izabel. Até que um certo dia, esta moça
ganhou uma máquina de escrever, de um morador de um dos prédios, e passou a datilografar
seus textos neste aparelho.
Todos os dias, eu passava pela aquela rua porque tinha aulas
na reitoria da UFPR. O interessante é que eu nunca vi vestígios de bebida, ou,
drogas nesta mendiga. Pois, ela não tinha cheiro de álcool e estava sempre sóbria.
Na época com o objetivo de ajudá-la escrevi cartas para a
mídia local, mas nunca tive resposta. Também, telefonei para o resgate social
da prefeitura. Neste caso, a “van” que recolhe os mendigos chegou, porém Izabel
não quis embarcar. Depois eu perguntei o porquê da sua atitude e ela me
confessou que há moradores de rua que são agressivos, com colegas, nos próprios
albergues.
O problema é que naquele tempo, a Internet era restrita
somente a uma pequena parcela da população e confesso que, nos anos 90, eu nem
sabia ligar um computador.
Algum tempo depois, esta senhora desapareceu das ruas.
Infelizmente, a mensagem que recebi é que Izabel faleceu, mas não consegui
comprovar esta notícia ainda.
Se esta febre de redes sociais fosse naquela época, as pessoas
poderiam ajudar a poetisa com mais eficácia.
Este causo lembrou-me de uma outra história que foi batizada
de: Ana, a Mulher de Branco de Curitiba. Trata-se da trajetória de uma artesã
que, nos anos 70, vivia nas ruas, mas que só se vestia com roupas claras. Esta
senhora fazia um artesanato lindíssimo e digno de ser admirado. Apesar de ser
moradora de rua, ela não tinha vestígios de bebida e muito menos de droga. O
interessante é que ela chegava aos locais, principalmente, nos pontos de ônibus
e falava:
- Gente, preciso de dinheiro para fazer o meu artesanato.
- Não tenho filhos, as doações são somente para materiais
que preciso para confeccionar a minha Arte.
Nos anos 80, ela desapareceu e a notícia que tenho é que ela
foi assassinada por uma gangue de playboys.
Hoje em dia, é fácil ajudar a um morador de rua que seja
talentoso. Basta fotografar seu rosto, sua arte e colocá-los na Internet, que
ele corre a sorte de reencontrar a sua família e de ter seu talento
reconhecido, privilégios que Ana e Izabel, infelizmente, não tiveram.
Luciana do Rocio Mallon
Nenhum comentário:
Postar um comentário