domingo, 15 de janeiro de 2017

João, filho do Brasil


I
“Mataram João!”
“Mataram João, Cláudia! Foi um tiro. Um único e certeiro tiro que tirou a vida do rapaz. Era estudante e estava querendo crescer na vida. Pois é, menina. Tinha um futuro e tanto pela frente.”
“Assassinaram João. E foi na frente da mãe. Meu Deus, que mundo é esse?”
“João foi morto. Você viu o corpo dele? Está lá, Mortinho da Silva, com um tiro na cabeça. Pegaram para arrebentar! Olha, não quero falar nada, mas parece que ele tinha envolvimento com droga.
Estudava? É mesmo? Não sabia. Achei que era vagabundo como o pai.”
“Meu Deus, por quê? Por que não foi comigo? Eu estava aqui, ao lado dele, Pai, e você levou o meu filho. O meu menino!”
“Olha, seu policial, eu estava do outro lado da rua e vi que João só quis proteger a mãe do assalto. Ela estava no portão com o filho, e os dois caras da moto avançaram para ela. Aí ele entrou na frente e já era. João? Conheço desde pequeno. Era, era. Estudante, bom filho e excelente rapaz!”
Naquela manhã, João acordou uma hora mais cedo. Era seu último dia de aula. O rapaz estava ansioso por ser o dia de apresentar o projeto final que lhe renderia o diploma. Desde a infância, dizia à mãe que queria fazer uma faculdade e conseguir um bom emprego para ajudá-la no sustento dos irmãos. “Mãe, você vai ver. Irei retribuir tudo o que você fez por mim até hoje. Pode ter certeza.”
Nervoso, ele vestiu uma calça jeans, comprada na véspera para trazer sorte durante a apresentação, e uma blusa preta social.
Escolhera o melhor traje para o dia que representaria o começo de uma nova etapa em sua vida. Enquanto arrumava os cabelos, o rapaz se lembrou da época em que corria descalço pelas ruas próximas, sempre com “a bola nos pés”, como costumava falar a avó. Só ia para casa quando o sino da igrejinha soava as dez badaladas em conformidade com o relógio. Recolhia a mochila e os tênis e corria para dentro do lar, faminto e desorientado.
Paula Vigneron

do livro: Sete Balas Ao Luar

Nenhum comentário: