por Altair de
Oliveira
Por imenso gosto, apresentamos aqui estes poemas "A
Corça" e "O
Monstrengo", retirados do livro "Baladas do
Cárcere", do falecido
poeta carioca Bruno Tolentino, que viveu a maior parte de sua vida
fora do Brasil e que consideramos um dos grandes poetas
brasileiros da
segunda metade do século XX!
Um final de semana grandioso para vocês e uma boa leitura!
A CORÇA
"Demorou-se a crescer entre meus braços
a ninfa proverbial e peregrina
que embriaga os sentidos e alucina
os olhos assombrados como escassos
para conter a imagem que os domina.
O fantasma ideal desses abraços
prolongados e breves como a sina
da coisa moritura, os olhos baços
refletiram-no enfim, mas como a poça
em que pousa de leve a lua alta.
Foi tudo confusão. Ah, mas que força,
que graça delicada e tão estática,
que elegância de estátua tinha a corça
que fingia escapar em sobressalto!"
***
O MONSTRENGO
"Tive tudo o que quis, e o que não quis
também, é claro: mas ressalvo a audácia
com que arranquei à pedra da desgraça
uma felicidade de infeliz;
martelei pedra viva e dei-lhe a face
que esculpi: tive assim, não o que quis,
mas o rosto que tenho, traço a traço,
fui eu que o inventei, fui eu que o fiz!
A medusa morreu: matei-a eu
e a espécie de Perseu que fiquei sendo
não foi a ilustre morta que me deu.
Fui eu mesmo que fiz este monstrengo,
o inútil monumento é todo meu.
Eu, modelo, martelo e monumento!"
Poemas de "Bruno Tolentino", In: "Baladas do
Cárcere" - Topbooks -
1994.
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