Priscila Prado
O trema está trêmulo - dizem que este ano cai.
Querem apagá-lo do Português-Brasileiro, na forma que nos é
peculiar.
Nosso trema é um tique, um truque, um toque feminino: duas
pitadas de delicadeza para romper a rigidez da sílaba com a modulação sinuosa
do "u".
Querem alcançar a padronização lingüística!
Esquecem que nossa diversidade é nossa riqueza. E que o
sinal que nos distingue é também o que nos identifica.
Dizem que, com a supressão do trema, o idioma ficará
simplificado.
Esquecem que o caminho mais fácil nem sempre é o mais belo,
mais útil, ou mais agradável.
Acham que o trema é uma das "chatices" da nossa língua
- mas, nunca ouvi dizer que algo se tenha tornado menos chato por se ter
tornado mais monótono.
O trema são covinhas no sorriso do "u".
É ele que condimenta a lingüiça.
Torna mais repetitivas as intermitências de algo que é
freqüente.
Denuncia a propriedade de movimento dos aqüíferos.
Põe gotas de suor ou lágrimas em algo que não mais se
agüenta.
Empresta cor, cadência, malemolência, ginga – mesmo a
palavras áridas ou graves como "argüição", "conseqüência",
"qüinqüênio", "ungüento", "iniqüidade".
É o brilho par da justiça em "eqüidade".
É o vento vibrando a superfície de um lago tranqüilo: tranqüilo
e vivo.
Sem o trema ficaria prejudicada a eloqüência da brasilidade
em nossos gestos.
Reservo-me o direito a meus tremas – e meu computador até
completa as cumeeiras do "u" se por descuido os esqueço.
Eu sou a favor da simplicidade! – mas por princípio, não por
preguiça: almoçaria sem toalha na mesa domingueira – mas não sem flores.
Em outras palavras: há que simplificar – porém sem perder a
"tremura" jamais!
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