Estávamos na sala eu e minha mãe
[Agora é que percebo que ela manteve os cabelos longos
Somente até aquele dia]
Eu lia a história de Branca de Neve
Virando as páginas assim que as personagens do
Disquinho azul alcançavam a última linha
— Terminar de ouvir me antecipava a vontade de ouvir de novo
—
Mal sabia que alimentava naquele gesto
O pequeno monstro do desejo incontrolável
Minha mãe fazia acabamentos na bainha de uma saia xadrez
O carro parou na frente de casa com uma freada brusca
Olhamo-nos com a mudez sincera dos que sabem que
As cenas do próximo capítulo vêm para abalar o coração
Bateram palmas lá fora
Ela largou a costura
Eu desliguei o disquinho
E toda a paz de nossas tardes
Foi varrida pelo vendaval da notícia que o homem trouxe
Sempre que ouço a história de Branca de Neve
Esbarro naquele ponto em que o caçador
Arranca o coração de um cervo
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