quarta-feira, 16 de janeiro de 2019

O Caule da Vida.


   

Sob o arco do templo me curvo, sob a sombra do monte me amparo, sob o átrio da câmara me calo, sobre o piso da sala do trono eu me ajoelho perante seu dono, desejando matar meu senhor. Meu camelo me segue sem pressa, mastigando algum talo sem gosto, no olhar somente indiferença, sem ter crença, amizade ou desgosto. Na dobra quadrada da esquina, a marca do tempo se prende a resina do caule da vida. O limo grudado nas pedras do arco, dá vida a avenca que baila com o vento, e adorna a entrada do templo em ruína. E o camelo me segue com indiferença enquanto caminha seu talo rumina; as marcas do tempo no caule da vida, como o limo das pedras do arco do templo, arredondam com o tempo o quadrado da esquina. Quando as luzes se apagam e se fecha a cortina, o ato termina e os aplausos não vêm as estrelas não brilham, e o camelo não masca mais seu talo sem graça, só no último ato o homem aprende, enquanto a casca se desprende do caule da vida.

José Tavares    

almaxpoesia.blogspot.com

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