Para um dedo de prosa
Carta ao jovem menestrel
Quero conduzir-te a sítios, guiando-te de um lado para o
outro; sou eu, teu garoto. Venha comigo repousar neste quintal; já posso ver-te
em mim, tenho a chave do portão do jardim, cá dentro em nós.
Andemos, mãos dadas; diz-me tudo quanto preciso olvidar. Em
tua presença falar é despir meu imo, é tornar ao instante indelével. Não
determina o tempo as contas dos nossos contos nos recantos deste eido
prazenteiro, onde Jeliel está debruçado sobre a sua criação.
Cantarei só pra ti todas as estações; o eterno retorno das
flores; a vedada senda deste prado. Que coisa madura e divertida, rir! Quero
contigo tornar ao meu desígnio, ser teu instrumento. Vem seguir-me o passo e
trasbordar de luzes na luz das manhãs. Tens algum engano? Alguém já te deu
carinho? Gosto do teu beijo; minha face brilha num sorriso.
Toda vontade nos renova o viço, nesta seara de poesia; tudo,
aqui, há. O cessar da rota solar no ocidente é belo e, à noite, guardo uma
surpresa; neste canteiro de erva verde nos permitimos; a árvore de todos os
frutos nos extingue a fome; há um salto d’água de fonte virginal, gotículas do
véu de sua queda flutuam úmidas e refrescantes no espaço; quão mais sincera for
tua anima ao gozar, aqui, nestes círculos de homogeneidades mais estarás ao
centro, espírito. Adorar a graça é refazermo-nos, melhor.
Venha, que sou guia dos mistérios cultivados neste campo;
posso regar seu rego e desfazer as nuvens nos céus; quiçá, o rebroto, neste
pomar fecundo floresça-me, frutificando em ti. Queres um arco colorido, no
firmamento dos astros, de extraordinários matizes? Derramar a florescência da
palma das mãos, entre os dedos, neste chão? Permitas-te desejar-te; é esse o
encanto.
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