quinta-feira, 30 de dezembro de 2010
Quantas vezes você se arriscou
a traçar o seu destino ?
Quantas vezes você se deslumbrou
pelo caminho
mudou seu rumo
e viveu seu caminho absurdo?
Quantas vezes você se perdeu
neste raio deste caminho absurdo ?
...e quantas vezes você deu
de cara com você mesmo voltando ?
Quantas vezes você se permitiu
viver e deu um voo para a liberdade?
Cristina Siqueira
Cristal divinatório
Em meio a formas exatas e precisas, lá estava eu. Tão rodeada de mim mesma que não pude deixar de tocá-lo.Tão dura água onde os dedos deixam vestígios,marcas , provas.Ainda pensava em olhá-lo quando fui capturada.Atravessei sua falsa transparência.Procurei Alice. Ouvi segredos e compartilhei dores.Um cristal de adivinhações que conhece todos os meus truques.Sua transparência denuncia meus vícios.Atônita tento ficar sózinha ,mas qual,dentro de um espelho há milhões de nós mesmos .Depois que ultrpassei a barreira desta tão dura água sou o avesso de mim mesma .Abandonei meu reflexo na prata polida e alguns instantes em retratos maltirados .Agora registro lufadas , bafos de vida .Descubro como sou .O que sou .Vou ficando dentro dessa gruta silenciosa esperando por mim para ,apenas , me olhar .Lembrar como sou .Dentro dos espelhos moram nossas almas , do lado de fora somos apenas reflexos.
Iara Lessa
jornalista
fonte:O que narciso acha feio.Nicolau.ano VII.n52
A face da fonte
De início, nada;na clara superfície,a face refletida é a sua- perfeição, imagem -aequétipo do belo.Mas além dessa que vê, há outra , que a fonte não reflete ,nem muito menos pode ver em seu momento de verdade .Sobre ela, Narciso reflete agora: o belo em que sói gratificar-se é apenas o que vê na face da fonte, ou antes a imagem vista por ela , unidimensional, daguerreótipo das águas . Só ele tem acesso às múltiplas feições ,aos heterônimos íntimos,às cambiantes prismáticas, estroboscópicas, que estão além, por trás da própria face.Se pudesse , debruçado sobre a fonte , tocando a com a mão ,fender em mil estilhaços líquidos esse retrato estático, e dentro dele ver o que só vê a mente , o belo começaria a desfazer-se: o tempo , a solidão,o aquém do sonho, a pequenez de tudo, essa ânsia insopitada- o feio.
Ivo Barroso
tradutor
fonte:O que narciso acha feio.in Mosaico.Nicolau ano VII.n52
terça-feira, 28 de dezembro de 2010
A flor dentro da árvore 5
“Sinal cifrado para enovelar o divino”
Bárbara Lia
Trinta e dois ventos
da rosa dos ventos
Vinte e um gramas
do peso da alma
Oito países
a comandar a Terra
UM Deus louco
pelas ruas bombardeadas
Nota – as poesias do livro ‘A FLOR DENTRO DA ÁRVORE’ é um diálogo com Emily Dickinson, cada poesia tem como título um verso da poeta Emily – Ela, árvore; Eu, flor
Bárbara Lia
Trinta e dois ventos
da rosa dos ventos
Vinte e um gramas
do peso da alma
Oito países
a comandar a Terra
UM Deus louco
pelas ruas bombardeadas
Nota – as poesias do livro ‘A FLOR DENTRO DA ÁRVORE’ é um diálogo com Emily Dickinson, cada poesia tem como título um verso da poeta Emily – Ela, árvore; Eu, flor
segunda-feira, 27 de dezembro de 2010
O Natal já passou ?
Muita gente acha, ou pensa que sim. Eu digo que "Não". O que passou foi uma festa cristã, que a maioria dos cristãos só se lembra de comemorar no dia 25 de dezembro.
O que comemoram é o aniversário de nascimento de Jesus, inegavelmente, um "Grande Homem".
No entanto, o aniversário é dele, mas, todos dizem uns aos outros, "Feliz Natal", que originalmente quer dizer, "Feliz Nascimento".
Essa já é a uma incoerência. Outra é que amanhã, segunda-feira, os chamados, "Sentimentos Natalinos", já terão desaparecido. As pessoas voltarão aos afazeres normais, sem lembrar o que faziam há apenas, três dias.
Na seqüência ilógica da vida, todos estarão se preocupando com o "Passar De Ano", com o que vestir, (se a coisa da cor tal, representa isso ou aquilo), o que comer, (se a carne tem que ser do bicho tal porque ele faz isso ou aquilo), onde passar, (porque depende de como agir para que o ano novo seja isso ou aquilo).
Enfim, as pessoas continuaram como eram, nada mudou.
A mediocridade espraiada, com ondas às vezes grandes outras, pequenas marolas, entretanto, na média da maré vivente, continuam medíocres.
Da minha parte, desejo do fundo de meu coração, que a cada dia, ao despertar, você perceba que nasceu novamente, (poderia ter morrido durante a noite), ou como dizem, os mais adiantados místicos ou filósofos, "O Sono É Uma Pequena Morte". Então receba de minha parte, reafirmo, o meu "Feliz Natal Pelo Seu Despertar".
Ah.., e sobre "Jesus", viva como ele ensinou, mas, o que ele ensinou sobre a vida, não o que algumas religiões querem que você viva, se sacrificando por outrem, se flagelando, se martirizando. Ele deu demonstrações fantásticas de "Verdade, Integridade, Ética", e porque não dizer, até de "Santidade".
É aquela cara, foi, e continua sendo..., "GRANDE".
No "Ano Novo" escrevo mais sobre a minha maneira de ver como as pessoas se conduzem. Quem quiser que aguarde.
Olinto A Simões
O que comemoram é o aniversário de nascimento de Jesus, inegavelmente, um "Grande Homem".
No entanto, o aniversário é dele, mas, todos dizem uns aos outros, "Feliz Natal", que originalmente quer dizer, "Feliz Nascimento".
Essa já é a uma incoerência. Outra é que amanhã, segunda-feira, os chamados, "Sentimentos Natalinos", já terão desaparecido. As pessoas voltarão aos afazeres normais, sem lembrar o que faziam há apenas, três dias.
Na seqüência ilógica da vida, todos estarão se preocupando com o "Passar De Ano", com o que vestir, (se a coisa da cor tal, representa isso ou aquilo), o que comer, (se a carne tem que ser do bicho tal porque ele faz isso ou aquilo), onde passar, (porque depende de como agir para que o ano novo seja isso ou aquilo).
Enfim, as pessoas continuaram como eram, nada mudou.
A mediocridade espraiada, com ondas às vezes grandes outras, pequenas marolas, entretanto, na média da maré vivente, continuam medíocres.
Da minha parte, desejo do fundo de meu coração, que a cada dia, ao despertar, você perceba que nasceu novamente, (poderia ter morrido durante a noite), ou como dizem, os mais adiantados místicos ou filósofos, "O Sono É Uma Pequena Morte". Então receba de minha parte, reafirmo, o meu "Feliz Natal Pelo Seu Despertar".
Ah.., e sobre "Jesus", viva como ele ensinou, mas, o que ele ensinou sobre a vida, não o que algumas religiões querem que você viva, se sacrificando por outrem, se flagelando, se martirizando. Ele deu demonstrações fantásticas de "Verdade, Integridade, Ética", e porque não dizer, até de "Santidade".
É aquela cara, foi, e continua sendo..., "GRANDE".
No "Ano Novo" escrevo mais sobre a minha maneira de ver como as pessoas se conduzem. Quem quiser que aguarde.
Olinto A Simões
Natal
" e um menino pequeno os guiará"
( Isaías, 11:6 )
As crianças têm o próprio tempo.
O relógio, o calendário não fazem sentido. Se os usam, serão apenas brinquedos.
O olhar delas é puro encantamento.
Enquanto adultos veem obrigações e responsabilidades do tempo, as crianças veem todo o trajeto da vida.
O olhar infantil sobe e desce desvendando misteriosos voos, asas, ruídos, cores, formas e cheiros.
Todos sabemos que a infância é o período mais poético do ser humano, mas a vida adulta insiste em suprimi-la o mais rápido possível.
Apesar de sabermos que para entrar no paraíso deveremos ter um olhar de criança, tornamo-nos cegos.
E as enchemos de brinquedos, cada vez mais virtuais, para que parem de olhar por aí, bisbilhotando mundos inúteis.
Para quem, com olhos infantis, observa o mundo, não esqueça de deixar renascer a criança dentro de si. E, dê-lhe a mão e brinque o Natal.
Deisi Perin
( Isaías, 11:6 )
As crianças têm o próprio tempo.
O relógio, o calendário não fazem sentido. Se os usam, serão apenas brinquedos.
O olhar delas é puro encantamento.
Enquanto adultos veem obrigações e responsabilidades do tempo, as crianças veem todo o trajeto da vida.
O olhar infantil sobe e desce desvendando misteriosos voos, asas, ruídos, cores, formas e cheiros.
Todos sabemos que a infância é o período mais poético do ser humano, mas a vida adulta insiste em suprimi-la o mais rápido possível.
Apesar de sabermos que para entrar no paraíso deveremos ter um olhar de criança, tornamo-nos cegos.
E as enchemos de brinquedos, cada vez mais virtuais, para que parem de olhar por aí, bisbilhotando mundos inúteis.
Para quem, com olhos infantis, observa o mundo, não esqueça de deixar renascer a criança dentro de si. E, dê-lhe a mão e brinque o Natal.
Deisi Perin
domingo, 26 de dezembro de 2010
Velha da tribo
Para onde vai Dona Olinda ?
Levar a beca no pasto ?
Faz tempo que viajas
sem reclamar com os anos
ou com a partida dos filhos.
Por aqueles que foram
teu coração calado guarda
a emoção sólida sobrevivente
da raíz familiar contente.
De onde viestes ?
a festa aconteceu
e não participaste.
Para onde vai Dona Olinda ?
Chegou a hora de entoar
o canto a todos os pássaros.
A tarde bate em nossa porta.
Batista de Pilar
Levar a beca no pasto ?
Faz tempo que viajas
sem reclamar com os anos
ou com a partida dos filhos.
Por aqueles que foram
teu coração calado guarda
a emoção sólida sobrevivente
da raíz familiar contente.
De onde viestes ?
a festa aconteceu
e não participaste.
Para onde vai Dona Olinda ?
Chegou a hora de entoar
o canto a todos os pássaros.
A tarde bate em nossa porta.
Batista de Pilar
se é para o bem de todos
e felicidade geral da nação
diga ao povo
que mande o rei à patria
que o pariu
se é para o bem de todos
e felicidade geral da nação
diga ao povo
que o rei ainda não sabe
se vai, se fica
se é para o bem de todos
e felicidade geral da nação
diga ao rei
que o povo fica.
Nicolas Behr
e felicidade geral da nação
diga ao povo
que mande o rei à patria
que o pariu
se é para o bem de todos
e felicidade geral da nação
diga ao povo
que o rei ainda não sabe
se vai, se fica
se é para o bem de todos
e felicidade geral da nação
diga ao rei
que o povo fica.
Nicolas Behr
O encontro
A beleza de um poema
não está na escrita
na métrica ou na rima.
A beleza da poesia
está dentro de quem a lê.
Descobre e a recria
Revelando o encanto
De saber-se poeta
Na luta do dia-a-dia.
Como a abelha
que beija a flor,
transformando beleza
em doce sabor.
João Bello
não está na escrita
na métrica ou na rima.
A beleza da poesia
está dentro de quem a lê.
Descobre e a recria
Revelando o encanto
De saber-se poeta
Na luta do dia-a-dia.
Como a abelha
que beija a flor,
transformando beleza
em doce sabor.
João Bello
natalino sentimento
Natalino sentimento
O nascimento de atividades
Em constante movimento
Beto Xavier
O nascimento de atividades
Em constante movimento
Beto Xavier
A flor dentro da árvore 4
“A lentidão das palavras do arcanjo ao acordá-la”
O sagrado despe as ilusões
e abraça as árvores mortas
Suas folhas azul esmaecido
qual manto da Virgem de Cambrai
Os ossos das árvores adoeceram
e elas morreram – azuis -
Antes que tornassem brancos
os seus cabelos.
Bárbara Lia
O sagrado despe as ilusões
e abraça as árvores mortas
Suas folhas azul esmaecido
qual manto da Virgem de Cambrai
Os ossos das árvores adoeceram
e elas morreram – azuis -
Antes que tornassem brancos
os seus cabelos.
Bárbara Lia
sábado, 25 de dezembro de 2010
O que fez para merecer
a graça de um dia com sol , poucas dores,
e uma caneca de café preto?
Talvez tenha sido
por um jeito de olhar para os outros
e saber que é assim que eles são,
e pronto,
sem exigir
que se abandonem ao que não lhes cabe.
Neuzi Barbarini
Autora de Poesia de uma mulher Comum(Editora Scortecci ).
a graça de um dia com sol , poucas dores,
e uma caneca de café preto?
Talvez tenha sido
por um jeito de olhar para os outros
e saber que é assim que eles são,
e pronto,
sem exigir
que se abandonem ao que não lhes cabe.
Neuzi Barbarini
Autora de Poesia de uma mulher Comum(Editora Scortecci ).
Quaderna
Quatro pontos cardeais
Quatro estações do ano
Quatro cantos num cubo
Quatro linhas de um campo
Quatro trevos que descubro
Quatro lados da moldura
Quatro elementos na natura
Quatro pontas de uma estrela
Quatro balas de alcaçus
Quatro tempos num compasso
Quatro horas da manhã
Quatro rodas num carro
Quatro sementes de romã
Quatro sinais da cruz
Quatro mundos por segundo
Quatro quartos numa casa
Quatro pernas de uma mesa
Quatro pessoas numa mesma
Quatro pássaros sem asas
Quatro brilhos nasta espuma
Mas só uma vida, só uma.
Rodrigo Garcia Lopes.
Autor de Nômada(Lamparina,2004)
Quatro estações do ano
Quatro cantos num cubo
Quatro linhas de um campo
Quatro trevos que descubro
Quatro lados da moldura
Quatro elementos na natura
Quatro pontas de uma estrela
Quatro balas de alcaçus
Quatro tempos num compasso
Quatro horas da manhã
Quatro rodas num carro
Quatro sementes de romã
Quatro sinais da cruz
Quatro mundos por segundo
Quatro quartos numa casa
Quatro pernas de uma mesa
Quatro pessoas numa mesma
Quatro pássaros sem asas
Quatro brilhos nasta espuma
Mas só uma vida, só uma.
Rodrigo Garcia Lopes.
Autor de Nômada(Lamparina,2004)
"o peso da mágoa"
para começar um blues no violão
precisa beber inverno em pleno verão
para começar a vazar luz de meu blues
precisa regar de noite a flor da aflição
para começar é preciso secar
a sede de tanta mágoa no coração
senão essa vida não vira mais nada
a não ser esse solo de solidão
a tristeza não é uma disfunção
todo o peso da mágoa em seu peito
não é desculpa pro seu coração
deixar de abrir e acender direito
para dizer o que há em meu peito
eu podia incendiar uma igreja
ou apagar na tua boca uma estrela
mas fazer blues é o meu jeito
um blues é o que faz cauterizar
esse buraco azul em minha canção
por onde você deixou uma dor passar
depois de vazar luz de um coração
Fernando Koproski
Autor de Nunca Seremos Tão Felizes como Agora (7Letras,2009)
precisa beber inverno em pleno verão
para começar a vazar luz de meu blues
precisa regar de noite a flor da aflição
para começar é preciso secar
a sede de tanta mágoa no coração
senão essa vida não vira mais nada
a não ser esse solo de solidão
a tristeza não é uma disfunção
todo o peso da mágoa em seu peito
não é desculpa pro seu coração
deixar de abrir e acender direito
para dizer o que há em meu peito
eu podia incendiar uma igreja
ou apagar na tua boca uma estrela
mas fazer blues é o meu jeito
um blues é o que faz cauterizar
esse buraco azul em minha canção
por onde você deixou uma dor passar
depois de vazar luz de um coração
Fernando Koproski
Autor de Nunca Seremos Tão Felizes como Agora (7Letras,2009)
Atirou na mesa a vida(um
saco de feijão) espalhando as
mãos em palmas de um
público particular.Não
pensou em temperos antes da
escolha dos grãos.Excluiu
simplesmente os carunchos
porque não servem à fome.
Transbordou junto à água os
aplausos.Escorreu, junto ao
pó,bastidores.Não tombou
no azulejo em deslize porque
raízes nos pés sempre em
broto...Regulou da panela a
pressão (o tempo que se
demora em fervura, trajetos
lentamente macios).
Lindsey Rocha
Autora do livro Nervuras do Silêncio (7Letras).
saco de feijão) espalhando as
mãos em palmas de um
público particular.Não
pensou em temperos antes da
escolha dos grãos.Excluiu
simplesmente os carunchos
porque não servem à fome.
Transbordou junto à água os
aplausos.Escorreu, junto ao
pó,bastidores.Não tombou
no azulejo em deslize porque
raízes nos pés sempre em
broto...Regulou da panela a
pressão (o tempo que se
demora em fervura, trajetos
lentamente macios).
Lindsey Rocha
Autora do livro Nervuras do Silêncio (7Letras).
Àquela a Quem Eu Nunca Tinha Escrito
Àquela que rolou sobre meu parco limite de poeta,
e nunca revelou qualquer vontade sua, secreta,
de ser musa daquele que mal sobrou por aqui:
a quem meus pedaços são obras completas,
a ela , a que ainda vê gume nessas cegas setas,
vai o lapso do melhor verso que eu jamais escrevi.
Ivan Justen Santana
http://www.ossurtado.blogspot.com/
e nunca revelou qualquer vontade sua, secreta,
de ser musa daquele que mal sobrou por aqui:
a quem meus pedaços são obras completas,
a ela , a que ainda vê gume nessas cegas setas,
vai o lapso do melhor verso que eu jamais escrevi.
Ivan Justen Santana
http://www.ossurtado.blogspot.com/
A flor dentro da árvore 2
“Até que os serafins acenem com seus chapéus brancos”
Bárbara Lia
Não nasci para resfriar o mundo
Neste lerdo cortejo de omissões
Estas palavras interditas
Suspensas
Não vim quebrar as pernas do sol
Silenciar cada bemol
Não vim para arrebentar o anzol
Do velho de Hemingway
Sou mar e trovão no coração
Nasci para amar sem lastro
Para dançar no pátio
It is my way
Nota – as poesias do livro ‘A FLOR DENTRO DA ÁRVORE’ é um diálogo com Emily Dickinson, cada poesia tem como título um verso da poeta Emily – Ela, árvore; Eu, flor
Bárbara Lia
Não nasci para resfriar o mundo
Neste lerdo cortejo de omissões
Estas palavras interditas
Suspensas
Não vim quebrar as pernas do sol
Silenciar cada bemol
Não vim para arrebentar o anzol
Do velho de Hemingway
Sou mar e trovão no coração
Nasci para amar sem lastro
Para dançar no pátio
It is my way
Nota – as poesias do livro ‘A FLOR DENTRO DA ÁRVORE’ é um diálogo com Emily Dickinson, cada poesia tem como título um verso da poeta Emily – Ela, árvore; Eu, flor
A flor dentro da árvore 3
“Doce como o massacre de sóis”
Bárbara Lia
Oito canhões na praça de guerra
Apontam para o peixe
Que traz a paz nas guelras
Quatro gaivotas suicidas
Lambem o babado azulado
Do triste mar-flamenco
Lembro um filme de Babenco:
Ana e o vôo
Mariposas no quarto lúgubre
Suas mãos em concha
A esmagar a eternidade insalubre
Nota – as poesias do livro ‘A FLOR DENTRO DA ÁRVORE’ é um diálogo com Emily Dickinson, cada poesia tem como título um verso da poeta Emily – Ela, árvore; Eu, flor
Bárbara Lia
Oito canhões na praça de guerra
Apontam para o peixe
Que traz a paz nas guelras
Quatro gaivotas suicidas
Lambem o babado azulado
Do triste mar-flamenco
Lembro um filme de Babenco:
Ana e o vôo
Mariposas no quarto lúgubre
Suas mãos em concha
A esmagar a eternidade insalubre
Nota – as poesias do livro ‘A FLOR DENTRO DA ÁRVORE’ é um diálogo com Emily Dickinson, cada poesia tem como título um verso da poeta Emily – Ela, árvore; Eu, flor
quarta-feira, 22 de dezembro de 2010
Nesse mundo absurdo e escuro
quanta dor ainda pode ser ouvida
quando almas entre morte e vida
claman entre oprimidos por trás de muros.
Vejo nascer desses olhos desatentos
a dor. lúgubres e sem esperança ,
daquele que se desespera e não alcança
e que já dorme sem alento
Deixando-se afligir-se a cada intento
de legar ao homem em sua história
o sangue derramado de cada vitória
quase obscurecido pelo tempo não lento
Que leva de nós esta mórbida lembrança
que de exemplo ao infortúnio desta lida
nos encurrá-la como em beco sem saída
e do futuro entecipa o furto da nossa esperança.
Luciane Girardi
quanta dor ainda pode ser ouvida
quando almas entre morte e vida
claman entre oprimidos por trás de muros.
Vejo nascer desses olhos desatentos
a dor. lúgubres e sem esperança ,
daquele que se desespera e não alcança
e que já dorme sem alento
Deixando-se afligir-se a cada intento
de legar ao homem em sua história
o sangue derramado de cada vitória
quase obscurecido pelo tempo não lento
Que leva de nós esta mórbida lembrança
que de exemplo ao infortúnio desta lida
nos encurrá-la como em beco sem saída
e do futuro entecipa o furto da nossa esperança.
Luciane Girardi
NO JARDIM DE VÊNUS
SÉPIA
Bárbara Lia
Minha luxúria é sépia
Habita estúdios de 1930
Estouro de purpurina
A cada flash do tesão
Minha luxúria – Polaróide antiga
Imprime postais esmaecidos
Sorrisos de conta-gotas
Minha luxúria lacrou
O livro do amor
- utopia dos desgarrados –
(Adeus suspiros de Monalisa
Carícias de carpideira
Despedidas na soleira)
Minha luxúria é parto à revelia
Quando chegas com fórceps
Quando chegas com toques
Quando tocas meu clitóris
Quando roças meus mamilos
Quando afogas o amor
No mar dos improváveis
E ressuscitas O DESEJO
Retirando-me das entranhas de Eros
Pra me batizar com teu sêmen
Abençoado sêmen
Amém
Bárbara Lia (Assaí, 24 de agosto) é uma escritora brasileira.
Nasceu em Assaí, norte do Paraná. Publicou poemas em jornais literários como Rascunho, Garatuja, Mulheres Emergentes, Revista Etcetera, Revista Coyote, Ontem choveu no futuro. Na Internet, tem textos publicados na Zunái, Cronópios, Blocosonline, Editora Ala de Cuervo, entre outros.
Bárbara foi por duas vezes finalista do Prêmio Sesc de Literatura: em 2004 com o romance Cereja & Blues (inédito em livro) e, em 2005, com o romance Solidão Calcinada (publicado em 2008 pela Secretária de Estado da Cultura). Terceira Colocada no Concurso de Poesias Helena Kolody – 2006, Menção Honrosa no mesmo concurso em 2007. Menção Honrosa no Conc. Nacional de Contos Newton Sampaio/2009. Premiada no Concurso de Contos Grotescos – Prêmio Edgar Alan Poe/2009 e PrêmioUfes Literatura/2009. Entre outros importantes poetas da atualidade, faz parte do livro de ensaios O que é poesia? (Ed. Confraria do Vento), organizada por Edson Cruz.
Obra
O sorriso de Leonardo (Poesia, Edições Kafka – 2.004)
O sal das rosas (Poesia, Lumme editor – 2.007)
A última chuva (Poesia, ME – ed. alternativas – MG – 2.007)
Solidão Calcinada (Romance, Secretaria da Cultura / Imprensa Oficial do Paraná – 2008)
Constelação de Ossos (Romance, Vidráguas/2010
Bárbara Lia
Minha luxúria é sépia
Habita estúdios de 1930
Estouro de purpurina
A cada flash do tesão
Minha luxúria – Polaróide antiga
Imprime postais esmaecidos
Sorrisos de conta-gotas
Minha luxúria lacrou
O livro do amor
- utopia dos desgarrados –
(Adeus suspiros de Monalisa
Carícias de carpideira
Despedidas na soleira)
Minha luxúria é parto à revelia
Quando chegas com fórceps
Quando chegas com toques
Quando tocas meu clitóris
Quando roças meus mamilos
Quando afogas o amor
No mar dos improváveis
E ressuscitas O DESEJO
Retirando-me das entranhas de Eros
Pra me batizar com teu sêmen
Abençoado sêmen
Amém
Bárbara Lia (Assaí, 24 de agosto) é uma escritora brasileira.
Nasceu em Assaí, norte do Paraná. Publicou poemas em jornais literários como Rascunho, Garatuja, Mulheres Emergentes, Revista Etcetera, Revista Coyote, Ontem choveu no futuro. Na Internet, tem textos publicados na Zunái, Cronópios, Blocosonline, Editora Ala de Cuervo, entre outros.
Bárbara foi por duas vezes finalista do Prêmio Sesc de Literatura: em 2004 com o romance Cereja & Blues (inédito em livro) e, em 2005, com o romance Solidão Calcinada (publicado em 2008 pela Secretária de Estado da Cultura). Terceira Colocada no Concurso de Poesias Helena Kolody – 2006, Menção Honrosa no mesmo concurso em 2007. Menção Honrosa no Conc. Nacional de Contos Newton Sampaio/2009. Premiada no Concurso de Contos Grotescos – Prêmio Edgar Alan Poe/2009 e PrêmioUfes Literatura/2009. Entre outros importantes poetas da atualidade, faz parte do livro de ensaios O que é poesia? (Ed. Confraria do Vento), organizada por Edson Cruz.
Obra
O sorriso de Leonardo (Poesia, Edições Kafka – 2.004)
O sal das rosas (Poesia, Lumme editor – 2.007)
A última chuva (Poesia, ME – ed. alternativas – MG – 2.007)
Solidão Calcinada (Romance, Secretaria da Cultura / Imprensa Oficial do Paraná – 2008)
Constelação de Ossos (Romance, Vidráguas/2010
A flor dentro da árvore
DO LIVRO INÉDITO
‘A FLOR DENTRO DA ÁRVORE’
BÁRBARA LIA
“Dentro da minha flor me escondo…”
Baile das harpias
Em árvores carbonizadas
Rindo do fim
Fumaça sangra
Nosso jardim
A alma do éden
Adoentada.
Nota – as poesias do livro ‘A FLOR DENTRO DA ÁRVORE’ é um diálogo com Emily Dickinson, cada poesia tem como título um verso da poeta Emily – Ela, árvore; Eu, flor
fonte:blog leituras favre
‘A FLOR DENTRO DA ÁRVORE’
BÁRBARA LIA
“Dentro da minha flor me escondo…”
Baile das harpias
Em árvores carbonizadas
Rindo do fim
Fumaça sangra
Nosso jardim
A alma do éden
Adoentada.
Nota – as poesias do livro ‘A FLOR DENTRO DA ÁRVORE’ é um diálogo com Emily Dickinson, cada poesia tem como título um verso da poeta Emily – Ela, árvore; Eu, flor
fonte:blog leituras favre
NO JARDIM DE VÊNUS II
Nunca direi – Te amo!
Bárbara Lia
Nunca direi – Te amo! Posto que é desejo santo
E traz teu rosto – Miragem que pousa na retina
Basta! A primavera garante que elas acabaram
: É o fim das lágrimas. Líquidos apenas outros -
Nosso Gozo. Ainda que embaçado pelas folhas
Do outono que vivemos – É vermelha flor que
Rola na alameda e é vermelho o telefone que
Traz este mar sonoro – Alma ancorada em voz
E quando suplicas que eu te consagre em rito
Eu me banho incensada em orquídeas, jasmins
E quando amanhece e meu ser desperta – Eis:
A primeira miragem – teu rosto dentro de mim
Tu que estás dentro de mim, tu que estás aqui
Dentro de mim. Teu sopro corpo palavra e pau
Dentro de mim. Teu olhar – vidro que parte as
Paredes e me invade. Logo ali a garota sonha -
Tolices ancestrais: Amor eterno casar ser feliz
A pássara que rega com sua aura o raio da lua
Morre de pena da garota que crê – Amor esta
Utopia Mor. O teu grito é o eco do meu – Nós
Cremos sim é no desejo insano inaugurando o
Sol ardente de Eros e a Lua escandalosa dela –
Poderosa Afrodite – Neste intercâmbio voraz:
Tua sutileza que abre minha vulva sem tocar;
Minha loucura: A endurecer teu pau e eriçar
Pelos – Nós nos buscamos na manhã – Neste
Tudo de amar. E quando despes meu vestido
Nada acima da pele. Nada no ar. A não ser a
Canção. Nada a passear no chão – E o mundo
Não sabe que ali – naquela janela – É o Éden
A coberta da cama agora é nuvem. Soro vivo
– teu sêmen que me lava poro a poro. Sim!
A consagração da vida em coito puro a curar
Todo o cansaço, agonia, dores, temores gris
:: O desejo saciado é o céu que nos visita ::
:: O desejo saciado é o amor envelhecido ::
O desejo é um velho sábio, que sacode o ar
E segue sua trilha morto de pena do amor -
Este impostor – Que há séculos e séculos e
Séculos amém nubla esconde a dádiva mor
– Eu te desejo – Tu me desejas
Utopia não nos sacia. Só o desejo -
Só o desejo que chegou sem aviso
Registro, AR – telegrama onírico à
Nossa frente – A nos gritar para não adiar
Teu desejo – Meu desejo – Murmuramos:
Que Eros nos Proteja! Nos Proteja! AMÉM
Bárbara Lia (Assaí, 24 de agosto) é uma escritora brasileira.
Nasceu em Assaí, norte do Paraná. Publicou poemas em jornais literários como Rascunho, Garatuja, Mulheres Emergentes, Revista Etcetera, Revista Coyote, Ontem choveu no futuro. Na Internet, tem textos publicados na Zunái, Cronópios, Blocosonline, Editora Ala de Cuervo, entre outros.
Bárbara foi por duas vezes finalista do Prêmio Sesc de Literatura: em 2004 com o romance Cereja & Blues (inédito em livro) e, em 2005, com o romance Solidão Calcinada (publicado em 2008 pela Secretária de Estado da Cultura). Terceira Colocada no Concurso de Poesias Helena Kolody – 2006, Menção Honrosa no mesmo concurso em 2007. Menção Honrosa no Conc. Nacional de Contos Newton Sampaio/2009. Premiada no Concurso de Contos Grotescos – Prêmio Edgar Alan Poe/2009 e PrêmioUfes Literatura/2009. Entre outros importantes poetas da atualidade, faz parte do livro de ensaios O que é poesia? (Ed. Confraria do Vento), organizada por Edson Cruz.
Obra
O sorriso de Leonardo (Poesia, Edições Kafka – 2.004)
O sal das rosas (Poesia, Lumme editor – 2.007)
A última chuva (Poesia, ME – ed. alternativas – MG – 2.007)
Solidão Calcinada (Romance, Secretaria da Cultura / Imprensa Oficial do Paraná – 2008)
Constelação de Ossos (Romance, Vidráguas/2010)
Fonte:blog leituras favre
Bárbara Lia
Nunca direi – Te amo! Posto que é desejo santo
E traz teu rosto – Miragem que pousa na retina
Basta! A primavera garante que elas acabaram
: É o fim das lágrimas. Líquidos apenas outros -
Nosso Gozo. Ainda que embaçado pelas folhas
Do outono que vivemos – É vermelha flor que
Rola na alameda e é vermelho o telefone que
Traz este mar sonoro – Alma ancorada em voz
E quando suplicas que eu te consagre em rito
Eu me banho incensada em orquídeas, jasmins
E quando amanhece e meu ser desperta – Eis:
A primeira miragem – teu rosto dentro de mim
Tu que estás dentro de mim, tu que estás aqui
Dentro de mim. Teu sopro corpo palavra e pau
Dentro de mim. Teu olhar – vidro que parte as
Paredes e me invade. Logo ali a garota sonha -
Tolices ancestrais: Amor eterno casar ser feliz
A pássara que rega com sua aura o raio da lua
Morre de pena da garota que crê – Amor esta
Utopia Mor. O teu grito é o eco do meu – Nós
Cremos sim é no desejo insano inaugurando o
Sol ardente de Eros e a Lua escandalosa dela –
Poderosa Afrodite – Neste intercâmbio voraz:
Tua sutileza que abre minha vulva sem tocar;
Minha loucura: A endurecer teu pau e eriçar
Pelos – Nós nos buscamos na manhã – Neste
Tudo de amar. E quando despes meu vestido
Nada acima da pele. Nada no ar. A não ser a
Canção. Nada a passear no chão – E o mundo
Não sabe que ali – naquela janela – É o Éden
A coberta da cama agora é nuvem. Soro vivo
– teu sêmen que me lava poro a poro. Sim!
A consagração da vida em coito puro a curar
Todo o cansaço, agonia, dores, temores gris
:: O desejo saciado é o céu que nos visita ::
:: O desejo saciado é o amor envelhecido ::
O desejo é um velho sábio, que sacode o ar
E segue sua trilha morto de pena do amor -
Este impostor – Que há séculos e séculos e
Séculos amém nubla esconde a dádiva mor
– Eu te desejo – Tu me desejas
Utopia não nos sacia. Só o desejo -
Só o desejo que chegou sem aviso
Registro, AR – telegrama onírico à
Nossa frente – A nos gritar para não adiar
Teu desejo – Meu desejo – Murmuramos:
Que Eros nos Proteja! Nos Proteja! AMÉM
Bárbara Lia (Assaí, 24 de agosto) é uma escritora brasileira.
Nasceu em Assaí, norte do Paraná. Publicou poemas em jornais literários como Rascunho, Garatuja, Mulheres Emergentes, Revista Etcetera, Revista Coyote, Ontem choveu no futuro. Na Internet, tem textos publicados na Zunái, Cronópios, Blocosonline, Editora Ala de Cuervo, entre outros.
Bárbara foi por duas vezes finalista do Prêmio Sesc de Literatura: em 2004 com o romance Cereja & Blues (inédito em livro) e, em 2005, com o romance Solidão Calcinada (publicado em 2008 pela Secretária de Estado da Cultura). Terceira Colocada no Concurso de Poesias Helena Kolody – 2006, Menção Honrosa no mesmo concurso em 2007. Menção Honrosa no Conc. Nacional de Contos Newton Sampaio/2009. Premiada no Concurso de Contos Grotescos – Prêmio Edgar Alan Poe/2009 e PrêmioUfes Literatura/2009. Entre outros importantes poetas da atualidade, faz parte do livro de ensaios O que é poesia? (Ed. Confraria do Vento), organizada por Edson Cruz.
Obra
O sorriso de Leonardo (Poesia, Edições Kafka – 2.004)
O sal das rosas (Poesia, Lumme editor – 2.007)
A última chuva (Poesia, ME – ed. alternativas – MG – 2.007)
Solidão Calcinada (Romance, Secretaria da Cultura / Imprensa Oficial do Paraná – 2008)
Constelação de Ossos (Romance, Vidráguas/2010)
Fonte:blog leituras favre
A torneira e a água
Uma das imagens mais antigas da minha vida foi uma torneira velha, rosqueada num pedaço de cano enferrujado, que encontrei em alguma rua da minha infância. Estava com um vizinho da mesma idade que, afinal, foi testemunha do meu projeto de engenharia. “Se a gente espetar esse cano na terra e esperar um pouco, é só abrir a torneira e vai jorrar água”. As palavras, reinvento-as agora, mas a ideia era essa. Uma lógica afinal irretocável, fruto da atenta observação de muitas torneiras em muitos quintais, brotando da terra como apoio de um cano – todas funcionando. Por que a minha não funcionaria?
Era preciso escolher bem o lugar, de terra mais fofa, para facilitar a implantação daquele breve aparelho, e de tanto procurar acabei voltando para casa, com a assessoria do vizinho, tão ansioso quanto eu para comprovar a tese. Era mesmo uma euforia – uma torneira pessoal, com água à vontade, para criar uma usina particular, encher baldes de plástico, fazer lama, barro e – diriam as mães – emporcalhar o mundo.
Nos fundos de casa, o melhor ponto, decidi, seria próximo da parede para que ninguém tropeçasse na torneira. A terra seca ali – inútil tentar abrir um buraco com as unhas, mas tentamos.
– Tem de enterrar muito fundo? – o vizinho perguntou, olhando as unhas sujas.
– Assim assim – expliquei com um gesto vago das mãos para manter o comando técnico da operação. Mas também percebi que, com os dedos, o trabalho seria difícil. Em dois minutos encontrei uma faca velha e me pus a cavoucar o buraco, sob o olhar atento do vizinho aprendiz. Hoje divago se a atenção se devia à dúvida de que a torneira funcionasse ou se pela ansiedade de um milagre próximo, simples, funcional e lógico.
Buraco pronto e razoavelmente profundo, espetei o cano com capricho. O vizinho encheu a folga com terra e pressionou-a bem em torno do cano para deixar a obra firme e segura. Era hora de abrir a torneira, o que fiz com parcimônia e certa solenidade, talvez preocupado com os respingos do jorro d’água.
Nada. Ficamos contemplando a torneira aberta e cheia de vento durante alguns segundos, cabecinhas fervendo atrás de uma boa explicação. Senti a condescendência generosa do vizinho diante do fracasso que, agora, era inteiramente meu: “Talvez precise esperar um pouco para a água subir”. Desconfiei de que ele sorria. Fechei e abri de novo a torneira, mas não pensava mais na água – apenas na profunda injustiça de que eu estava sendo vítima.
Mais de meio século depois, relembro o episódio para me assegurar de que, de fato, nunca fui precoce. Tento lembrar em que momento da infância Jean Piaget localiza o estalo abstrato capaz de entender a relação entre a água e a torneira, só para saber se meu atraso era grande. Não importa – passei o resto da vida espetando canos na terra para ver se jorrava água. Dizem que às vezes dá certo.
Cristovão Tezza.
Gazeta do Povo21/12/2010 |
segunda-feira, 20 de dezembro de 2010
sábado, 18 de dezembro de 2010
sexta-feira, 17 de dezembro de 2010
RÉQUIEM
E meu poema tornou-se sangue
Tornou-se vinho, fel, paixão...
Foi água presa, aurora e mangue,
Mas não nasceu da inspiração.
.
E o meu poema teve as dores
De um texto pobre declamado,
Teve desilusões e teve amores,
Porém não fora inspirado.
.
E o meu poema teve alegrias,
Foi tão pequeno e infinito
Com pretensões tolas, tardias,
E só morreu por ser escrito.
.
O.T.Velho
Tornou-se vinho, fel, paixão...
Foi água presa, aurora e mangue,
Mas não nasceu da inspiração.
.
E o meu poema teve as dores
De um texto pobre declamado,
Teve desilusões e teve amores,
Porém não fora inspirado.
.
E o meu poema teve alegrias,
Foi tão pequeno e infinito
Com pretensões tolas, tardias,
E só morreu por ser escrito.
.
O.T.Velho
quinta-feira, 16 de dezembro de 2010
TREJEITOS E GESTOS
E o meu poema fez-se velho
Surgiu, um dia, amarrotado
Me fez lembrar um evangelho
Que tinha algo anotado.
.
E o meu poema fez-se carne
De condição inconsistente
Já não podia mais deixar-me
Era meu corpo ali presente.
.
E o meu poema fez-se tudo
Numa sequencia interminável
Parou um dia, fez-se mudo
E assim tornou-se inacabável.
.
O.T.Velho
Surgiu, um dia, amarrotado
Me fez lembrar um evangelho
Que tinha algo anotado.
.
E o meu poema fez-se carne
De condição inconsistente
Já não podia mais deixar-me
Era meu corpo ali presente.
.
E o meu poema fez-se tudo
Numa sequencia interminável
Parou um dia, fez-se mudo
E assim tornou-se inacabável.
.
O.T.Velho
MINHAS PRECATÓRIAS
Eu não sou o que pareço,
Sou o lugar onde me ponho
Mas eu dele só conheço
Que faz parte de um sonho.
A outra parte em mim é algo
Que suporta minha crença
Tem trejeitos de um fidalgo
Nada diz, não dorme ou pensa.
.
Uma tem em seus enganos
Os que a outra cometeu
Pois fizeram os mesmos planos
Pra não serem como eu.
.
O.T.Velho
Sou o lugar onde me ponho
Mas eu dele só conheço
Que faz parte de um sonho.
A outra parte em mim é algo
Que suporta minha crença
Tem trejeitos de um fidalgo
Nada diz, não dorme ou pensa.
.
Uma tem em seus enganos
Os que a outra cometeu
Pois fizeram os mesmos planos
Pra não serem como eu.
.
O.T.Velho
OLHOS DA COR DO MAR
Não tira teus olhos dos meus
Pois desta mescla esparsa
Resulta em ver-me nos teus
O que nos meus se disfarça.
.
Pois um olhar tanto exclama
E quando fala de si
É como o brilho ou a chama
Do meu olhar visto em ti.
.
É assim que os olhos se vêem
Numa intenção de dizer
Que toda a visão que contém
Vem de um outro os ver.
.
O.T.Velho
Pois desta mescla esparsa
Resulta em ver-me nos teus
O que nos meus se disfarça.
.
Pois um olhar tanto exclama
E quando fala de si
É como o brilho ou a chama
Do meu olhar visto em ti.
.
É assim que os olhos se vêem
Numa intenção de dizer
Que toda a visão que contém
Vem de um outro os ver.
.
O.T.Velho
REENTRÂNCIAS
A vida por meus olhos passa
Sem que eu perceba exatamente;
Sou a vidraça que se embaça
E a nada vê tão claramente.
.
E ainda assim não sei notá-la
Ou distinguir a intenção
Da mesma imagem que se cala
Quando me escapa da visão.
.
Somente sei reconhecê-la
Até onde posso arguir;
Se o céu existe numa estrela
Eu fiz-me dela ao existir.
.
O.T.Velho
Sem que eu perceba exatamente;
Sou a vidraça que se embaça
E a nada vê tão claramente.
.
E ainda assim não sei notá-la
Ou distinguir a intenção
Da mesma imagem que se cala
Quando me escapa da visão.
.
Somente sei reconhecê-la
Até onde posso arguir;
Se o céu existe numa estrela
Eu fiz-me dela ao existir.
.
O.T.Velho
NA ESTRADA PRA CURIAPEBA
O pneu velho na estrada
que sabe ele de ser?
Não teve a vida começada,
E bem pouco a pode ter.
.
Nada foi do que não acha,
Se perdeu no segmento,
Com seu corpo de borracha
Na estrada em movimento.
.
Se mais nada lhe ocorreu,
Não importa ter morrido,
Foi somente um pneu,
No bem pouco a ser sabido.
.
O.T.Velho
que sabe ele de ser?
Não teve a vida começada,
E bem pouco a pode ter.
.
Nada foi do que não acha,
Se perdeu no segmento,
Com seu corpo de borracha
Na estrada em movimento.
.
Se mais nada lhe ocorreu,
Não importa ter morrido,
Foi somente um pneu,
No bem pouco a ser sabido.
.
O.T.Velho
AS TARDES DA RUA XV
Eu não conheço um dia calmo,
Tudo que sei ou que conheço,
Fica à distância de um palmo
Da simetria que obedeço.
.
Também não tenho a inspiração
Que justifique o mero ato
De me enredar na produção
Deste rabisco ou relato.
.
Pois nada penso que entabule,
Na idéia tola e associada,
Algum escrito que se anule
Na dissertação mal começada.
.
O.T.Velho
http://velhopoema.blogspot.com/
fonte :Conservatório Íntimo
Tudo que sei ou que conheço,
Fica à distância de um palmo
Da simetria que obedeço.
.
Também não tenho a inspiração
Que justifique o mero ato
De me enredar na produção
Deste rabisco ou relato.
.
Pois nada penso que entabule,
Na idéia tola e associada,
Algum escrito que se anule
Na dissertação mal começada.
.
O.T.Velho
http://velhopoema.blogspot.com/
fonte :Conservatório Íntimo
terça-feira, 14 de dezembro de 2010
domingo, 12 de dezembro de 2010
quinta-feira, 9 de dezembro de 2010
PLETORA PLANETÁRIO
Na terra, a vida errante
Em marte, a arte
A arte da guerra
rima na terra
Os marcianos
sem oceano, rio
sem mar, sem mãe
Na terra, Netuno
Os terráqueos
vêem Vênus
multiplicada
vespertina e no
crepúsculo da tarde
Vênus que arde, que brilha
Estrela do amor
Na terra, planta planeta
que nasce ao Sol
Tempo soturno
devora os frutos da terra
à base de urânio
e,suporte,
lá se vão os anéis
ficando dedos
mais úteis e necessários
que luas exageradamente dispostas
ao redor de alguma redondeza sem vida
Há muito a descrever
e por descobrir,
desdobrar,
transcender,
inventar,
escavar,
exprimir,
prosa!
Maria José de Menezes
Em marte, a arte
A arte da guerra
rima na terra
Os marcianos
sem oceano, rio
sem mar, sem mãe
Na terra, Netuno
Os terráqueos
vêem Vênus
multiplicada
vespertina e no
crepúsculo da tarde
Vênus que arde, que brilha
Estrela do amor
Na terra, planta planeta
que nasce ao Sol
Tempo soturno
devora os frutos da terra
à base de urânio
e,suporte,
lá se vão os anéis
ficando dedos
mais úteis e necessários
que luas exageradamente dispostas
ao redor de alguma redondeza sem vida
Há muito a descrever
e por descobrir,
desdobrar,
transcender,
inventar,
escavar,
exprimir,
prosa!
Maria José de Menezes
In Questão
7 setembro latino
desfile de brigadas
povo assiste a isso
sob forte pressão solar
independência ou morte
o tanque avança
o toque de recolher
as bandeirinhas se agitam
venceu o campeonato
o adversário sucumbe
na praça da paz celestial .
Maria José de Menezes
desfile de brigadas
povo assiste a isso
sob forte pressão solar
independência ou morte
o tanque avança
o toque de recolher
as bandeirinhas se agitam
venceu o campeonato
o adversário sucumbe
na praça da paz celestial .
Maria José de Menezes
quarta-feira, 8 de dezembro de 2010
segunda-feira, 29 de novembro de 2010
sexta-feira, 26 de novembro de 2010
quarta-feira, 24 de novembro de 2010
POEMA DO DUPLO VINCO ( UM EM CADA PERNA DA CALÇA) ESCOLAR
Se pensas que Andy
andou apenas nas ruas
por onde suas pernas carregavam
sua calça
convém saber
que nada morre
e ele anda
ao seu lado
na rua, no automóvel
na nave que corre o espaço
carregando os dez mais da Forbes
Tchau Andy
E Guimarães?
Pelo sertão,
pelo certo da diplomacia,
no avião,
no casamento,
no quarto,
nos quartos de um cavalo?
Olha que pode estar aí agora
vendo diante dos seus olhos
uma vitrine
Sua nota é sua para você
procure isto e isto
vá adiante
Quanto ao seu compromisso,
os resultados de seu exercício,
a aprovação de resultados:
procure o ponto aberto.
Maria José de Menezes
andou apenas nas ruas
por onde suas pernas carregavam
sua calça
convém saber
que nada morre
e ele anda
ao seu lado
na rua, no automóvel
na nave que corre o espaço
carregando os dez mais da Forbes
Tchau Andy
E Guimarães?
Pelo sertão,
pelo certo da diplomacia,
no avião,
no casamento,
no quarto,
nos quartos de um cavalo?
Olha que pode estar aí agora
vendo diante dos seus olhos
uma vitrine
Sua nota é sua para você
procure isto e isto
vá adiante
Quanto ao seu compromisso,
os resultados de seu exercício,
a aprovação de resultados:
procure o ponto aberto.
Maria José de Menezes
Fratura
O frio me fez desistir de entrar na fila para o show da cantora em queda triunfante."Pra onde vou?", reclamava sozinho .Vivia uma tormenta de ansiedade, queria chegar ao depois o tempo todo, o que se dava no ato me interessava cada dia assustadoramente menos. Então fui, pus-me a correr no parque glacial. E tanto que quebrei a perna . sentado numa súbita cadeira de rodas, observo o plantonista que me engessou limpando as mãos, óculos pendentes. Ali , invejei sua morna retidão. Uma fosforescência vazava do teto, baixava pela sala. Ninguém mais parecia perceber. O banho azulado me fazia esquecer...Até ele falar bem perto que eu já podia ir..."Hein?", respondi estremecendo, lançando sem querer um sumo de saliva em sua lente imaculada...
João Gilberto Noll. in Relâmpagos
terça-feira, 23 de novembro de 2010
A lei e a luz
A fé islâmica tem ensinamentos úteis.Cilene olhou para o marido."Sabia que lá não pode beber?Você já estaria preso, Wilsinho."O rapaz reagiu."E lá mulher fica de bico calado ."Cotidiano de atritos.Wilsinho ficava bebendo e fumando até de madrugada.Cilene mostrava a conta de luz."Culpa sua,de ficar acordado até tão tarde."Wilsinho comprou uma luminária a gás.Estava adormecendo quando viu uma fumacinha sair do primitivo artefato .Um gênio da lâmpada apareceu."Jihad,Wiltsinha.Derrotar a inimiga."Wilsinho se interessou."Bin Laden? És tu ?" Não teve resposta.Uma brasa do cigarro encostou no bico do gás.A explosão foi fatal .Cilene acha tudo merecido.Onde falta luz elétrica, o retrocesso é inevitável.
Voltaire de souza.in Vida Bandida
Pedido
Você vai pedir.Vai pedir peito, vai pedir prato, vai pedir emprego.Vai pedir arrego.Vai pedir beijo, um abraço, um aperto.Pedir que parem.Pedir que continuem.Pedir na frente.Pedir por trás.Vai pedir demais.Vai pedir de dia,vai pedir de tarde, vai pedir de noite.Vai ajoelhar por cima dos cacos da tua empáfia.Vai pedir pra a polícia.Vai pedir pra máfia.Pedir o que perde.Pedir o que ganha.Quando está quase pronto.Quando não faz diferença.Uma floresta de desejos pendurados no pescoço.Infinitas impossibilidades.Onde quer que se vá, você vai. Vai pedir . Uma depois da outra. Por dentro e por fora. E continuar pedindo.Vai pedir muito . Vai até pedir pra ser amado.Apesar de você.Vai pedir até morrer.
Fernando Bonassi.in Da Rua
domingo, 21 de novembro de 2010
sexta-feira, 19 de novembro de 2010
Capitu
Capitu
Nunca mais
olhos de ressaca
desejos, inconstâncias
nem sonhos pueris
em mim, esta lagoa rasa
afoga memórias
cuja profundidade
fazia valer o perigo.
que se guarde sempre:
para continuar vivendo -
viver!
Lúcia Gönczy
Nunca mais
olhos de ressaca
desejos, inconstâncias
nem sonhos pueris
em mim, esta lagoa rasa
afoga memórias
cuja profundidade
fazia valer o perigo.
que se guarde sempre:
para continuar vivendo -
viver!
Lúcia Gönczy
"Eu triste sou calada
Eu brava sou estúpida
Eu lúcida sou chata
Eu gata sou esperta
Eu cega sou vidente
Eu carente sou insana
Eu malandra sou fresca
Eu seca sou vazia
Eu fria sou distante
Eu quente sou oleosa
Eu prosa sou tantas
Eu santa sou gelada
Eu salgada sou crua
Eu pura sou tentada
Eu sentada sou alta
Eu jovem sou donzela
Eu bela sou fútil
Eu útil sou boa
Eu à toa sou tua".
Martha Medeiros
Eu brava sou estúpida
Eu lúcida sou chata
Eu gata sou esperta
Eu cega sou vidente
Eu carente sou insana
Eu malandra sou fresca
Eu seca sou vazia
Eu fria sou distante
Eu quente sou oleosa
Eu prosa sou tantas
Eu santa sou gelada
Eu salgada sou crua
Eu pura sou tentada
Eu sentada sou alta
Eu jovem sou donzela
Eu bela sou fútil
Eu útil sou boa
Eu à toa sou tua".
Martha Medeiros
[In] Confissão
Continuo escrevendo pra você...
certo que, bem menos.
menos tempo
menos entusiasmo
menos amor
mais cansaço.
Entretanto, conservo-o
vivo e quente na memória
da pele, do cheiro, do tato.
Certo...
Cada vez menos reticências,
carências e síndromes de abstinências-
que ratificam a espera impugnada;
os laços em nós, desatados.
Não sinto mais ausência nem
dor;
Só apuro os fatos, e ...sem querer,
novamente me delato:
Sim, eu ainda te amo!
Lúcia Gönczy
certo que, bem menos.
menos tempo
menos entusiasmo
menos amor
mais cansaço.
Entretanto, conservo-o
vivo e quente na memória
da pele, do cheiro, do tato.
Certo...
Cada vez menos reticências,
carências e síndromes de abstinências-
que ratificam a espera impugnada;
os laços em nós, desatados.
Não sinto mais ausência nem
dor;
Só apuro os fatos, e ...sem querer,
novamente me delato:
Sim, eu ainda te amo!
Lúcia Gönczy
segunda-feira, 15 de novembro de 2010
O Buda do café
Quer dizer que, se você consegue dormir, acaba sonhando com parentes e cachorros mortos, e que , por mais que você trabalhe, nunca se sente recompensado, e o que você anda botando pra dentro nem faz mais "aquele puta efeito ", que as mulheres não andam lá essas coisas, e que os jornais vão se apinhando intocados, que você gasta dinheiro sem querer ,seu carro vive ficando sem gasolina, e você não pode doar sangue porque desmaia, e que isso é rídiculo nalguém como você...que você tropeça com facilidade, encosta em porta suja de graxa, e amizade também não é mais o que era na vida das pessoas, e que o próprio deus "tira o chão" quando você ajoelha pra rezar? Eu me contentaria com um café bem feito.
Fernando Bonassi. in Da Rua
Miragens
Ele me seguia.Não era um perseguidor dos desocupados.Não, não se tratava desses que vão no encalço dos que costumam sair por aí tirando uma força do descaso , outra das artérias...Ele me seguia para farejar na moita a "andreja rotina " do meu ofício encoberto".Precisava ilustrar o que as rodas de excedentes identificavam como "verve furtiva da vadiagem".Escrevia "Arcos de Ascese", livro sobre "surdas dissidências, em apenas sete curtas rondas ".No parque Farroupilha, vi sua mancha entre ramagens.Deitei na grama."A estátua que me escondia/por pouco não se vertia/ por seu cântaro quebrado."Ouvia no radinho:"Vencer as horas/ e com tal melancolia/ é façanha de arenosa sudorese". Quem cantava já não lembro.Lembro de uns olhos fixos, calados...
João Gilberto Noll.in Relâmpagos
Máscara de barro
Ressucitei quantas genealogias,
tive já quantos nomes,
quantas alturas, quantas infâncias ?
Fui já algo como máscara de barro
já ouvi a água e sentia terra,
escutei as vozes se misturarem.
Estive presente quando àtua morte
e velamos teus restos,
queimamos teus ossos,
comemos teupó que em mim estará.
Hoje, quando me deito,
quando me deixo, e fico, e digo:
CONSUMI-ME !
homens com carne nos dentes,
homens com almas nos olhos ,
homens com enfeites de pena,
homens com palha e palhoça.
Consumi-me que haverei de consumi-los
em outras bocas,
em outros pratos,
em outra festa,
na mesma lua antes da chuva.
Seremos corpos em corpos,
estaremos únicos.
Fausto Rogério Amadigi
O Grito.n4.1999.
tive já quantos nomes,
quantas alturas, quantas infâncias ?
Fui já algo como máscara de barro
já ouvi a água e sentia terra,
escutei as vozes se misturarem.
Estive presente quando àtua morte
e velamos teus restos,
queimamos teus ossos,
comemos teupó que em mim estará.
Hoje, quando me deito,
quando me deixo, e fico, e digo:
CONSUMI-ME !
homens com carne nos dentes,
homens com almas nos olhos ,
homens com enfeites de pena,
homens com palha e palhoça.
Consumi-me que haverei de consumi-los
em outras bocas,
em outros pratos,
em outra festa,
na mesma lua antes da chuva.
Seremos corpos em corpos,
estaremos únicos.
Fausto Rogério Amadigi
O Grito.n4.1999.
Elogio do prazer (fr. 1 W)
O que é a vida? O que é o prazer, sem a dourada Afrodite?
Que eu morra, quando estas coisas já não me interessarem:
o amor secreto, as suaves ofertas e a cama,
que são flores da juventude sedutoras
para homens e mulheres. Mas quando chega a dolorosa
velhice, que faz até do homem belo um homem repulsivo,
tristes preocupações sempre lhe moem os pensamentos
e já não sente prazer em contemplar a luz do sol,
mas é odiado pelos rapazes e desonrado pelas mulheres.
Assim áspera foi a velhice que o deus impôs.
Mimnermo. Poesia Grega de Álcman a Teócrito. Organização, tradução e notas Frederico Lourenço,Livros Cotovia, Lisboa, 2006 p.31
O que é a vida? O que é o prazer, sem a dourada Afrodite?
Que eu morra, quando estas coisas já não me interessarem:
o amor secreto, as suaves ofertas e a cama,
que são flores da juventude sedutoras
para homens e mulheres. Mas quando chega a dolorosa
velhice, que faz até do homem belo um homem repulsivo,
tristes preocupações sempre lhe moem os pensamentos
e já não sente prazer em contemplar a luz do sol,
mas é odiado pelos rapazes e desonrado pelas mulheres.
Assim áspera foi a velhice que o deus impôs.
Mimnermo. Poesia Grega de Álcman a Teócrito. Organização, tradução e notas Frederico Lourenço,Livros Cotovia, Lisboa, 2006 p.31
domingo, 14 de novembro de 2010
O passo de prata
Apoiou-se no cabo do guarda chuva para se firmar melhor. Esperava o ônibus...Já sentado, apertou a perna direita. Desceu, o guarda- chuva feito bengala. Seguia uma linha imaginária para não cair na rua vazia. Sob o subúrbio descia uma noite precoce,um prenúncio de tormenta no meio da tarde. Entrou no terreno baldio. ao longe, uma voz cantava bêbada.Sorriu,disfarçando a tentação de desistir do que fora fazer ali. Mas reagiu, arregaçou a calça e olhou a perna sem pudor, pela primeira vez a céu aberto : a engrenagem de aço, da coxa ao pé, no tom carregado do céu, logo recebeu os pingos que começavam a se alastrar.era o primeiro passeio da perna mecânica. Abriu os braços com instinto jovial. E deixou-se ficar na tempestade, convalescendo mais e mais...
João Gilberto Noll. in Relâmpagos
Paisagem noturna
Sábado à noite a cidade pròspera luzindo ao fundo, como pequenas fogueiras (não esqueçamos: o inferno é aqui).Todos os bares escusos são perigosos. Escuro pra se divertir enforcando um gato, estourando uma luz de mercúrio. Fugindo dos camburões que brincam de tiro ao alvo. Cada um se segura num emprego, descola alguma coisa pra vender : fichas telefônicas ,roupas dando sopa nos varais,Opalas 79.Algo pra fumar,pra beber até cair de qualquer altura.Dando voltas no próprio rabo.segunda- feira ainda é apenas fumaça.Ninguém pensa que vai morrer.Ninguém pensa que vai sobrar.
Fernando Bonassi.in Da Rua.
sábado, 13 de novembro de 2010
Voltar a cantar
voltar a cantar o que é claro
com um verso muito claro.
Voltar a falar do que é simples
como quem se sabe simples.
Voltar a rimar a palavra
consoante outra palavra.
Voltar a medir uma estima
com o metro de outra estima.
Voltar a dizer com a boca
o que quer a tua boca.
Voltar a saber de ouvido
o que soa em todo ouvido.
Voltar a sentir o de sempre
porque nada é para sempre.
Voltar a viver o que vive
porque belo é quanto vive.
marcelo Sandmann
com um verso muito claro.
Voltar a falar do que é simples
como quem se sabe simples.
Voltar a rimar a palavra
consoante outra palavra.
Voltar a medir uma estima
com o metro de outra estima.
Voltar a dizer com a boca
o que quer a tua boca.
Voltar a saber de ouvido
o que soa em todo ouvido.
Voltar a sentir o de sempre
porque nada é para sempre.
Voltar a viver o que vive
porque belo é quanto vive.
marcelo Sandmann
"Ouça o povo a cantar
dentro da noite o seu refrão
Eis a canção de todo um povo
Que atravessa a escuridão
Como a chama que acendeu
E que jamais vai se apagar
Sombras da noite vão sumir
Quando o sol raiar
Vão viver em liberdade
Pelos pátios do Senhor
Caminhar por entre as flores
Sem as facas do terror
Correntes quebradas
E todos terão seu valor . "
Trecho de canção sem-título de Claude Michel Schönberg em "Les Misérables ",versão de Cláudio Botelho
dentro da noite o seu refrão
Eis a canção de todo um povo
Que atravessa a escuridão
Como a chama que acendeu
E que jamais vai se apagar
Sombras da noite vão sumir
Quando o sol raiar
Vão viver em liberdade
Pelos pátios do Senhor
Caminhar por entre as flores
Sem as facas do terror
Correntes quebradas
E todos terão seu valor . "
Trecho de canção sem-título de Claude Michel Schönberg em "Les Misérables ",versão de Cláudio Botelho
Rima louca
Ah! rima louca
de estrada com amor
de nada com bobagem
de figura com saudade
de amargura com mel
Ah!rima louca
de eco com coração
de afeto com prazer
de estória em movimento
de trajetória em vida.
Márcia de Assis Cardoso
de estrada com amor
de nada com bobagem
de figura com saudade
de amargura com mel
Ah!rima louca
de eco com coração
de afeto com prazer
de estória em movimento
de trajetória em vida.
Márcia de Assis Cardoso
Quem entrega o corpo
Quem entrega o corpo à sorte
sabe sorver a inquietude,
sabe que nada é muito forte,
favo de vício ou virtude.
Quem entrega o corpo à arte
sabe o sabor de um martírio,
sabe que a alma nunca parte,
sempre aqui o seu retiro.
Quem entrega o corpo à vida
sabe beber da beleza,
sabe a reza comovida
nun rosário de incerteza.
Quem entrega o corpo à morte
sabe seguir o seu signo,
sabe que nada impede o corte,
último único desígnio.
Marcelo Sandmann
sabe sorver a inquietude,
sabe que nada é muito forte,
favo de vício ou virtude.
Quem entrega o corpo à arte
sabe o sabor de um martírio,
sabe que a alma nunca parte,
sempre aqui o seu retiro.
Quem entrega o corpo à vida
sabe beber da beleza,
sabe a reza comovida
nun rosário de incerteza.
Quem entrega o corpo à morte
sabe seguir o seu signo,
sabe que nada impede o corte,
último único desígnio.
Marcelo Sandmann
terça-feira, 9 de novembro de 2010
Os bêbados
Pra dizer a verdade, mais era ela...gostava da tontura!Nunca ligou pra enjôo.Tomava naqueles cálices com um dedinho apontando pra mim.Dezenas deles.Coisa bonita aquele dedinho.Tinha esmalte marrom.Tinha carne rosinha .Nisso eu tomava também.Tomava de copo.Um dia o cálice quebrou e lá foi ela direto na garrafa .A gente nunca parava.Quando via já se estava acordando com um peso na cabeça.Até que um dia ela não acordou mais...e fim.Dali pouco mudou.Tudo que se traz pra casa ainda é de beber.Salários saindo no xixi.Qualquer hora dessas eu também me quebro.Corpo é troço que se estraga.Por isso, na minha hora,quero é estar bem tomado.Pra ser leve.Não tenho mais saco pra dor.
Fernando Bonassi.in Da Rua
Fugindo do calor
Verão forte na cidade .ari vendia coisa no farol.Tirou a camisa.Mostrou um torso de atleta.Dentro do Monza, a bela morena Nádia reparou."Hummm...gostei."Convidou Ari para entrar."vem dar um passeio."Foram parar num motel da Raposo.Ari se interessou."tem piscina?"Deu um mergulho .Nádia ficou esperando."E aí ,não vem me amar?"Ari fez que não."No calor prefiro uma piscininha."Na raiva,Nádia cortou-lhe o pescoço com um canivete."Vai para o IML.Que lá tem ar condicionado."Do interesse mesquinho dificilmente nasce um grande amor.
Voltaire de Souza.in Vida Bandida
Beijo na seda
Ela estava ali,à procura de uma cadeira para comprar, rondando como sempre meio tonta em busca do utensílio que a pudesse remediar a tempo, mesmo que não soubesse exatamente o que significava ser remediada a tempo-aliás, as palavras iam perdendo pouco a pouco a transparência que seu pai recomendava :"A frase deve assoprar a névoa que confunde para que possa haver verdadeiro alívio à noite: a cabeça enfim no travesseiro,já quase divorciada do verbo ,até que a claridade traga mais uma vez as sílabas,essas operárias das idéias,transações, freios."Num súbito,ela se sentou.De surpresa,beijou o forro adamascado do espaldar como se ela fosse um instinto sem a capa da epiderme,pura flora de nervos,voraz .Uma criança a observa com tenacidade.Feliz...
João Gilberto Noll.in Relâmpagos
Fôlegos
Antes que escurecesse, era preciso dar a caminhada.Desceu as escadas com uma gana maior do que seu corpo permitia.Parou.Se impulsionou de novo.Entre árvores do parque,vultos se procuravam afoitos, se contorciam.Ele se impôs maior velocidade, definiu o ritmo com mais precisão.Marchava incólume como um verdadeiro atleta.Notou uma mulher, já de certa idade, abraçada a um tronco.Parecia querer captar uma pulsação ilegível.Ele parou.Escolheu uma árvore .Abraçou-a.Viu que a mulher mexia os lábios.Fez o mesmo.Olhavam-se .A poucos passos um do outro.
João Gilberto Noll.in Relâmpagos
segunda-feira, 8 de novembro de 2010
A nossa casa
ascender as luzes, eu acendo.Todas. Ligar a TV, é assim que entro.Deixo até CD tocando no aparelho.Sem volume.Mais pra ver as luzes escorregando no ritmo. Todas roxinhas...já vitamina eu faço mesmo é no liquidificador.Às vezes boto gelo.Um escândalo.E eu nem falei do despertador, da impressora, da gaita que você meu deu em 83, da panela de pressão...Mas o que acaba comigo de verdade são essas violetas mortas que não jogo fora.e a poeira que aveluda as coisas. E a gordura que as faz brilhar. e as teias de aranha...Tudo isso que fizemos da nossa casa.
Fernando Bonassi.in Da Rua
A verdade
A mãe de Deonilson recebeu uma carta dele dois dias depois de um telegrama informando "seu falecimento ".No ano em que Deonilson sumiu, disse que iria arranjar a vida de uma vez e prometeu voltar quando tivesse a chave de um sobradinho pra família.Logo depois a mãe só podia visitá-lo uma vez por semana , com uma mesa atravessada entre os dois .Na carta, ele pedia para não ser esquecido nunca e que , por mais que "falassem dele ", pedia que ela acreditasse somente nas suas palavras.Mesmo assim, a mãe de Deonilson chorou por cima do telegrama.Então, claro,rnasceu com a carta.Por força dessas coisas, até a próxima visita, ela vai ficar assim: querendo saber a verdade da boca do próprio filho.
Fernando Bonassi.in Da Rua
Brasa dormida
A tecnologia avança.Mas devemos respeitar os valores do passado.Fred tinha uma coleção de discos de vinil.Curtia a jovem guarda.Noite de sexta.A vitrola no máximo."Quero que você me aqueça neste invé-ée-rno..."Do apartamento de cima, a reclamação.O sr. Barreto queria dormir.A resposta de Fred não foi de paz.Com um sopapo no aposentado, garantiu sua liberdade de expressão.depois, o sono.A visão estranha. O presidente Costa e Silva descia de um disco voador. Usava uma roupa prateada."Chega dessa baderna." No sonho, Fred reagia com uma pistola laser.Tentava torrar o marechal.Acordou com o apê em chamas.O cobertor elétrico entrara em curto.O vinil derretia, como os sonhos.Aconteça o que acontecer, estamos sempre indo para a frente.
Voltaire de Souza.in Vida Bandida
A conquista
Ah,era tanto, e Zé em tão pouco.se começasse cedo, antes do sol, talvez pudesse dar conta de um mínimo até o fim da tarde.Mas não , até que acordasse, conseguisse se levantar, abrir o chuveiro e se levantar , abrir o chuveiro e se dispor a conquistar a urgência da manhã...Queria, sim, o que o vizinho de corredor acolhia a cada despertar feito um ultimato sabe-se lá de onde , até voltar à noite ao seu apartamento ao lado, com a carne moída para os gatos, todos em volta dele ,rabo em pé,miando como no final dos tempos.Ah, era tanto, e Zé em tão pouco. sentou-se na cama um pouco excitado, como se tivesse toda duração do mundo para se distrair com sexo.Mas agora decidiu, desceu correndo as escadas. E diante do porteiro perguntou,perguntou o quê? ,ah ,"Que dia é,hein ? ".
João Gilberto Noll. in Relâmpagos.
domingo, 7 de novembro de 2010
No camarim
O mundo fashion volta a ferver.Mas a modelo Juju Santoro sentia frio no camarim."Não dá para ligar um aquecedor elétrico?"O promoter Tuko de Abreu olhou-a com desprezo."Ainda não caiu na real Juju?"Tuko foi professoral."Ra-cio-na-men-to."Juju se esfregava."me dá um chocolate então."Tuko moveu o indicador."Na-na-não.Muita caloria.Sua flácida."A música do desfile era animada.Juju ia ficando azul.O contra regra Lourival se aproximou."Quer o meu casaco?"Juju quis mais."Tua roupa toda."O sexo rolou numa boa.Na hora do desfile,Juju se vestiu as pressas.Usando o macacão de Lourival.Hoje o rapaz é um respeitado estilista.E Juju vive cem graus de paixão.Não se raciona afeto nem carinho.
Voltaire de Sousa.in Vida Bandida
Qualquer um
Irineu nasceu de cinco meses e nunca engatinhou.Andar, só depois dos três anos .Um dia,de repente .Gaguejou até os doze e , mesmo nessa época, ainda mamava.Em pé,diante dos peitos escancarados da mãe orgulhosa.Na escola quebrou braços e pernas.Soltava pum durante o Hino Nacional,derrubava merenda no uniforme e não entendia as vantagens de beijar de língua.Todos fugiam dele:marcava gol contra, tinha mau hálito e não decorava quem descobriu o Brasil.Ninguém dava um tostão por Irineu.No entanto, nada de esquisito aconteceu com ele .Provavelmente porque não entendia o que era "aquele lugar "onde, vira e mexe , o mandavam tomar.No fim, chegou até aqui, como qualquer um de nós.
Fernando Bonassi.in Da Rua
sábado, 6 de novembro de 2010
quinta-feira, 4 de novembro de 2010
Helena em londres
Há sempre alguém na redondeza batendo com o martelo.Um conserto,uma reforma?Sei que o som de descabelada utilidade conturba minha espera.
De um telefonema de uma filha.Está em Londres, conhecendo o homem com quem se casará em maio.Maio, sempre maio, enquanto eu aqui noto que o sol consome o tapete e que minha saia se esfarinha com o injusto martelar.Quando Elena liga, contando que tem um tarado a perseguiondo no parque de "Blow Up",sou eu que me desmancho atropelada pelos fatos.Passo meu resto na memória da pele...da gengiva.
João Gilberto Noll. in Relâmpagos
De um telefonema de uma filha.Está em Londres, conhecendo o homem com quem se casará em maio.Maio, sempre maio, enquanto eu aqui noto que o sol consome o tapete e que minha saia se esfarinha com o injusto martelar.Quando Elena liga, contando que tem um tarado a perseguiondo no parque de "Blow Up",sou eu que me desmancho atropelada pelos fatos.Passo meu resto na memória da pele...da gengiva.
João Gilberto Noll. in Relâmpagos
Aviso do além
A vida conjugal exige respeito e compreensão.Eliano andava muito irritado.Sua mulher se chamava Irís e começou a ter mania de espiritismo.Às quartas- feiras ,reunia um grupo e recebia mensagens do Além."Cretinice ".Irís reagia mal às críticas."Cretino é voce Eliano.Materialista .E gordão."Naquela noite ,Irís ouviu claramente de um espírito a previsão."seu marido vai morrer.Gordura no sangue."Íris avisou Eliano.Ele riu."Que venha a morte!Que eu morro já! "O ódio fez Íris pegar uma faca engordurada na cozinha.Matou o marido no coração. Na dúvida é melhor acreditar.
Voltaire de Souza.in Vida Bandida
Voltaire de Souza.in Vida Bandida
terça-feira, 2 de novembro de 2010
Nascidos
Filhos sem pais,
filhos do acaso,
filhos do mundo...
Seres humanos famintos
de arroz, feijão,de afeto,
de afago, de alguém que lhes d~e carinho.
Olhos brilhantes de águas
paradas no tempo que se foi,
outrora eram mais felizes ?
Ninguém sabe quem são esses
andarilhos, crianças descalças,
vozinhas solitárias,mãos trêmulas
pedindo esmolas.
Filhos,apenas filhos de Deus,
que procuram algo que lhes motivem a viver...
Esperança , sonhos, vontade,
coragem de enfrentar um novo amanhecer.
Filhos sem pais,
Filhos do acaso,
Filhos do mundo...
Apenas filhos, filhos de Deus.
Adriane M. de Assis
filhos do acaso,
filhos do mundo...
Seres humanos famintos
de arroz, feijão,de afeto,
de afago, de alguém que lhes d~e carinho.
Olhos brilhantes de águas
paradas no tempo que se foi,
outrora eram mais felizes ?
Ninguém sabe quem são esses
andarilhos, crianças descalças,
vozinhas solitárias,mãos trêmulas
pedindo esmolas.
Filhos,apenas filhos de Deus,
que procuram algo que lhes motivem a viver...
Esperança , sonhos, vontade,
coragem de enfrentar um novo amanhecer.
Filhos sem pais,
Filhos do acaso,
Filhos do mundo...
Apenas filhos, filhos de Deus.
Adriane M. de Assis
Cidade Mãe
Eu sei, já estamos separadas a alguns anos
Mas não consigo deixar de pensar em ti.
Sou como um bebê ao nascer
Quando em prantos é separado
do corpo da mãe.
Arrancaram-me do teu ventre
Roubaram-me o teu chão,
Privaram-me das tuas belezas,
Das tuas gentes.
Que saudade sinto dessa gente amiga !
Ontem, eu era sua criança
que passeava descalça nas ruas,
que balançava nas suas praças,
que contemplava teu céu.
E certo é, ninguém tem esse céu !
Ontem, eu era sua menina-moça
Buscava olhares cobiçosos na XV.
Sentia o vento cortante das manhãs de outono
E me encontrava com outras no muro do Normal.
Abro os olhos hoje, não sou mais menina
Forço o olhar e não estou mais aí
Então, fecho novamente os olhos...
É inútil !
Continuo aqui...Longe de ti
Cassiana Helena Guillen Cavarsan
Mas não consigo deixar de pensar em ti.
Sou como um bebê ao nascer
Quando em prantos é separado
do corpo da mãe.
Arrancaram-me do teu ventre
Roubaram-me o teu chão,
Privaram-me das tuas belezas,
Das tuas gentes.
Que saudade sinto dessa gente amiga !
Ontem, eu era sua criança
que passeava descalça nas ruas,
que balançava nas suas praças,
que contemplava teu céu.
E certo é, ninguém tem esse céu !
Ontem, eu era sua menina-moça
Buscava olhares cobiçosos na XV.
Sentia o vento cortante das manhãs de outono
E me encontrava com outras no muro do Normal.
Abro os olhos hoje, não sou mais menina
Forço o olhar e não estou mais aí
Então, fecho novamente os olhos...
É inútil !
Continuo aqui...Longe de ti
Cassiana Helena Guillen Cavarsan
Morto
Morto !
Estou morto!
E isto trás para perto
O desespero, o medo,
E a curiosidade dos que me velam.
Faço uma festa triste.
Deixo saudades,
Fico com a saudade,
E promovo encontros raros.
Mostro crença a ateus,
E dúvida a cristãos.
Para uns sou algo podre,
Para outros a redenção,
Agora enterrado,
Não vejo mais a luz.
Não sinto mais a luz.
Faço parte do passado.
Sou atacado por vermes.
Estou morto.
Sou fruto decompondo
Na terra, a qual fecundo.
Inexorável transformação
Do que outrora um dia fui.
Sou ser orgânico,
Puxado com a seiva,
Misturado ao adubo.
atravesso as castas deste mundo.
Mais do que isso, indubitavelmente,
volto a ver a luz
Através de meus olhos
Fotossintéticos.
Livre,
Salto pelo ar
Em átomos
Múltiplos.
Não sou mais um,
sou vário,
Misturado aos outros átomos.
Disperso,
Flutuo,
Dissolvo.
Vivo em tudo,
Vivo em todos,
Vivo em você.
Lindomar de Oliveira
Estou morto!
E isto trás para perto
O desespero, o medo,
E a curiosidade dos que me velam.
Faço uma festa triste.
Deixo saudades,
Fico com a saudade,
E promovo encontros raros.
Mostro crença a ateus,
E dúvida a cristãos.
Para uns sou algo podre,
Para outros a redenção,
Agora enterrado,
Não vejo mais a luz.
Não sinto mais a luz.
Faço parte do passado.
Sou atacado por vermes.
Estou morto.
Sou fruto decompondo
Na terra, a qual fecundo.
Inexorável transformação
Do que outrora um dia fui.
Sou ser orgânico,
Puxado com a seiva,
Misturado ao adubo.
atravesso as castas deste mundo.
Mais do que isso, indubitavelmente,
volto a ver a luz
Através de meus olhos
Fotossintéticos.
Livre,
Salto pelo ar
Em átomos
Múltiplos.
Não sou mais um,
sou vário,
Misturado aos outros átomos.
Disperso,
Flutuo,
Dissolvo.
Vivo em tudo,
Vivo em todos,
Vivo em você.
Lindomar de Oliveira
Esse tal meu coração,
tem alvura das paredes
a dureza das paredes
e é oco feito as tais.
Numas lisas fiz furinho,
ao pregar as minhas horas
vi seu sangue cor de tijolo,
tão sequinho esparramar.
Brocas fazem vis buracos,
e é tanta parede sofrendo...
...a viver de tic tacs.
Tempo, dizem : - tudo cura.
Mas não ,
na tapa as paredes.
Juliano Augusto Alves Furtado
tem alvura das paredes
a dureza das paredes
e é oco feito as tais.
Numas lisas fiz furinho,
ao pregar as minhas horas
vi seu sangue cor de tijolo,
tão sequinho esparramar.
Brocas fazem vis buracos,
e é tanta parede sofrendo...
...a viver de tic tacs.
Tempo, dizem : - tudo cura.
Mas não ,
na tapa as paredes.
Juliano Augusto Alves Furtado
domingo, 31 de outubro de 2010
segunda-feira, 25 de outubro de 2010
terça-feira, 12 de outubro de 2010
Angelo Branduardi – Vanità di vanità
Vai cercando qua, vai cercando là,
ma quando la morte tri coglierà
che ti resterà delle tue voglie?
Vanità di vanità.
Sei felice, sei, dei pensieri tuoi,
godendo solo d’argento e d’oro,
alla fine che ti resterà?
Vanità di vanità.
Vai cercando qua, vai cercando là,
seguendo sempre felicità,
sano, allegro e senza affanni…
Vanità di vanità.
Se ora guardi allo specchio il tuo volto sereno
non immagini certo quel che un giorno sarà della tua vanità.
Tutto vanità, solo vanità,
vivete con gioia e semplicità,
state buoni se potete…
tutto il resto è vanità.
Tutto vanità, solo vanità,
lodate il Signore con umiltà,
a lui date tutto l’amore,
nulla più vi mancherà.
Vai cercando qua, vai cercando là,
ma quando la morte tri coglierà
che ti resterà delle tue voglie?
Vanità di vanità.
Sei felice, sei, dei pensieri tuoi,
godendo solo d’argento e d’oro,
alla fine che ti resterà?
Vanità di vanità.
Vai cercando qua, vai cercando là,
seguendo sempre felicità,
sano, allegro e senza affanni…
Vanità di vanità.
Se ora guardi allo specchio il tuo volto sereno
non immagini certo quel che un giorno sarà della tua vanità.
Tutto vanità, solo vanità,
vivete con gioia e semplicità,
state buoni se potete…
tutto il resto è vanità.
Tutto vanità, solo vanità,
lodate il Signore con umiltà,
a lui date tutto l’amore,
nulla più vi mancherà.
A espera
Adalgisa Nery
Amado… Por que tardas tanto?
As primeiras sombras se avizinham
E as estrelas iniciam a noite.
Vem…
Pois a esperança que se acolheu em meu coração
Vai deixá-lo como um ninho abandonado nos penhascos.
Vem…Amado..
Desce a tua boca sobre a minha boca.
Para a tua alma levar a minha alma
Pesada de sofrimento!
Vem…
Para que, beijando a minha boca
Eu receba a sensação de uma janela aberta.
Amado meu…
Por que tardas tanto?
Vem…
E serás como um ramo de rosas brancas
Pousando no túmulo da minha vida…
Vem amado meu…
Por que tardas tanto?
Adalgisa Nery
Amado… Por que tardas tanto?
As primeiras sombras se avizinham
E as estrelas iniciam a noite.
Vem…
Pois a esperança que se acolheu em meu coração
Vai deixá-lo como um ninho abandonado nos penhascos.
Vem…Amado..
Desce a tua boca sobre a minha boca.
Para a tua alma levar a minha alma
Pesada de sofrimento!
Vem…
Para que, beijando a minha boca
Eu receba a sensação de uma janela aberta.
Amado meu…
Por que tardas tanto?
Vem…
E serás como um ramo de rosas brancas
Pousando no túmulo da minha vida…
Vem amado meu…
Por que tardas tanto?
domingo, 3 de outubro de 2010
quarta-feira, 29 de setembro de 2010
domingo, 26 de setembro de 2010
Diálogo com o meu eu
“Quem olha para dentro de si, sonha.
Quem olha para fora, pratica”.
Todo começo de ano é esperançoso. Promessas de fazer algo diferente, de mudar a rotina e de até fazer algo pelo outro, ou seja, ser caridoso. E aí começa a confusão de conceitos. Primeiro, porque colocamos nossas esperanças em coisas ou objetos. Segundo fazemos sempre as mesmas promessas, mesmo sabendo que nunca cumprimos. Terceiro: ser caridoso? Por quê? Que diferença isso faz?
Faria grande diferença se compreendêssemos, exatamente, o real significado dessa palavra, dessa atitude. Atualmente confundimos caridade (ser caridoso) com dar esmola - um dinheirinho aqui para um mendigo, um brinquedo de 1,99 ali para uma criança de rua, para um orfanato. Às vezes os mais “caridosos” doam uma cesta básica e até – olha só!! – uma cesta natalina, com direito a um frango para pessoas necessitadas. E isso é a caridade comunicada, exaustivamente, até pela TV. Abro parênteses (eu não costumo assistir TV, mas enquanto pensava em como começar a escrever para essa coluna cheguei a acompanhar 32 matérias, nos mais diversos programas sobre a caridade que surge por essas épocas). Essa mesma caridade que move as pessoas a esquecerem suas desavenças, pelo menos nessa época do ano, e assim, se “perdoam”; as famílias se reúnem e o espírito consumista do natal deixa o clima mais leve, mais festivo e isso faz transpor lágrimas em muitos olhos.
Mas a palavra CARIDADE anda, digamos, meio aborrecida com esse contrapor de significados e sentidos que a ela é dado. Segundo o Aurélio, o primeiro significado dessa palavra é “o amor que move a vontade à busca efetiva do bem de outrem” e, não é por acaso, que esse significado vem antes de benevolência, complacência e filantropia.
E o que é a “busca efetiva do bem de outrem”?
Sendo uma busca efetiva ela não pode ser temporária nem esporádica. Nós humanistas traduzimos essa busca efetiva como “trate os outros como você gostaria que te tratassem”. Isso resume toda nossa movida pela valorização humana. Tudo isso porque não acreditamos que nós, que o Ser Humano em si, seja uma “coisa”, um objeto qualquer que pode ser explorado e descartado a qualquer preço ou a qualquer momento. Não queremos para nós, e com isso não aceitamos para o outro, a violência, a discriminação, o preconceito, a indiferença.
Queremos condições igualitárias para todos. Condições também que nos permita ampliar nossa comunicação, aprender e se desenvolver cada vez mais e, com isso, valorizar as características individuais e coletivas.
Você pode dizer: “isso tudo é utopia”, mas só dirá isso se a frase escrita antes do início desse texto tenha lhe passado despercebida ou sem nenhum sentido. Nós humanistas praticamos nossos sonhos.
2011 poder virar um ano cheio de promessas, inclusive políticas. Antes de criticar as promessas não cumpridas, dos outros, seria bem interessante avaliarmos e praticarmos as nossas.
É isso aí. Que você possa, a começar por este ano, “olhar para fora” de si mesmo. E depois, quem sabe, para fora da sua janela.
Paula Batista
Ser criança é recordar
Não pude deixar de reparar
na conversa que alegrou minha alma
que instigou o sentimento adormecido.
Que pôs a prova o querer de recordar.
Não pude deixar de lembrar,
daquela velha ingazeira, que de maneira faceira,
eu escalava toda tarde, sem me importar.
Daquela bola de gude, dos buracos no chão... do pião.
Da manga verde com sal, de meu irmão.
Meu avô também era sábio.
Era poeta de improviso,
e tinha no rosto um sorriso,
Que eu não sabia dizer,
Se era pela donzela que comprava um pão
Ou pelo dinheiro que ele não abria mão.
Tempo bom era aquele,
De soltar pipa descalço e sem embaraço, qualquer um abraçar.
Se soltar na praça aos gritos.
Voar sem asas, sonhar sem medo, viver sem saber o que esperar... nada talvez.
Eita tempo de pipoca.
De se lambuzar no caju,
e poder encontrar ainda tempo pra estudar.
Esta sim é a arte de amar.
De ser criança e apenas brincar.
Sem querer crescer, sem pensar em contas pagar,
Apenas rir.. chorar, rir de novo, gargalhar.
Brincar e se esconder.
Quem pode saber é quem tem ainda a criança no olhar.
Basta apenas tentar,
Tentar recomeçar a viver,
E perceber que de repente acontece
em você...
Vale a pena recomeçar.
Ser criança é recordar.
Clayton de Jesus Sacramento Gomes. Paraense radicado em Curitiba.
Casado, pai de 04 filhas. Administração na UFPR.
gomesudv@yahoo.com.br
na conversa que alegrou minha alma
que instigou o sentimento adormecido.
Que pôs a prova o querer de recordar.
Não pude deixar de lembrar,
daquela velha ingazeira, que de maneira faceira,
eu escalava toda tarde, sem me importar.
Daquela bola de gude, dos buracos no chão... do pião.
Da manga verde com sal, de meu irmão.
Meu avô também era sábio.
Era poeta de improviso,
e tinha no rosto um sorriso,
Que eu não sabia dizer,
Se era pela donzela que comprava um pão
Ou pelo dinheiro que ele não abria mão.
Tempo bom era aquele,
De soltar pipa descalço e sem embaraço, qualquer um abraçar.
Se soltar na praça aos gritos.
Voar sem asas, sonhar sem medo, viver sem saber o que esperar... nada talvez.
Eita tempo de pipoca.
De se lambuzar no caju,
e poder encontrar ainda tempo pra estudar.
Esta sim é a arte de amar.
De ser criança e apenas brincar.
Sem querer crescer, sem pensar em contas pagar,
Apenas rir.. chorar, rir de novo, gargalhar.
Brincar e se esconder.
Quem pode saber é quem tem ainda a criança no olhar.
Basta apenas tentar,
Tentar recomeçar a viver,
E perceber que de repente acontece
em você...
Vale a pena recomeçar.
Ser criança é recordar.
Clayton de Jesus Sacramento Gomes. Paraense radicado em Curitiba.
Casado, pai de 04 filhas. Administração na UFPR.
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terça-feira, 21 de setembro de 2010
domingo, 19 de setembro de 2010
domingo, 12 de setembro de 2010
Joio
vivo na cidade
[grande]
o asfalto me engole toda
[todo dia]
junto, apatia- ignoro
...como vou?...
sou um tsunami de sentimentos
incertos
onde a verdade é só um pano
de fundo
poucas pessoas fazem
parte do meu mundinho
de resto, deleto direto -
papai-noel não existe!
Lúcia Gönczy
[grande]
o asfalto me engole toda
[todo dia]
junto, apatia- ignoro
...como vou?...
sou um tsunami de sentimentos
incertos
onde a verdade é só um pano
de fundo
poucas pessoas fazem
parte do meu mundinho
de resto, deleto direto -
papai-noel não existe!
Lúcia Gönczy
sábado, 11 de setembro de 2010
terça-feira, 7 de setembro de 2010
Constelação de Ossos
Meu novo livro abre a coleção - anáguas - da editora vidráguas que vai publicar contos, novelas e poemas eróticos - mais informações no meu email barbaralia@gmail.com
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