(Bárbara Lia)
mana, estamos sozinhas nas madrugadas puro estanho
nas tardes de farpas atravessando rios de intolerância
somos nós na janela prontas ao salto e a última lágrima
estilhaçadas antes do nosso sol dissolver no ar da beleza
mana, estamos sozinhas feito rara flor no deserto
o estatuto adâmico a voz das encíclicas as falsas posturas
a desnivelar nossa carne e alma
veja o rio caudaloso de sangue de todas que foram mortas
uma espécie de maldição que se carrega nas dobraduras
cada mulher leva em cada vínculo de osso e carne o sino
quando ela passa urge que pareça uma monja e que não soe
que nada soe que tudo cale que sua alma estelar se apague
urge que ninguém perceba o palpitar vivo em cada poro
que ela seja – a invisível que atravessa um pátio – para
sair viva
e o rio de sangue de todas que morreram só por ser – única –
aumenta à proporção do desgaste de tudo que é poesia
mana, estamos sozinhas nas madrugadas nas noites no deserto
lembre de não deixar pendências, escrever teu testamento
e olhar nos olhos como se fosse último olhar a cada tchau
que dás ao teu amor
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