domingo, 1 de janeiro de 2017

mana estamos sozinhas nas madrugadas


(Bárbara Lia)
mana, estamos sozinhas nas madrugadas puro estanho
nas tardes de farpas atravessando rios de intolerância
somos nós na janela prontas ao salto e a última lágrima
estilhaçadas antes do nosso sol dissolver no ar da beleza
mana, estamos sozinhas feito rara flor no deserto
o estatuto adâmico a voz das encíclicas as falsas posturas
a desnivelar nossa carne e alma
veja o rio caudaloso de sangue de todas que foram mortas
uma espécie de maldição que se carrega nas dobraduras
cada mulher leva em cada vínculo de osso e carne o sino
quando ela passa urge que pareça uma monja e que não soe
que nada soe que tudo cale que sua alma estelar se apague
urge que ninguém perceba o palpitar vivo em cada poro
que ela seja – a invisível que atravessa um pátio – para sair viva
e o rio de sangue de todas que morreram só por ser – única –
aumenta à proporção do desgaste de tudo que é poesia
mana, estamos sozinhas nas madrugadas nas noites no deserto
lembre de não deixar pendências, escrever teu testamento
e olhar nos olhos como se fosse último olhar a cada tchau
que dás ao teu amor


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