"Mas como nós falássemos a mesma coisa
as mesmas coisas mesma língua & dialeto
parecia possível retratar as margens
de cada termo contratar o nosso acerto
nas mãos do mundo & apertarmo-nos as mãos
entre toques & dedos & a carícia calcinada
dos dias numa nova ordenação do cosmo
então num gesto fácil nomear o mundo
flores de toda espécie com seus gostos cores
seus caules folhas frutos formas invisíveis
ou que nunca aprendemos por nunca querermos
por só preguiça de androceu & gineceu
seus novos nomes poderiam ser mais nossos
ao inventarmos juntos palavra a palavra
toda a sintaxe enquanto descemos a senda
encravada de asfalto nos veios da serra
neste carro qualquer os pés esvanecidos
por baixo do painel as mãos ainda pensas
ainda que sentados o olho sobre o vidro
anuncia a tormenta cinza sobre a mata
compostos de amarelo & púrpura & carmim
preenchem o que resta no pouco de céu
que ainda se desnubla neste fim de dia
enquanto desbotoamo-nos nalgum sorriso"
Trecho do ADUMBRA | de Guilherme Gontijo Flores
[ edição da Contravento Editorial]
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