segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

Sonhei com heróis que limpavam as botas sujas de lama em véus de linho branco.
Estávamos todos no quarto.
À porta da casa, amarrados aos troncos, os cavalos tinham as crinas trançadas.
E quando relinchavam, lembravam-me de um lago muito cinza e calmo.
À janela, eu fitava o sol e a luz era uma náusea.
Basta calar, disse a eles.
Disse aos estádios nos olhos deles.
Afundar o rosto na terra e ouvir os rumores das águas.
As jarras estáticas de leite no fundo da noite.
Bendizer o vazio, a pelagem castanha, os túneis.
Sei que a única inocência em mim é a dor.
Sei que a única inocência em mim é a dor,
repeti.
Sentamo-nos no tapete,
as roupas reverberando quentes e impenetráveis,
os terços em mãos,
tudo muito muito muito além de nossas botas limpas,
e oramos a uma pequena raposa ausente.
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[fernanda boaventura, in: o pasto anula-se em certos lilases, a ser publicado logo-logo pela La bodeguita]


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