Bebe sem pressa o teu vinho.
Estende a mão e colhe o que te é dado:
um naco de pão, o último raio do sol, a mulher ao teu lado.
Em breve será noite e não mais terás olhos para ver
nem mãos para palpar. Recolhe, portanto, no aprisco te tua
choupana,
o pequeno rebanho que tu não mais tosarás (outro o fará).
Guarda o teu cajado e a flauta de pã
que ninguém mais ouvirá na colina.
Senta-te à janela e, se quiseres, chora,
pois ninguém te devolverá a mocidade morta.
Os dias de ser feliz já estão longe
e tu os desperdiçaste. Contempla o céu
onde morre o sol e de onde virá a noite
que te ignora. Depois deita com a mulher ao teu lado
e a ama pela última vez. Mas não faças nenhuma oração.
Nenhuma. Os deuses não a ouvirão.
Otto
Leopoldo Winck
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