O cúspula é um animal de médio porte, de pelo rasteiro.
Emite um cheiro desagradável e tem como defesa o grito agudo, capaz de partir
copos de vidro, cristal. Não existe notícia de caçadores de cúspulas. Mas os
que se arriscam à lenda, esses velhinhos surdos que caçaram na floresta, no
capão, explicam que a surdez foi acidente com cúspulas. Uma história mal
contada, por sinal. Um cúspula ataca no grito, vive solitário e seus hábitos
lembram os de um macaco assustado ou de um tatu muito tímido. Quando um cúspula
encontra outro, só um sairá vivo. A morte de um cúspula é de mau agouro – e nas
matas, os galhos e arbustos devassados indicam que um cúspula foi cuspido para
fora da vida. O cheiro é mais insuportável ainda. Os pelos são duros, e quando
roçam, sem querer, em outro bicho ou mesmo em gente, causam feridas profundas.
Nunca mais foram vistos, mas nos lugares em que habitavam o ouvido apurado
percebe uma eletricidade tremelicante no ar.
. André Ricardo Aguiar
[Fábulas Portáteis, Editora Patuá]
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