Durmo num areal acossado por chuvas abertas.
Se não me amas, fumo uma planta inteira de mel para
esquecer.
Se não me amas, bebo um barco de luz e sumo no vendaval.
Dizem que, cada vez que um de nós respira,
o cântaro se molha durante o angelus noturno.
Eu escrevo as labaredas mais tristes esta noite,
e as palavras, como os cavalos, também cansam.
Através da grade de sua prisão viva,
a alma escuta o barulho dos bambus lavados pelo mar.
Para que não me esqueças, eu bebo água pura nos capitéis
bizantinos.
Quem não ama, é uma sombra com caspa na sobrancelha.
Quem não ama, abandona uma criança num quarto com
escorpiões.
Quem não ama, não consegue largar o osso do medo.
Quem não ama,
não sabe do veludo do salmão,
não sabe do cheiro da folha de laranjeira,
não sabe escutar a reza visível dos peixes-voadores ao cair
da tarde.
Para que não me abandones,
eu preparo tea for two,
depois entro num bar e derramo um pouco de música
no desespero dos loucos.
Dizem que, cada vez que um de nós morre,
as constelações cheiram cocaína,
porque não suportam ver no túmulo apodrecer
aquilo que era para ser um colar de pérolas.
Fernando José Karl
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