Às vezes basta silenciar para ouvir a soma de suas próprias
vozes. Há no conjunto dessas vozes um silenciamento. Você todo feito do
silêncio das vozes que construiu. Sufocado, travado na consternação de
respirar. Nada a declarar com as palavras que o fundaram, da pesquisa
empreendida de você mesmo no mundo por tantos anos. Você continua a desafiar a
norma e a escrever, sendo agora o fantasma que percorre rastros, aclara
possibilidades, revê alicerces, propõe rotas. Você escreve invisibilidades,
agencia o silêncio de antigos discursos, percebe que a fuga iniciada ao
despistar com as palavras o ferimento da inadequação continua na forma de um
caminho em parte exaurido, onde despontaram trilhas e se reorganizaram
labirintos, sons, incursões, dizeres. E, por isso, não há mais o que dizer, a
não ser o incessante. Incessantemente dizer espaços, órbitas, trens noturnos,
praças de guerra. Dizer o corpo preenchido de vozes, miragens, cansado de
propor lucidez.
RTD
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