domingo, 2 de setembro de 2018

BRÁS CUBAS E ROBERTO BARROSO




No livro 'Um mestre na periferia do capitalismo', Roberto Schwarz aventa que Brás Cubas, longe de um alter-ego de Machado Assis, é na verdade um emblema da elite brasileira da época. Os latifundiários escravagistas mandavam seus filhos estudarem na Europa. De lá, voltavam cheios de ideias liberais e progressistas. No entanto, ao pensar em mudar as práticas arcaicas de seus pais, logo se davam conta de que seus privilégios -- entre eles o de estudar na Europa -- eram frutos justamente dessas práticas arcaicas: o latifúndio, a monocultura e a exploração da mão-de-obra escrava. Assim, nossos fazendeiros bacharéis viviam uma esquizofrenia política: cabeça liberal, pés escravocratas; discurso moderno, práxis arcaica.

Assim é o ministro da Suprema Corte Roberto Barroso. Adora falar em pacto civilizatório e em criticar os atrasos de nossos costumes políticos. No entanto, ele mesmo é o melhor exemplo dos herdeiros de Brás Cubas: na boca, liberalismo de almanaque, porém suas decisões não só reforçam como ampliam o fosso entre os filhos da Casa Grande e o filhos da Senzala.

Só que Roberto Barroso é ainda pior que Brás Cubas. Como o defunto autor da obra mestra de Machado Assis, é cheio de um discurso escorregadio, empolado, pedante, vazio.
Falta-lhe, todavia, o humor e a ironia fina de Brás Cubas. Nossa elite, infelizmente, não só não evoluiu como ainda piorou.

Saudades do Brás -- ao menos ele era honesto no seu cinismo.

Otto Leopoldo Winck

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