segunda-feira, 24 de março de 2014



Um motorista de táxi velho. diz "sim, senhora", sem se sentir depreciado. dirige com tranquilidade. não falo com ele, porque gosto dos raros motoristas de táxi silenciosos e com sentimento de cumprimento de dever. só encontrei mais um, em Curitiba. era japonês (não parecia um descendente, que é mentalmente mais inquieto), e parecia tranquilo em dirigir e ser atencioso sem falar nada. é tão difícil encontrar essas pessoas que parecem ter saído de um filme de Ozu, aparentemente imperturbáveis diante das contrariedades da vida. me impressiono com quem cumpre tarefas sem que pareçam um transtorno. ou que elas tenham que demonstrar o contrário, que é uma alegria, quando se vê que é uma pesada imposição social. não sei porque admiro os que se disciplinam quando meu espírito é anárquico. O anárquico vem por conta de sentimentos desencontrados. de eu nem sempre saber o que sinto ou penso. sensações que parecem não estar no lugar, se é que existe um lugar para elas. também, de outro lado, a disciplina pode eliminar o caos necessário para as transformações. e se é imposta por outro, volta a se transformar no caos.

Marilia Kubota

Nenhum comentário: