Um motorista de táxi velho. diz "sim, senhora",
sem se sentir depreciado. dirige com tranquilidade. não falo com ele, porque
gosto dos raros motoristas de táxi silenciosos e com sentimento de cumprimento
de dever. só encontrei mais um, em Curitiba. era japonês (não parecia um
descendente, que é mentalmente mais inquieto), e parecia tranquilo em dirigir e
ser atencioso sem falar nada. é tão difícil encontrar essas pessoas que parecem
ter saído de um filme de Ozu, aparentemente imperturbáveis diante das
contrariedades da vida. me impressiono com quem cumpre tarefas sem que pareçam
um transtorno. ou que elas tenham que demonstrar o contrário, que é uma
alegria, quando se vê que é uma pesada imposição social. não sei porque admiro
os que se disciplinam quando meu espírito é anárquico. O anárquico vem por
conta de sentimentos desencontrados. de eu nem sempre saber o que sinto ou
penso. sensações que parecem não estar no lugar, se é que existe um lugar para
elas. também, de outro lado, a disciplina pode eliminar o caos necessário para
as transformações. e se é imposta por outro, volta a se transformar no caos.
Marilia Kubota
Nenhum comentário:
Postar um comentário