sábado, 14 de novembro de 2015

Previsões


Decidiram por mim,
se inferno há,
quando estiver morta
irei para lá.
Pelo pecadilho
_ tão pequeno _
de ter sensível o ouvido
e preferir silêncio
e cânticos
a vazios vozerios.
Coube-me,
por decreto familiar,
ranger de dentes
e covas de fogo ardente,
a mim, a ovelha sem pertença
e sem juízo
que, disfarçadamente sábia,
enviará os diabretes
ao ortodontista (pecador
de pecados outros
a quem coube a sentença
de morar entre teias e traças
da biblioteca de Atenas)
para um alinhamento dentário
uma quebradura de maxilar
uns aparelhos de ferro
ou o que seja que pare
o tal rilhar infinito.
Quanto às valetas de vergonha
e calor, essa que vos fala,
ainda viva e sem castigo,
aproveitará para um bronzeado
num fio dental pouco decente,
enquanto examina as torturas
impostas por Dante,
que afinal inferno,
se o há,
serve é para que alguns,
os mais hipócritas,
o cantem.
rosa ramos

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