sábado, 30 de janeiro de 2016

A literatura nunca me deu nada. Só me roubou horas, sono, saúde, dinheiro. É uma frase de efeito, boa pra se dizer num bar depois do sexto copo ou no início de uma palestra para sensibilizar os ouvintes a comprarem depois o seu livro.
Mentira. A literatura me deu muitas coisas. Horas maravilhosas de leitura, epifania, abertura de horizontes. Amigos. A maioria de meus amigos hoje são ligados direta ou indiretamente à literatura.
Nunca tive a pretensão de ganhar dinheiro com literatura, mas até dinheiro já ganhei com ela. Prêmios, bolsas. E viagens. Ao postar hoje mais cedo "Tarde em Itapoã", me lembrei que conheci Salvador e esta mítica praia graças a literatura.
Sim. Meu romance "Jaboc" ganhou em 2006 o prêmio da Academia de Letras da Bahia e por conta dele fui duas vezes a Salvador, uma pra receber o cheque, outra pra lançar o livro. Até o governador veio me pedir autógrafo. E eu de terno, engravatado, num calorão danado, enxugava a taça todas as vezes que o garçom, solícito, vinha enchê-la. Nem sei como me levantei dali.
Fiquei hospedado num hotel quatro estrelas, com um motorista à minha disposição. Entrevista a jornais, noitadas e passeios com os escritores locais. Todos queriam conhecer quem era aquela cara do sul, desconhecido, que "roubara" o prêmio deles. Eita vida boa!
Literatura, minha amada, você não é uma madrasta: você é uma mãe. Uma mãe ciumenta, exigente, às vezes crica, mas uma mãe. Toma um beijo nas fuças e vê se me dá mais dinheiro!

Otto Leopoldo Winck

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