sábado, 30 de janeiro de 2016

Ariano Suassuna, na abertura do XIII Fórum do Imaginário (Recife), começou seu discurso de maneira informal, sem nenhum tom de cátedra e sem nenhuma gravidade ou impostação de voz.
Discurso de primeira, em primeira pessoa, concluindo com a declamação de um longo poema de Fernando Pessoa. Perdi toda a concentração ao ponto de não lembrar o poema declamado, acreditem, no meu caso, isso é grave.
Fiquei distraída nos muitos Arianos Suassunas que a sombra projetava na parede. Claro, os anéis do imaginário me levaram perto de Saturno e outros planetas.
Uma interrupção de energia elétrica permitiu que as velas tomassem conta da plateia, num crescendo pra lá de aumentativo.
Primeiro vi uma sombra dele fazendo gestos contrários ao Suassuna real. Depois vi dois, três, quatro, quarenta Suassunas, com oitenta braços subindo e descendo, abraçando e desabraçando o nada e o tudo, diante de um público absorto, paralisado pelo espetáculo em 3D, sem direito a óculos escuros.
Eu, no meu canto, pensei entre as sombras: com este homem quero casar. Depois lembrei – mas eu já sou casada – a luz das velas bachelardianas distorce os pensamentos e retorce os sentimentos.
Poesia não dialoga óbvios. E para ver melhor, por vezes, é preciso que a luz artificial fique desligada. Ariano Suassuna foi desligado da vida de luzes artificiais. Hoje, hologramas dançam multiplicados no meio de outra plateia que repete seu nome e seus gestos. Abraços e desabraços que sobem e descem eternizam seu nome, e de certa maneira, muitos casamos com ele.

Glória Kirinus

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