domingo, 31 de janeiro de 2016

CONJUGAÇÃO DA AUSENTE



...Tua graça caminha pela casa.
Moves-te blindada em abstrações. Como um T. Trazes
A cabeça enterrada nos ombros qual escura
Rosa sem haste. És tão profundamente
Que irrelevas as coisas mesmo de pensamento.
A cadeira é cadeira e o quadro é quadro
Porque te participam. Fora, o jardim
Modesto como tu, murcha em antúrios
A tua ausência. As folhas te outonam, a grama te
Quer. És vegetal, amiga...
Amiga! Direi baixo teu nome
Não ao rádio ou ao espelho, mas à porta
Que te emoldura fatigada, e ao
Corredor que para
Para te andar adunca, inutilmente
Rápida. Vazia a casa
Raios, no entanto, desse olhar sobejo
Oblíquos cristalizam tua ausência.
Vejo-te em cada prisma, refletindo
Diagonalmente a múltipla esperança
E te amo, e te venero, e te idolatro

Numa perplexidade de criança.

Vinicius de Moraes

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