sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

MINHA VACA MALHADA

Hoje pela manhã, troquei algumas mensagens com um amigo que mora um pouco na fazenda e outro na cidade. Tomando café, foi desenrolando a historinha que vou contar referente a uma parte muito gostosa de minha infância em Pirai do Sul. Alguns irão se arrepiar, irão ter nojo e querer internar-se para ver se não pegaram alguma infecção por bactérias ou vírus! Muitos não vão conseguir imaginar a cena! Outros, eu acredito que poucos, irão adorar! Como em tudo tem os a favor e os do contra, não importa! Conto para todos os que quiserem me ouvir.
Toda a manhã, meu pai ia até a chácara para tirar o leite que tanto para bebermos, como para a produção de manteiga, nata e queijos. E tudo isto, de verdade, natural, nenhum enlatado ou empacotado como os mais novos conhecem. Pasteurização? Nem sabíamos o que era.
E havia um ritual delicioso. Primeiro, curtíamos estar com meu pai que era nosso ídolo. Depois, estar na chácara que era nosso paraíso, onde tomávamos o leite quentinho ordenhado na hora e direto em nossas canecas, vinha espumando. Meu irmão e eu seguíamos meu pai com um caneco cada um, alguns dias com açúcar e chocolate e em outros com um pouquinho de conhaque. Sim conhaque! Estão estranhando? Não existia muita frescura em nossa educação.
A vaca era muito mansa e nem precisava amarrar, pois ficava quietinha, esperando que meu pai lavasse suas tetas com água morna. Pela cara dela, até parecia que ia ter um orgasmo. Já a bezerra, tinha que ser amarrada e só ficava solta antes da ordenha e depois dela, pois era uma esfomeada e queria nos lograr tomando toda a produção. Enquanto a bezerra estava presa, aproveitávamos para brincar com ela, fazer carinho e fingíamos ordenhar também! Era uma relação de amizade, de companheirismo, de paz, de felicidade, de liberdade e tantas outras coisas boas que acontecem quando estamos em sintonia com o universo.
As vacas eram trocadas quando nascia outro bezerro e a que estava conosco já tinha ganho sua vida com seu trabalho, e merecia dar todo o leite na hora que seu filhote quisesse, solta, bela e formosa no pasto. Parecia que tudo era muito organizado e planejado! Meu pai devia ser Mestre de Planejamento Estratégico.

Depois de tanta propaganda em televisão, notícias em jornais e revistas e todos os tipos de mídia, nem sei se teria mais coragem de tomar o leite do jeito que fazíamos. Mas que era muito bom era. E nunca, nunca e em nenhum momento, nos fez mal. Éramos uns touros de fortes, com os rostos corados e extremamente felizes! Pena que muitos de vocês nunca souberam e nem saberão o que era aquele sabor dos deuses

Lauro Volaco
COLETÂNEA DE CRÔNICAS E POEMAS "PIRAÍ DE ANTIGAMENTE"

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