sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Avaro

Avaro,
conto as palavras
com que pretendo dizer
algo
-- quase nada --
do tudo que quisera.
(Raras, as palavras
não vingaram na primavera.)
Zero é um número que não vale nada.
Mas quando adicionado
aos outros números,
é como um mundo que se cria.
Avaro,
conto as palavras...
Vai vir o dia
em que não direi nada,
não serei nada:
partícula abismada no tudo.
Aí tudo estará bem.
Ou nada.
Avaro,
me calo
ante o mistério do nada.
(Nada
é
tudo.
Tudo
é
nada.)
E apago as palavras
em que sobrenado.
Otto Leopoldo Winck

(Inspirado num comentário da Ester Fridman.)

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