A uma lanchonete pequena cheguei, cumprimentei as poucas
pessoas que estavam lá, pedi uma cerveja e como já conhecia alguns iniciei um
bom bate-papo.
Pouco tempo passado, eu ainda na primeira garrafa, chegaram
dois fardados que entraram, olharam nossa cara, os cantos do estabelecimento e
embaixo da mesa de sinuca localizada no centro daquele espaço. Saíram sem nada
perguntar ou dizer, mas, com cara de poucos amigos. O silêncio que tinha tomado
conta do ambiente começou a se dissipar.
Dois rapazes que estavam mais próximos ao portão da
lanchonete foram para fora e andaram até a curva da esquina, olhando para onde
tinham ido, e de onde vieram os dois fardados.
Retornaram rápido sob meu olhar e dos amigos que estavam
perto de mim. Disseram apenas: estão voltando, e se sentaram de novo, onde
estavam.
Chegaram os dois fardados e mais outros três com armas em
punho, direcionadas a nossas cabeças, gritando: mãos na parede, abram as pernas
vagabundos:
- Tem alguém armado?
- Você neguinho, tem passagem? - (não se tratava de passagem
de ônibus para os desinformados e afortunados por nunca terem ouvido isso com a
gentileza costumeira).
Coturnos encontrando tornozelos, como fazem os zagueirões
pra defesa dos goleiros... no meio do campo, com a força dada por Deus.
Uns aiai, senhor..., outros gemidos..., uma perna solta na
tentativa de aliviar o impacto foi percebida. O dono dela recebeu um gancho na
costela. A geral foi dada entre o medo e terror do que poderia nos acontecer.
Esculacho..., seria o de menos. Infelizmente já vimos e vivemos coisas piores,
em outras ocasiões como esta.
Passada aquela ação truculenta, alguns foram embora,
sentindo falta de dignidade e um com costela quebrada, mas..., vivos.
Calejado após muitas luas, pedi outra cerveja, porque, a
primeira tinha esquentado. O dono da lanchonete me atendeu e pediu desculpas,
como se ele fosse o culpado daquele tratamento. Eu disse a ele para ficar
tranquilo, que estava tudo bem, mesmo sabendo que aquilo não era natural,
apesar de ser normal em todas as periferias, pois somos apresentados cedo
àqueles tipos de profissionais do estado.
O bate papo reiniciou com lamentações, mas, bola pra
frente..., e massagem nas canelas.
Um tiozinho chegou e logo foi desafiando todos, a uma
disputa na sinuca, mas, em melhor de três. Claro que arrumou um oponente e o
clima começou a melhorar. Com isso desceram mais cervejas, conhaques, rabo-de
galo, amendoins...
Palpites começaram a surgir como se o Rui Chapéu, estivesse
ali, instruindo um aluno, fazendo sempre um dos jogadores ficar com raiva,
enquanto o outro sorri. Minha cerva era a terceira.
Já tinha dado algumas risadas também, afinal tinha sido pra
isso que fui à lanchonete..., bater papo, tomar uma gelada e me divertir,
principalmente, com a derrota dos times de futebol..., dos outros, mas, como
tem dias que parecem noites..., dobraram à esquina outros homens fardados.
Alguns deles a pé, e alguns a cavalo. Os cavaleiros ficaram em frente à
lanchonete, apostos, os outros entraram, com armas à mão, mas, apenas dois
deles, sendo que não tinham nossas cabeças como alvo.
O que entrou primeiro pediu os documentos e verificou um por
um, com outro fardado ao lado, que tinha uma metralhadora niquelada em punho,
mas, mantinha um olhar tranquilo.
Chegando minha vez, ao se aproximarem entreguei a identidade
que conferiram e um deles perguntou de quem era a mochila sobre a mesa.
Respondi que era minha. Ele pediu para abrir os zíperes e olhou todo o
interior. Esticou a mão, pegou um objeto que estava no fundo e perguntou:
- Isso aqui e do seu filho?
Respondi que não, que aquele objeto era meu. Tinha comprado
de um artista de rua. Um artesão que faz lindas obras de arte com alicate e
arames. (Era uma aranha com o dorso de pedra vermelha).
Ele pediu para fechar a mochila e foi se afastando com a
aranha metálica na mão. O guarda-costas dele, sempre ao lado. Chegando à porta
da lanchonete, retornou a minha direção, esticou a mão sorrindo e me devolveu a
aranha metálica.
Saíram, ele, os cavaleiros que estavam do lado de fora, o
guarda costa e os outros fardados, tranquilamente, nos deixando com a mesma paz
que estávamos, antes da chegada deles. Fizeram o trabalho que tinham a fazer e
nos desejaram, boa noite. Todos desejamos o mesmo.
Existem fardados que se orgulham de servir, proteger e fazer
corretamente, o que escolheram de oficio. A eles, todos os cidadãos de bem,
desejam as bênçãos de Deus.
Marcio Gleide Nunes dos Santos
Curitiba-PR 16/07/2017
Revisor:
Olinto Simões
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