segunda-feira, 24 de julho de 2017

Mais um trecho do romance que estou rabiscando. Ah, o narrador tem 18 anos e está em Curitiba no ano de 1968:

"No dia seguinte, quando dei conta de mim, já eram duas da tarde. Me espreguicei no meu modesto quarto de pensão: uma cama com um colchão de molas enferrujadas, um guarda-roupa com duas portas onde estavam meus dois pares de calça, meia dúzia de camisas, dois pares de sapatos velhos, e um criado mudo com meia dúzia de livros em cima. Levantei-me, abri a janela e os raios do sol por um momento me obrigaram a franzir os olhos. Naquela semana ainda não dera as caras no Camões. É natural que com uma vida cheia de compromissos políticos e boêmios não me sobrasse muito tempo para o cursinho – o único motivo de eu estar aquele ano em Curitiba. Além disso, minha, digamos, modesta condição já começava a encher o saco. Volta e meia eu tinha que aceitar uma ajuda do Júlio ou da Elisa para pagar uma cerveja ou empadinha. Eu queria comprar um sapato novo, um casaco, um ou outro livro – e não podia. Quantas vezes quis, ao passar por uma banca de revistas, comprar um jornal, entrar num café e ficar lendo despreocupadamente, como eu via tanta gente fazer na Avenida Luiz Xavier – na chamada Boca Maldita. Ah, eu tinha liberdade, não tinha horários fixos, compromissos obrigatórios, mas, sem dinheiro, que sentido tem a liberdade?"

OLW

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