domingo, 5 de junho de 2011

Elucubrações de Manuel

Manuel sentou-se ao lado de Neiva. Os dois esperavam o ônibus, no fim da tarde. Pessoas apressadas, a noite vinha chegando, o jantar por fazer, pardais voando em direção às suas árvores. Manuel puxou conversa com Neiva por conhecê-la do mesmo bairro onde morava. Sua esposa e ele já tinham almoçado juntos numa festa da comunidade. Manuel desandou a contar de uma menina, vizinha deles, que tinha sido abandonada pelo pai. No meio da conversa Manuel lembrou-se de sua primeira professora. Uma mulher gorda, ele disse, mais gorda do que eu. Durante dias ela insistiu que eu aprendesse o a, o b e o c. Quando chegou no c é que foi o complicado da coisa. Não conseguia entender que o c era o desenho das ondas do mar. Mas que difícil isso! Eu, Manuel da Silva, até hoje nem conheço o mar! E a professora insistiu... até que passou para o d. Essa letra foi mais fácil por me fazer lembrar que uma pessoa sem crença é uma pessoa vazia e, então, comecei a escrever e a ler. Descobri o desenho das letras. Neiva estupefata com o relato de Manuel não sabia o que falar e perguntou da menina, aquela que ele tinha iniciado o causo. Manuel levantou-se do banco. Disse que ela estava bem; estava segura e que tinham encontrado uma alma boa para cuidar dela e, apontou para o ônibus que vinha chegando. No trajeto nem uma palavra mais ele disse.


Mara Paulina Arruda
Achados e Perdidos :  http://www.mp-arruda.zip.net/

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