terça-feira, 21 de junho de 2011

Espinhos

Juntou do lixo um pacote de pipoca aberto. Era um homem novo. Tinha pouca idade. Talvez uns vinte anos. Era Negro. Estava barbudo. Usava gorro e roupas pretas. Tinha mãos grandes. Os pés estavam calçados por um par de tênis gastos, (vi que um rasgão, no pé esquerdo, fazia com que aparecesse uma meia cheia de bolinhas) Uns cambitos finos assim. Mostra com os dedos a largura de suas pernas. Tudo isso eu vi na parada que fiz enquanto esperava a mudança de cor na sinaleira. Foi assim que a Professora contou. Uma mulher gorda, minha conterrânea, enquanto fazia compras no supermercado, vaga(rosa)mente. Era isso: ela parecia uma rosa, toda emoldurada por papel celofane com fitas brancas. Sua fala era a narração distraída dos acontecimentos (eu pensei isso, no início; depois vi que não) Ela contou que este mesmo homem escreve sua história com carvão na escada da rodoviária. Parece um desenho. Você precisa ver! Você que gosta de desenhar precisa ver as formas em escrita. É bonito e triste. Toda a sua família sendo riscada no duro da calçada. Mas não é por aí! Ele precisa é de trabalho. Um dia conversei com ele, enquanto aparava os ipês, na frente da minha casa. Ele disse que quer escrever em folhas, mostrar a pobre vida onde há sol mas é a chuva que insiste, nestes tempos difíceis de luto. Parou um pouco e pensou: talvez este pesar faça algum sucesso. - Ele segurou um resto de cigarro- Eu colhi uma flor. Misturei a imagem da minha amiga com seus óculos (uma rosa de óculos!) que ensina e a do homem sujo de carvão- em seu ofício inicial - Lembrei-me de Van Gogh com seu vaso de girassóis.

Mara Paulina Arruda
http://www.mp-arruda.zip.net/

Nenhum comentário: