domingo, 2 de março de 2014

estou chorando o inverno das músicas do teu músico
o inverno dentro dos tímpanos
almoço anti-histamínicos
o beija-flor feliz da vida
nem morrer posso
ele?
claro
como é que um morto pode ser enterrado em paz
aqueles arranjos
eles jogam em cima de você
e se quiser ressuscitar
oi amor voltei
fodam-se flores de enterro
as narinas procuram
o cheiro do bolero no ar
estou resistindo
por teimosia
somos os desgraçados da insuficiência
o que os direitos humanos podem fazer por você?
estou frente a frente comigo
oi Carniceiro
resistindo
metodologicamente
é o que estou fazendo
não
não sou mais eu
mas quem é meu corpo
certamente
não sei se posso chamar isso de corpo
você meu disse uma vez
a garota que você ama
resista
você no meu apartamento
arrombo a porta
invado
não respeito
gozo nos lençóis
desenho paus no espelho com batom
baixarias nas paredes
trepamos os três eu, meu eu Carniceiro, você
a tudo a lógica esfacela
lógica é um acontecimento com o qual não nos preocupamos, somos da raça das feras, dominamos como ninguém o ofício de sermos animais
seu fundo é agradável e convincente feito prece
não me fale em vísceras
desabotôo o colarinho
estou cantando
o chão se mexe
olho o relógio
estou demorando pra morrer
a terra me quer a terra não me quer
morre logo
adubo oba
uma língua me puxa pra dentro
bucetas não tem só lábios
língua também
estou submergindo
o sol se afasta dos meus olhos
meu corpo esquenta
se meu corpo quiser ele que
peça misericórdia
nunca vou fechar os olhos
não dentro da terra
a garota que você ama
vive-se na prisão da medida do corpo
não vamos destruí-la sem nos destruirmos a nós
impossível a ressurreição
inviável mesmo a
esperança que suscita
nascer tem outro som
espermatozóides pelo ralo ou no papel higiênico
fecho os olhos
trepo com você
ele assiste, o meu Carniceiro
fecho os olhos
vocês
abro
você em pé
ao lado da cama
abro
ele a câmera na mão
os closes
pornô dá dinheiro)
nos beijamos
dá dinheiro, você disse
beijo de quem sabe amar de olhos abertos
de nos olharmos fazemos transfusão de olhos
não sei se suporto o vislumbre de tanta dor em suas paisagens, a agonia dos recantos depredados
nem sabemos se é incesto, o mesmo sangue em nosso sistema venal
meu rosto desfigurado agora
olá idiota
sangue pegajoso nos paralelepípedos
pareço cansado?
mais que isso
é obvio que estou desaparecendo ali
sob constelações num céu sem solução
vocês não poderiam estar aqui
Deus, são Deusas aladas sobre mim
feito moscas
sobrevoam a merda adoro transar o bumbum acessórios
no local quero leitinho agradeço
com miau sou menor de idade faço tudo a sugadora supositório de cocaína
eu te amo gonorréia preciso picar na veia sou sua aluna topo zoofilia
te amo tanto casa comigo todas elas
você
com flores nas mãos
luto fechado da cintura pra cima
pelada daqui pra baixo
você vestal
buquê de lótus
minhas narinas procuram o perfume
não há
apenas o bolero
meus miolos na sarjeta
e a chuva
você escuta
todos escutam
não eu
seus olhos se aproximam
o granizo do medo
e gozam assim
tudo
desaparecendo
paralelepípedos
sangue
libidinosa cena de bucetas
garota que me ama
enganamo-nos tão bem
ela é o diabo que me carregue
devo ser algum cristo em suas chagas
janela aberta
faz frio
o dia cumpriu metade das horas
céu entra como agulhas em meus olhos
contraio-os
os arregalo o crepúsculo de violentas guerras emocionais
minha cabeça não está oca
passarinhos, isso
e máquinas
sons sutis das câmeras de filmar dentro dos passarinhos
garota que você ama
covarde covarde covarde
covarde merda
queria pouco
bem pouco
cupcake na praça
sábado de primavera
descer o rio de bóia
nem isso
ou você nasce uma bela voz
ou você é covarde
vergonha
a janela
dou um passo
curto
a culpa
estou num campo florido
a grama entra pela sola dos pés
eu e você natureza
como nos velhos tempos
ai
alguns fogem por meus ouvidos
narinas
livres espectros de passarinhos
vocês estão comendo minhas bochechas?
que mal lhes fiz?
querem minha caveira?
vou esmagar
mastigar
vou cuspir cada um de vocês
tento acertá-los com as mãos abertas
tento mordê-los
centenas deles
são velozes
meus golpes no vácuo
estão arrancando meus cabelos
como pretendessem raízes fora da terra
comam as gengivas
os dentes
mastiguem minha língua
não posso mais assobiar
garota que me mama
chá de maçã com canela
desde que parei de ficar bêbado feito gambá
não me dou conta
do nosso pecado original irremediável
já compôs uma das tuas em homenagem ao gambá?
não me olha com cara de fashion-vítima
com o coração no olho
viu uma auréola em volta da minha cabeça?
não devia ter me dito palavras amenas
não quero que aconteça
se eu encostar este dedo em você
coloco o diabo no teu corpo
você cai fulminado
Carniceiro
é só mais um trabalho
Músico
pousam em meus ombros
minha boca querer beijá-los
bicam
com delicadeza
meu crânio aberto
vejam
dali melodias escapam limpando o sangue
suaves valsinhas
os ossos faciais doem
a dor se expande
vocês não vão ter o meu choro histérico
culpa e lágrimas
não
Deus
um pouco de romantismo
não sou radical? ponha uma mulher na vitrine
olhe do outro lado da rua
xingue
ponha uma vaca na vitrine
com cabresto
ponha tua putinha na vitrine
que tal?
diz
sou tua putinha
apedreje a vitrine
sou eu o vidro estilhaçado
o sol batendo nos cacos
refletindo
ferindo teus olhos
teu coração nos olhos
pise em mim os pés descalços
humilhe
xingue de prostigaliranha
hein, sou, a tua prostigaliranhazinha?
olhe no meu olho no meu coração no olho
diga
fui um erro?
essa é uma história de esquartejamento
deglutição
você devia compor em minha homenagem
um réquiem
réquiem pra um frango à passarinho
não vou falar com Deus
se é música
se o resto é ruído
se prefere fezes dos pássaros que
escorrem
pelo pescoço peito barriga coxas pés
não vou falar com deus
vamos
filhos da puta
não poupem meus olhos
garota que você ama
preciso do demônio no sangue
dormir em camas erradas é tudo o que posso oferecer
essa espécie de trash food em que me transformei
não sou o prato principal
sou esse troço que não orna tipo galeto com DJ
fashion-vítima
essa foi boa
é você ali
alva
destrocem meus lábios
você não estava precisando de dinheiro?
aqui estamos os três
que belo cenário
há muitos modos de se ferir alguém
e várias maneiras de se fazer um curativo
no entanto dois tipos de esparadrapo
o que não gruda e o que não solta
você não acha que isso
de algum modo
tem a ver com amor?
quero dizer, e você
também se sente a pior do mundo com frequência?
quero dizer, você não queria ver
o teu músico
espalhado na calçada
você me sussurrou
preciso fugir
daqui da crise da caça da festa
eu te salvei, menina
olhe aquilo
uma cabeça em frangalhos
sem melodia alguma
e falei praquilo
você fez isso
e sim aquilo devia ser
um tipo de resposta

leprevost

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