I )Memória do cadáver
A agulha risca o disco, corre a corrida enfarpelada, faixa
por feixe enquanto a música do tempo não para. Em cada ferida endoidecida na
epiderme da palavra, uma nova canção jogada fora da estrada descaminhada de
alados fiapos perdidos, libertos, para onde? Fogem do faminto horizonte,
horrível, multifronte a agulha amputa a melodia, sub verte o sentimento na
desatinação do desalinho. Ela olha o olho do espelho, espera na luz, a menina
brilhar enquanto a rádiola insiste em desafiar a agulha que risca na carreira,
o mel do dia . Ela olha no olho do espelho que a lê menina nos sonhos da garoa,
o vidro chora ou é a garoa lá fora? A agulha não tem nada ver com isso, risca
uma nova canção. Ela não ouve mais, o coração dormiu; miou o gato e, partiu .
Wilson Roberto Nogueira
Nenhum comentário:
Postar um comentário