No canto de um sótão o quadro coberto por um pano
sujo.Labirinto de vidro onde gerações ; entre opacos espelhos trincados de
lembranças ludibriadas pelas pinceladas da memória carregam cores de
conveniência do coração ou do fígado,teias de aranha e pó como que a
representar fino tecido no qual roedores se cobrem.
Da poeira dos dias se nutriam e em pó se convertiam após
abrirem passagem na madeira de um velho baú, aconchegante mansão onde
descobriram a mais fina cultura européia: livros; as imagens das fotos
seqüestradoras da alma do tempo- a memória, a qual vorassinada até as entranhas
dos novos moradores encontrou enfim ,nos pampas infindáveis do esquecimento
sepultura.
Em tal continente ,onde ocultadas por sedas do passado o olho
intemporal do quadro testemunhava o calor dos séculos no coração do porão ainda
pulsava no sangue daquela casa : os espoucares da rebeldia na madeira que em
lento prazer o sol sentia ou nas vilanias de gatos a assassinarem crias,ratos a
canibalizarem filhotes na carestia.Assim eram com os Homens que lá
habitaram,nas maldições silenciosas das paredes ainda que corressem crianças
e se entrelaçassem amantes.
Hoje o testemunho mudo de um crime no assassinato de uma
época de luz e riqueza,onde os herdeiros de tantos cadáveres deitados pela
história.O Sótão , a única parte inteira de tal intestina estória de uma
aristocrática mansão da Belle Epòque.O tempo soprava o pó do que restara só a
moldura dourada atrás da lâmina de cristal os elegantes abantesmas ainda se
imaginam a dançar no grande salão na eterna primavera de 1914
Wilson Roberto Nogueira
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