sábado, 9 de janeiro de 2016

A vida literária conspira contra a literatura. É lançamento, é aperto de mão, mesa-redonda, feira, palestra, sarau, aniversário do padrinho, beija-mão do crítico, o escambau... Enfim, são tantas coisas (e que se estendem pelas redes sociais) que não sobra tempo para a única atividade verdadeiramente relevante para o escritor: escrever. "Para ser grande, sê inteiro", escreveu o grande Pessoa. Com efeito, não dá para ser um grande escritor e se dividir em tantas atividades. Escrever deve ser um gesto total contra o mundo. De revolta e de recusa. Escrever contra tudo e contra todos deve ser o lema do escritor. Lema não. Prática. Prática não. Religião. Uma religião sem fé e sem deuses, sem esperanças de salvação. Mas com todos os seus ritos e ofícios. Balzac não escrevia de burel?. Por isso que temos tão poucos grandes escritores. Ninguém está a fim de renunciar. Sem renúncia não há literatura, pelo menos não a grande literatura. 

Otto Leopoldo Winck

Nenhum comentário: