segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

E mais um pedaço de minha tese sobre a identidade galega:



"Ainda que esse eclipse cultural tenha sido praticamente completo, o processo não se deu de maneira instantânea. Surgido a partir do século IX, como resultado da assimilação do latim vulgar falado no noroeste peninsular, com aportes lexicais celtas e germânicos, o galaico ocidental – ou galego – viveu uma situação de normalização linguística por cerca de 700 anos. Como era natural, com o tempo ocorreu um progressivo distanciamento dos falantes do novo romance com respeito ao latim, de tal modo que até os escrivães passaram a experimentar dificuldades para a correta utilização do latim, transcrevendo cada vez mais em seus escritos palavras e estruturas linguísticas próprias do galego. Assim, por conta dos problemas de compreensão do latim, o galego se viu convertido, entre os séculos XII e XIII, na língua da escrita, primeiramente em documentos privados, mas logo em seguida também em documentos públicos. Além disso, simultaneamente, o jovem idioma se tornou o canal da emergente literatura trovadoresca, e, com a independência de Portugal, converteu-se na língua oficial do novo Estado, vindo a ser mais tarde conhecido internacionalmente como português. Por outro lado, ao norte do Minho, não obstante a perda da autonomia política, até entrado o século XV, boa parte da documentação ainda é redigida exclusivamente em galego. No entanto, em bem pouco tempo, todo este amplo e complexo sistema literário jazerá desmantelado, esquecido, ignorado – jogado às traças de velhos arquivos e emboloradas bibliotecas de paços e mosteiros. Como isto foi possível?"

Otto Leopoldo Winck

Nenhum comentário: