Não escrevo sobre torcidas de qualquer espécie.
Sou colorado por consanguinidade, mas tinjo meu sangue de
invisível
Se cobrarem qualquer coloradismo de final de campeonato.
O gaúcho dentro de mim é um baiano tomando chimarrão,
Todos os dias, no calor solito de sua rede.
Não me abrigo dos ventos do mundo na casa de nenhum ismo,
Mesmo o anarquismo e o ateísmo
São formas ridículas e inúteis de pastorear gatos que sabem
muito bem
Se virar sozinhos nas ruas da cidade,
Que não precisam do tentador prato de leite
De uma vovozinha russa ou italiana...
Não sou nem Um na minha cabeça!
─ e se fosse um, acabaria procurando ser nenhum... ─
Há uma miríade de eus na minha cabeça, que vão de moscas
A mitos.
E todos eles não querem coesão,
Pois não há coesão que coaja todos a serem um só.
Não há coesão em meu coração.
Meu coração é um espelho quebrado em que os estilhaços
Só se mantém juntos por conveniência da moldura.
E estou confortável com isso, quando há luz e vejo meus eus
Olhando-me de volta como na casa de espelhos de um circo,
Olhando para mim, olhando para mim, olhando para mim,
olhando
Apenas como mais um no mundo que se multiplica
ficcionalmente.
Então, não me cobrem nenhuma unidade!
E se não sou um, não me cobrem poemas engajados!
Tenho asco de balidos de uníssono,
Do cantochão da religião ─ agora não sei quê gospel ou
Católico de terno pop e tão sem técnica quanto ─
Se aparento ser um por fora,
Pensem-me como um simples grão de arroz..
Um grão de arroz que caiu fora do saco,
Deixado para apodrecer no piso da cozinha,
Mas que não será cozido junto com seus metafóricos irmãos
Na mesma panela ideológica, espiritual ou política,
Só para ser comido sem o gosto do prato principal
No almoço dominical de uma dona de casa qualquer...
Cristina Desouza 29
de junho de 2011 06:55