quinta-feira, 31 de agosto de 2017

Nada.

Quem escreveu o meu destino,
Tinha uma letra caprichada,
Que não mudou e nem tremeu,
Quando em meu livro escreveu...
Que nesta vida eu não seria nada.

Que sábio que escreveu o meu destino,
Com aquela sua letra tão caprichada,
Porém só depois de crescido entendi;
O que quis dizer não seria nada...
Nada é nada e eu sou eu e estou aqui.

Quando alguém te disser: tu não és nada,
Não se ofenda, não chore, não fique triste,
Mesmo que o tom seja de um insulto;
Só em ouvi-lo você já prova que existe,
E nada é nada, que não tem sequer um vulto.

Não sou nada, eu sou eu com muito orgulho,
De um pedregulho pode surgir um brilhante,
Quem escreveu o meu destino com a letra caprichada;
Sabia que nada é mais humilhante,
Que alguém, que se humilha em não ser nada.

José Tavares   (J. Norinaldo.)

almaxpoesia.blogspot.com visite, prestigie.


Akemi



Japonês: Brilhante Beleza.

Akemi desfilando pela casa
Trazendo uma beleza sem igual
E nisto este desenho sensual
Enquanto me domina tudo abrasa.

E o verso com certeza não se atrasa
Tampouco se desnuda em ritual
A fonte inesperada e magistral
E sei do quanto a vida traça em brasa,

Nas tantas ilusões já nada falas
Somente ao caminhar em quartos salas
Desnuda maravilha que fascina,

Brilhante divindade, luz perfeita,
Que quando do meu lado à noite deita,
O quanto possa ser já determina...

Marcos Loures  


Não te amo



Não te amo,quero-tr: o amor vem da alma.
E eu na alma – tenho a calma
A calma – do jazigo.
Ai! Não te amo, não.

Não te amo, quero-te: o amor é vida.
E a vida – nem sentida
A trago eu já comigo.
Ai, não te amo, não!

Ai! Não te amo, não; e só te quero
De um querer bruto e fero
Que o sangue me devora,
Não chega ao coração.

Tão te amo. És bela; e eu não te amo, ò bela.
Quem ama a aziaga estrêla
Que lhe luz na má hora
Da sua perdição?

E quero-te, e não te amo, que é forçado,
De mau feitiço azado
Êste indigno furor.
Mas oh! Não te amo não.

E infame sou porque te quero; e tanto
Que de mim tenho espanto,
De ti mêdo e terror...
Mas amar!...não te amo, não.


De: Almeida Garrett

DESOBJETO OU A ANTIMATÉRIA




No meio do quintal acima do varal tinha um belo pente,
O pente no quintal se esforçava para não ser belo pehte.
Estava próximo de ser apenas folha dentada for formigas.
Junto com caramujos, todos oa sapos e as suas queridas.
Bactérias e o tempo roeram sua vísceras e esse estrupício.
Mas quem pode afirmar que o pente é um organismo vivo?

Faltrava ao pente coluna vertebral, costelas e uma medula.
Não se poderia dizer que o objeto era um pente ou medusa.
Grampos deram local a cachos de cores meio vede musgo.
Cães e moribundos aproveitavam e mijavam no lusco fusco.
Parecia que o pente perdera sua personalidade e desobjeto.
Nem as carolas sentiam falta de um calafrio, tesão ou afeto.

O poeta destro deparou com a cena e viu o estágio terminal.
O pente nem se quisesse poderia passar como objeto tal.
Já estava incorporado ao universo como partícula, átomo.
Ou então dizem os poetas rio, osso, montanhas, ou lagarto.




 Eduardo Ribeiro Toledo            

AO PASSEAR POR SUA PELE




Ao passear por sua pele
eu descubro quase tudo;
marcas, sardas, cicatrizes,
fendas, dobras, diretrizes,
essências que brotam impunemente
néctar envenenado de serpente
suor, saliva e aguardente.
Se não é, parece!
Pois toda a vez que eu percebo,
já nem sei das minhas pernas,
embriagado que estou.

Ao passear por sua pele,
deixo marcas preciosas,
abro todas as janelas,
escancaro minhas portas,
escorrego, não importa!
se num recanto obscuro
eu me lambuzo do seu ser.

Ao passear por sua pele
eu me envolvo em suas teias
e absorvo tantas chamas,
colho gemidos quase loucos,
se não morri ainda, foi por pouco!
E então escrevo o absurdo,
poemas plenos e obscenos,
choro lágrimas convulsivas,
ferida aberta, carne viva...
Detesto a hora da partida,
pois toda vez que amanhece,
vou pra bem longe de você.



 NALDOVELHO

terça-feira, 29 de agosto de 2017

Vale verde dos tentáculos.

Tuas poucas, muitas
Palavras

Expressam, são
Jargão, horizontes
Frontes e tez

Sorverá da pimenta
Que planta

Amalgamará colheitas
E refeitas as odes
A si

Eu
Tão eu
E eu, mais um

Ali onde vê teu cimo
É o vale dos tentáculos
E as noites colecionadas
Refreiam-se

O café torrado suporia
Ser ao paradigma

As teclas dançam as
Músicas dos outros
Falando de si.

O ser.
ACM


A peste



Quisera adoçar o peito
E houve o pleito
Meio sem jeito
No que iria dar.

Sói ruborizar caso,
Houvesse nas faces
Das gentes, pudor
Amor, valor, virtude,
Coisas assim que existem
No dicionário.

Não,
Há pedras
As de açúcar, então.

Dei
Veneno às ratazanas
Em talheres argentinos.

Ao preço do adubo orgânico
Sei que elas carregam
Doenças

Os meus gatos amigos
Bailam por sobre os muros
De sempre
Livres, acaricio-lhes os pelos

Meus gatos ainda selvagens
Comem ratazanas róseas
De enormes tentáculos
Sociais.

As bichas reproduzem-se
Inumanas
E iletradas

Por aí
Nos perseguindo
Os alimentos,

Sorrateiras
Queimando ao sol verde
Clerical
De suas cloacas laicas
Em festa.

Como sempre.

Espantam as mulheres para longe.

ACM

As baleias ao luar



O ser hospedeiro
O paradeiro
O ato

Os espetáculos rotineiros
A globo
Os bobos

A solidão
O bom gosto
Um novo rosto, um plano
Um amo,
Um rio ignoto.

Deveras continuado,
Leituras,
Que não fiz, nem farei.

Se mil vezes falasse dos
Olhos
Que não expelem excremento
Mas
Mas raciociana o cérebro
E não o intestino.

Felizes os alevinos
Cantarolariam o real.

Como um querer vender
O mal
Do século aos cuidados
Do algoz

Longe se vai,
Plana por aí,

Vendendo momentos,
Ao preço de si.

De mim a sangria,
Que não se estanca
E não se criam
Aqui.

Espécie

Meu coração é religião
De deus.
ACM


AS LETRAS...



Vulto entre as letras.
Que alegria plena e abjugada,
ser o motivo de chegada
para quem desperta,
e mergulha no mago mundo,
do que se faz profundo,
pois que sonhos podem ser escritos,
e fazerem-se inifinitos
no versejar do poeta,
- que magicamente
as letras utiliza -
fazendo com que
até as notas musicais,
sintam-se invejosas...
Mesmo que estejam inseridas,
na melodia, sob forma
de prosas, trovas...

Fluir de um livro
como se abrigo ele fosse...
Deixar na boca o gosto doce
do que realmente atravessa
a barreira dos tempos.
E se põe livre.
O suave dom do divino momento,
que jamais se absteve.
Que sempre se fez resoluto,
pois que absoluto
constrói a história...

Perante elas,
essas lindas e abjugadas letras,
seria ufano
que o vangloriar-se profano,
ganhasse vida/corpo.
Somente elas são sementes.
Unas, estabelecem
um modo/vida,
donde o que se arraiga
de forma ousada,
e até suavemente atrevida,
jamais se faz parcela perdida
seja qual for a estrada...
São do todo
o que mais nos marca,
pois trazem as nossas etapas,
definidas, redivivas,
traduzindo as civilizações que nos
serviram de berço...
Que fizeram se circunscrever,
nas rochas, nas pedras,
como segredos
aos quais se agrega,
o todo dos instantes nossos,
imersos na sabedoria.
No lumiar do dia.
No que faz alegria.
No que reluz,
e traz a tona, os segredos
da luz das sagradas etnias...


josemir (ao longo...)

Hoje em dia




por hora
basta-me o inflamável
ou o condenável

a mansidão
é máscara
encobre
as ranhuras

penduro o olhar
na fotografia

escoro sorrisos
em pedras

rego-me
com as águas
que passam
por baixo da velha ponte

por hora
basta-me o inenarrável
ou o contestável


 Juleni Andrade 


pode cortar como faca
ou ferir como espinho
que seja proibido
aos olhos d quem seja
eu quero tudo que sangra
nem que seja em angra
como energia nuclear
ou passaporte pro futuro
não quero porto seguro
quero morrer no mar


arturgomes

Navegar



Corre para mim ou voa
Sente a leveza de teus pés
Navega no meu mar, com tua canoa
Que me escondo em teu convés
Corre medusa de raios de luz
Sente as ondas do mar
Com tua canoa faz jus
E vem ouvir as sereias cantar
Corre e ouvirás melodia
Sentirás a minha presença
Comigo de noite, navegas de dia
Embalados na música a nossa sentença
Corre sobre a espuma Lilás
Aproveita os ventos uivantes
E mergulha na água que me trás
Saudades de deusas amantes
Corre medusa perfumada
Pérola de azul celeste
Navega em meu mar e numa lufada
Sente o beijo que me deste
Corre ou voa como gaivota
Em meus braços voarás
Vem menina marota
Vem ao mar que satisfaz
Não voas... Pensas tu, vem navegar
No mar onde sonhas e te sorri
O êxtase do mergulho te vai lembrar
Que sou um mar só para ti.

José Alberto Sá


domingo, 27 de agosto de 2017

Marcha da Quarta Feira de Cinzas (Vinicius de Moraes/Carlos Lyra) - Roda...

Cartola - Peito vazio / O sol nascerá

Cartola - O Sol Nascerá

Jair Rodrigues - BLOCO DA SOLIDÃO - Evaldo Gouveia e Jair Amorim - carna...

Roberto Silva - BEIJA-ME - samba de Roberto Martins e Mário Rossi - grav...

A folha rabisca o tempo


A folha rabisca o tempo
Nervosa

A brisa oscila
Planta de semente nua
Pela fresta da minha janela



 Paulo Prates Jr 

Quiprocó




"O poeta aponta a lua, o idiota vê o dedo"

O dinheiro nos pensa
E dispensa qualquer pensar
Que venha destruir,
Que venha negar,
Negativamente,
Radicalmente,
O laço inconsciente
que conduz
obscuramente
tudo, todos,
mas não o mar.

Deus, fenômeno
Abstrato,
Hoje correlato
Ao Jesus reificado,
Papel abstrato,
que determina
sem sujeito
o amar, o viver
o sonhar.

Mas poetas, se a linguagem
Não transcende
Tamanha abstração
Que será da poesia
Mais uma mercadoria?
Ou a língua da emancipação?

A sociedade,
O fetiche:
Quiprocó.

 Ivo Xavier
Não esqueçam
de me visitar
nas noites
de inverno
quando o medo
cobra caro
e as feridas
não deixam mentir

insolúvel jogo
de espelhos
entre mim
e o que fui

ando bêbado
pela casa
meu coração
é operário
desempregado
com filho pra criar
mulher feia
sem crédito no armazém

me enrosco
em invenções
inúteis
pra repartir contigo
um espaço de ternura

sinto umas
coisas estranhas
caminharem atrás de mim
um cano de fuzil
um casal de velhos famintos
um câncer
e me desagrada não ser

como certos fantasmas

convoco o
silêncio e
suas raízes

inauguro a
manhã

não, eu não sou
uma estrela
um rio
um barco
nada se compara
ao que sinto

preciso todos
ao redor da mesa
principalmente
os desaparecidos
como certos crepúsculos
que a gente vê
fogem e nunca mais

Jorge Adelar Finatto
__________________

Poema do livro Claridade, co-edição Prefeitura Municipal de Porto Alegre, Editora Movimento, Porto Alegre, 1983.
                O Fazedor de Auroras: Meus amigos

ofazedordeauroras.blogspot.com

POETAS QUE VIVEM NO LIMBO


NALDOVELHO

E ele vivia pelas ruas catando sobras,
recolhendo restos, cacos,
coisas por descuido esquecidas,
ou desprezadas pela pressa,
e amontoava tudo num canto.
Algumas ele utilizava,
outras repassava...

E assim ele tocava nossas vidas,
misturado ao que para os outros não prestava
e a buscar significado nos escombros
na tentativa de por ordem nos estragos.
Diziam que se alimentava de entulho
e que era o rei das inutilidades.

Outro dia num beco escuro
encontrou uma caixa cheia de livros,
entre eles: alguns romances,
coisa antiga em desuso;
e um, em especial, de poemas.
O título: poetas que vivem no limbo.
E orgulhosamente na capa,
fez questão de escrever seu nome:


Não escrevo sobre torcidas de qualquer espécie.
Sou colorado por consanguinidade, mas tinjo meu sangue de invisível
Se cobrarem qualquer coloradismo de final de campeonato.

O gaúcho dentro de mim é um baiano tomando chimarrão,
Todos os dias, no calor solito de sua rede.

Não me abrigo dos ventos do mundo na casa de nenhum ismo,
Mesmo o anarquismo e o ateísmo
São formas ridículas e inúteis de pastorear gatos que sabem muito bem
Se virar sozinhos nas ruas da cidade,
Que não precisam do tentador prato de leite
De uma vovozinha russa ou italiana...

Não sou nem Um na minha cabeça!
─ e se fosse um, acabaria procurando ser nenhum... ─

Há uma miríade de eus na minha cabeça, que vão de moscas
A mitos.
E todos eles não querem coesão,
Pois não há coesão que coaja todos a serem um só.

Não há coesão em meu coração.
Meu coração é um espelho quebrado em que os estilhaços
Só se mantém juntos por conveniência da moldura.
E estou confortável com isso, quando há luz e vejo meus eus
Olhando-me de volta como na casa de espelhos de um circo,
Olhando para mim, olhando para mim, olhando para mim, olhando
Apenas como mais um no mundo que se multiplica ficcionalmente.

Então, não me cobrem nenhuma unidade!

E se não sou um, não me cobrem poemas engajados!
Tenho asco de balidos de uníssono,
Do cantochão da religião ─ agora não sei quê gospel ou
Católico de terno pop e tão sem técnica quanto ─

Se aparento ser um por fora,
Pensem-me como um simples grão de arroz..
Um grão de arroz que caiu fora do saco,
Deixado para apodrecer no piso da cozinha,
Mas que não será cozido junto com seus metafóricos irmãos
Na mesma panela ideológica, espiritual ou política,
Só para ser comido sem o gosto do prato principal
No almoço dominical de uma dona de casa qualquer...


Cristina Desouza             29 de junho de 2011 06:55

A VAGAR



perco-me na vida
como
perco-me na rua
vou aberta e nua
por um caminho
que não vejo
descalça
piso em farpas
que não sinto
ando lentamente
como quem não é
ou já está extinto
esquinas se esvaem
em becos escuros
caio em buracos
parto-me em cacos
mato-me aos poucos
procuro
o que não acho
e se tento
desmancho-me
em pedaços
até ver outros muros
aonde eu possa dormir
horas cansadas
de um sono profundo


(Cristina Desouza)

( O mesmo João )



Andar nas nuvens
perder o chão.
Trocar a vaca magra
por um pé-de-feijão.
Tem ouro dando canja,
um castelo acima.
O gigante acorda
sob o som da rima.

Sou como todos
o mesmo João,
o tópico utópico
de toda noção.

Sou como todos
o mesmo João,
hipotético e patético,
luz de imaginação.

Mal te vi lá de cima,
tudo ficou pequeno.
Ontem peguei
uma gripe, um sereno,
uma galinha gorda
de ovo amarelo.
Aí bati a asa,
aí bati o martelo.


Cidadão das nuvens
Renato Silva


Esperar




Esperei-a,
é uma verdade,
e até sentir
a primeira
pontada

da saudade...

Paulo Henrique Frias    

Tanto tempo concentrando
Inteiramente focado no objetivo
Constrói um buraco negro sem idéias
Consome qualquer lampejo de inspiração
É um frio morto que vai devorando e sufocando

Comprime, deprime e aprisiona, sempre produzindo

Christiano Ribeiro         

O Apanhador de Desperdícios


Uso a palavra para compor meus silêncios.
Não gosto das palavras
fatigadas de informar.
Dou mais respeito
às que vivem de barriga no chão
tipo água, pedra, sapo.
Entendo bem o sotaque das águas.
Dou respeito às coisas desimportantes e aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais que a dos mísseis.
Tenho em mim esse atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.
Sou um apanhador de desperdícios:
Amo os restos,
como as boas moscas.
Queria que a minha voz tivesse um formato de canto.
Porque eu não sou da informática:
eu sou da invencionática.
Só uso a palavra para compor meus silêncios.


 Adriana de Sousa          

JOÃO E MARIA NO CARNAVAL


João incorporou o Arlequim.
Noite de terça-feira chegou
e juro que, antes, nunca vi
alguém tão triste assim.

Maria incorporou a Colombina.
Folia comendo solta na avenida,
só quem não quer, ou sente pena,
é que não bolina.

Madrugada de quarta-feira, enfim,
carnaval acabado. . .
No último vagão do trem pra Japeri,
João e Maria abraçados:
Amor igual, tão bonito,
pode até haver, mas não acredito.


- por JL Semeador, 17/02/2010 -

NOITE SEM AMOR NA QUARTA-FEIRA DE CINZAS



Chegastes em fevereiro,
carnaval era em março;
assim foi o nosso começo...

Um ano depois,
carnaval sem nós dois,
feito folia sem pandeiro.

Onde foi parar a nossa festa,
aquela coisa só nossa que vinha
em delírio e atravessava a porta,

Penetrando, da alma, o âmago,
feito arrepio que se avizinha;
frio bom na boca do estômago.

Nessa noite de quarta-feira de cinzas,
quando quase não mais me adianta
contar as horas,

Eu me debato na tua ausência,
clamando pelo que mais me faz falta:
a tua luminosidade e a tua alegria.

- por JL Semeador, na Lapa, em 22/02/2012, numa noite de quarta-feira de cinzas -


Caligrama

   

Caligrama
 Forca
 Cidadão das nuvens


Renato Silva   

A primeira vez que entendi


A primeira vez que entendi do mundo
alguma coisa
foi quando na infância
cortei o rabo de uma lagartixa
e ele continuou se mexendo.

De lá para cá
fui percebendo que as coisas permanecem
vivas e tortas
que o amor não acaba assim
que é difícil extirpar o mal pela raiz.

A segunda vez que entendi do mundo
alguma coisa
foi quando na adolescência me arrancaram
do lado esquerdo três certezas
e eu tive que seguir em frente.

De lá para cá
aprendi a achar no escuro o rumo
e sou capaz de decifrar mensagens
seja nas nuvens
ou no grafite de qualquer muro.


 De Affonso Romano de Sant'Anna, 

DESENGANO DE FOLIÃO



Bebeu todas.
Ganhou ninguém.
Na avenida iluminada,
sem alegria ou paz,
tomou formicida com limonada
e partiu para o além.


- por JL Semeador, na Lapa, refletindo sobre o espírito patético do carnaval -

Luz do quarto acesa, tão lentas as horas,
madrugada se arrasta, não consegue ir embora.

Um sol sonolento, contaminado, cinzento,
amanhece nublado lá no firmamento.

Pela janela eu percebo calçadas desertas,
pássaros em revoada, trajetórias incertas.

Um café bem quente, e o prazer de um cigarro...
Faz tempo eu não fumo, mas ainda quero, é claro!

Quarta-feira, setembro, final de estação,
estiagem aqui dentro, entorpecidas as mãos.

Coração já não chora, já não tenta, nem sente,
calmaria faz tempo apaziguou minha mente.

Caminhar pela cidade a procura de um verso,
temas estranhos, pensamento disperso.

As palavras que brotam já não formam poemas,
um amontoado de frases, nada que valha a pena.

Quarta-feira, setembro, final de estação,
o tempo que eu tenho escapole das mãos.


 NALDOVELHO


PERMANECE O DRAMA




Fios retorcidos embaralham a trama,
bordados sem sentido tomam conta do tecido,
palavras embriagadas tropeçam nos significados;
permanece o drama e ninguém reclama.

O sacerdote enlouquecido num sermão equivocado
diz que a poesia que hoje chora é pecadora contumaz.
Uma guitarra ensandecida em harmonias infernais,
sacrifica a melodia num estranho ritual.
Carpideiras se divertem com a agonia do poema
e o imperador lamenta a morte do tirano enforcado.

A estrela da manhã apedrejada em plena praça
e o povo comemora, ri com gosto da desgraça.
E o diabo observa, lamentando o triste enredo,
já não tem mais nem espaço pra tanta gente em degredo.
E a história se repete, todos os dias, já faz tempo:
a poesia crucificada implora ao Pai por seus rebentos.

Fios retorcidos, bordados sem sentido, palavras embriagadas.
Permanece o drama e ninguém reclama!



NALDOVELHO

BEIJAR TUA BOCA


Beijar tua boca
é puro fascínio
território de mistérios
viagem louca...

Beijar tua boca é início
de encantamento e sortilégio
caminho sem sobressalto
paisagem descortinada do alto...

Beijar tua boca
é presente dos deuses
realejo que toca
anunciando um mundo de prazeres...


- por JL Semeador, na Lapa, onde todos os beijos são sempre divinais –

FANTASIA INUSITADA



Carnaval mais uma vez chegando.
Saio para comprar minha fantasia.
A princípio, pensei em xeque árabe,
Porém, por absoluta falta de fundos,
Desisti do meu intento.

Depois, imaginei-me de Pierrô,
Mas, como já sou triste por natureza,
Nem sei se por medo ou incerteza
Essa idéia também melou.

E, assim, ansioso e indeciso,
Prossegui na busca insana:
Clow, morcego, pirata
Romano, punk, falsa baiana,
Nenhuma a seduzir
Minha alma que se dizia carnavalesca.

Até que, no espelho da Casa Turuna,
Deparando-me com minha imagem a refletir,
Surpreendo-me com o vulto desconhecido
E, num lampejo de ousada inspiração,
Paro espanto, meu e de todos,
Resolvi fantasiar-me de mim-mesmo,
Saindo por aí à brincar, anônimo,
Por ninguém reconhecido
Nem pelo meu lado mais sombrio.

- por JL Semeador, na Lapa, primeiro lugar de originalidade em concurso de fantasias poéticas 
Todos os dias eu tento
recuperar os pedaços
que deixei de mim, alguém levar
ou que de mim, foram arrancados.
Todos os dias, eu procuro um momento
que a mim mesmo possa ser dedicado,
pra nunca esquecer de amar
e nunca deixar de me sentir amado.
Todos os dias, eu tiro um instante
pra em mim mesmo prestar atenção.
Pra que na caminhada da vida,
eu não me perca do meu próprio coração.

(Kadu R. Matos)

MAIS UM CARNAVAL NO RIO



A cidade feito noiva se prepara
Para essa hora tão rara
De jogar a tristeza pro alto
De subir no mais alto salto
De liberar todas as fantasias
Mesmo as mais escondidas.

O Rio de veste de alegria
Gringos e mulatas em sintonia
Casamentos à vista
É o que o olhar atesta
O encanto de amar
Ao meu lado no bar

Eu também enamorado
Pela cidade e seu modo
De se fazer um refúgio
Para quem tem o privilégio
De seguir seus blocos de rua
Nessa paz que sei ser só tua

Meu Rio e mais um carnaval
Festa da tua alma imortal
Música descendo de Santa Teresa
Chegando até a minha mesa
Me puxando pra brincadeira
Apesar da ânsia pela quarta-feira...

- por JL Semeador, em 16/02/2012, na Lapa (Bar das Quengas), vendo o carnaval chegar –


Solidão é uma palavra tão sem coração que no final se permite um encontro vocálico, sufocado, nasal.
Chris Herrmann
Um pastor de ovelhas estava cuidando de seu rebanho, quando
surgiu pelo inóspito caminho uma Pajero 4x4 toda equipada.
Parou na frente do velhinho e desceu um cara de não mais que 30 anos, terno preto, camisa branca Hugo Boss, gravata italiana, sapatos moderníssimos bicolores, que disse: -
Senhor, se eu adivinhar quantas ovelhas o senhor tem, o senhor me dá uma? -
Sim, respondeu o velhinho meio desconfiado.
Então o cara volta pra Pajero, pega um notebook, se conecta, via celular, à internet, baixa uma base de dados, entra no site da NASA, identifica a área do rebanho por satélite, calcula a média histórica do tamanho de uma ovelha daquela raça, baixa uma tabela do Excel com execução de macros personalizadas, e
depois de três horas, diz ao velho:
- O senhor tem 1.324 ovelhas, e quatro podem estar grávidas..
O velhinho admitiu que sim, estava certo, e como havia prometido,
poderia levar a ovelha.
O cara pegou o bicho e carregou na sua Pajero.
Quando estava saindo, o velho perguntou:
- Desculpe, mas se eu adivinhar sua profissão, o senhor me devolve a ovelha?
Duvidando que acertasse, o cara concorda.
- O senhor é advogado ?!?! diz o velhinho...
- Incrível! Como adivinhou?
- Quatro razões:
- Primeiro, pela frescura;
- Segundo, veio sem que eu o chamasse;
- Terceiro, me cobrou para dizer algo que já sei.
- E quarto, nota-se que não entende coisa nenhuma do que esta
falando:
devolve já o meu cachorro !!!!

deisi

*N A R I Z T U P I D O**



No Interior de Minas, um casal de amigos caminhava pelo pasto de uma fazenda, até que viram um cavalo transando com uma égua, e a amiga logo perguntou... .
- Carzarbertoo...., o que é aquilo?
- Elis tão casalano, sô!
A égua tá no cio, o cavalo percebeu isso e ta mandano brasa!!!
- Mais cumé co cavalo sabe que ela tá no cio, 
Arbertoo?
- Aaara!!, é co cavalo sente o cheiro da égua no cio, sô!
Passaram mais adiante, e tinha um bode transando com uma cabra, e a amiga perguntou de novo, e o amigo deu a mesma resposta.
Mais na frente, lá estava um touro pegando uma vaca, e ela tornou a perguntar, e ele deu a mesma resposta: que o boi também sentia o cheiro da vaca no cio.
Foi aí que a amiga perguntou:
- Ô Carzarbertoo, se eu perguntá uma coisa pr'ocê, ocê jura que num vai ficá chatiado?
- Craro que não, miga! Ocê pode perguntá!
- OCÊ TÁ COM O NARIZTUPIDO???

Deisi

- PAIXÕES EM REDEMOINHOS -


Paixões nos invadem
a toda hora, em redemoinhos,
pequenos tornados
sentimentais.

Paixões passageiras,
chuvas de verão,
que caem intensas,
mas logo se vão.

Paixões só existem
em nossos sonhos,
a realidade as destrói,
transformando-as em pó.

Paixões que se foram,
paixões que virâo,
há lugar para todas
em meu coração.

- por JL Semeador, na Lapa, território de todas as paixões -

Enviado ao Recanto das Letras

por jlsantos em 25/04/2008

AUTO-RETRATO



Quando me perguntam quem eu sou,
digo que sou uma incongruência,
algo sem qualquer valia
ou serventia,
meio sem jeito e nexo,
personagem inexpressivo,
que se recusa a ter culpas, complexos,
conta bancária
ou cartão de crédito,
males e coisas,
totalmente esdrúxulas,
dentro do processo energúmeno,
que insistem chamar de civilizatório.

Quando perguntarem por mim,
pelos locais por onde ando,
digam que ando por baixo e por fora,
pelas ciclovias das realidades inexistentes,
esperando encontrar, numa dessas andanças,
um lugar que nem sei definir,
mistura de porto, estalagem e bar fuleiro,
em que o andarilho chega,
dorme, acorda e come o que existe no balcão de vidro,
e vai-se embora, de novo, sem paradeiro,
apesar do pouco dinheiro,
apesar da ausência de guias e mapas,
apesar dos que dele ficaram a rir.

- por Hans Gustav Gaus, heterônimo de JL Semeador, na Lapa –


Eu quero botar meu bloco na rua


IMPERMANÊNCIA



Indo e vindo, sempre
Modulando a existência
Perenemente Soberano
Ele existe
Real, a nos governar
Muito além do nosso pouco saber
Almas desastradas
Nas suas ocupações banais
Essencialmente pequenas
Nada preocupadas com o Ser
Com a duração ilusória da vida
Ínfima fração do Eterno
Apenas um átimo no Tempo.



- por JL Semeador, na Lapa, onde até os Cellos e as divagações metafísicas têm lugar -


Saudade de Matão


SAUDADE – Acróstico



Sensação de
Ausência.
Um nó
Dentro da
Alma, que,
Doída,
Espera. . .


- por José Luiz Santos, o JL Semeador –

MULHER – Acróstico



Mãe, amiga, esposa, namorada?...
Um só adjetivo não é capaz de qualificá-la,
Longe ficando de sua essência iluminada.
Hoje, todas as palavras são poucas.
És minha origem, meu fim, meu destino
Reencontrado em teus braços; teu amante-menino.

- por JL Semeador

COLOMBINA PÓS-MODERNA



Colombina,
aonde vai você?
Certamente,
não vai dançar o iê-iê-iê,
que isso não mais se usa,
nesses tempos pós-modernos
onde se usa e abusa
de modismos insossos
e passageiros.

Quem sabe,
vai aproveitar o desconto
do Cine Botafogo Art-Plex,
assistir filme chinês.

Talvez, quem sabe, ainda,
desfilar na Banda de Ipanema,
no Cordão do Boitatá,
ou no Bloco das Carmelitas,
- lampejo de súbita e tardia vocação religiosa -,
para salvar a alma de pierrôs entristecidos:
Bêbados de cerveja e solidão. . .

- por JL Semeador, na Lapa, num carnaval que choveu à cântaros, a esperar por uma colombina –

Enviado ao Recanto das Letras

por jlsantos em 20/02/2009

Sonho de Carnaval


POEMA DA SOLITÁRIA MADRUGADA



A madrugada é um outro mundo,
um outro tempo,
um outro modo de viver;
um ser de mil tentáculos.

Na madrugada implodem as regras
impostas pelo dia
e por sua luz;
nem sempre claridade.

Na madrugada mata-se e morre-se,
ama-se, se possível, e, sobretudo, odeia-se,
feito garrafa que se quebra
no início da briga.

Nada resiste às suas imposições.
Se, por acaso, andares por ela,
por seus becos e vielas,
tome todo cuidado; respeite-a.

Mas eis que se faz manhã,
as cores voltam, os bêbados somem,
os pássaros cantam, despreocupados,
na ilusão de terem escapado do pesadelo.

- por JL Semeador, na Lapa, em 20/03/2011 -

UNE POUPÉE GIGOGNE ou A MUSA MULTIFACETADA


muitos semas
contém um poema:
marias ou iracemas
sempre um único tema

a musa multifacetada
em versos exposta
presente e passada
a face não mostra

e, se mostra, não revela
o que importa de fato
valkíria ou ceci, feia ou bela?
insuficiente retrato

une poupée gigogne (*)
très délirante, très belle
não há quem não sonhe
sem que o fato revele

mulher em teoria
objeto de ficção
escondida na poesia
metáfora e invenção. . .

- por JL Semeador, em 25/11/2011, na Lapa, lendo Jorge de Lima, comendo sanduíche de chester com limonada, TV ligada ao vento -


(*) Poupée gigogne: Conjunto de bonecas, ocas, originalmente feitas na Rússia, em tamanho decrescente, de forma que a menor sempre caiba dentro da maior.

UM BOM CONSELHO



Sonhei com estrelas
Escrevi versos
Saudei as pessoas
Desacelerei meus passos

Hoje é sábado
Segui um conselho
Que me foi dado
Sem me olhar no espelho

Calcei havaianas
Vesti short sem camisa
Ouvi canções encantadas

Fiz da manhã uma festa
Sol em vez de cinza
É o que me basta!

- por JL Semeador, na Lapa, manhã de sábado, 25/02/2012 –




Achou que possuía o dom de prever o futuro nas manchas da aquarela. Percebeu que as formas aleatórias compunham histórias. Alguns amigos, quando souberam da novidade, o visitaram no ateliê. Outros consultaram na cidade mesmo. Pintou aquarelas para diversas pessoas e consulentes. As manchas sugerem signos – paisagens, objetos, rostos, animais, edifícios, cidades. O problema é que, como a aquarela, o futuro é fluido, líquido e incerto. Modifica-se a cada nova aquarela que alguém pinta, tentando decifrá-lo.

Fabiano Vianna

Elizeth Cardoso, Zimbo Trio, Jacob do Bandolim - MEIGA PRESENÇA - Paulo ...

sábado, 26 de agosto de 2017

Pensaventos


 Eu durmo mais tarde pra que mais cedo lua acorde



 Evandro Souza Gomes  

Preso todo cachorro late
Se eu fizer o mesmo
então vai dar empate

Alvaro Posselt  

Momentos de quimera



Desfalece lentamente o dia…
O luar tímido, acolhe pensamentos vadios,
Inebria os desejos contidos,
Em lapsos de momentos sentidos,
Voa-se na brisa das miragens,
Despontadas nos desertos vazios!

O vento que suavemente suspira,
E murmura palavras salgadas pela maresia,
Do mar de sentimentos, que sobrevoou,
Fala de amores e encantamentos,
Transmitidos pelas paixões encontradas,
Em seres invadidos pela felicidade!

E surge a noite...
Que arrebata ternuras e sensações,
Explode nas emoções de doces delírios,
Desatina a razão da consciência,
A noite…
Que finalmente esmorece nos sonhos,
Das mentes sossegadas.

José Carlos Moutinho


QUISERA EU ...



Quisera eu
Ser o teu único sonho
Tua melhor rima
Teus versos, tua poesia.

Quisera eu
Tocar-te como a mais leve brisa
Beijar-te o corpo
Sonhar-te ao luar.

Quisera eu
Dar-te a liberdade do vento
A estrela cadente
As canções do mar.

Quisera eu ...
Ser o dono do teu olhar

Bruno de Paula



à reticências demolida
cheia de ardor e amor

era a estrofe construída

Ari Marinho Bueno        
Minha alma tem o peso da luz. Tem o peso da música. Tem o peso da palavra nunca dita, prestes quem sabe a ser dita. Tem o peso de uma lembrança. Tem o peso de uma saudade. Tem o peso de um olhar. Pesa como pesa uma ausência. E a lágrima que não se chorou. Tem o imaterial peso da solidão no meio de outros.

"Clarice Lispector

Viola



Viola,compassa sonhos.
Dedilhada por amante de versos.
Entoa seu choro sentido,
advindo do fundo da alma.
Aquele amor desalmado,arredio,
vem em melodia chorosa.
Bate ,sua toada eleva coração apaixonado.
Canta viola a vida do homem simples do sertão.
que acorda cedo para arar o chão.
De dia debulha e planta feijão
e a noite te aperta ao coração.
A tua companhia é a alegria do altaneiro que lá no celeiro
segura rês desbravada
e com a mesma mão...
Canta sua coragem ,
conquista a amada e mostra sua paixão.
Vibre viola.
Chora,cante.
O seu poeta violeiro,
Segura-te com EMOÇÃO.
Abre CORAÇÃO
E sua toada corre por todo SERTÃO.


regina ferreirinha 09-09-2011

Liberdade corrupta


Dou-me ao riso das marionetas
e às carcaças das tartarugas
sem medo da chuva obliqua
que permeia o meu corpo solitário

Deixo a porta aberta, a algazarra
das crianças que brincam na rua
humaniza-me a esperança de outras
que morrem de pistola na mão,
e o pião roda, roda, roda…
o fio queima o olhar
das que fazem tapetes
sem sol, sem noite, sem hora.

Não me acordes amanhã
e se por acaso eu acordar
mente-me, diz que O’Neill
ainda está vivo.


Conceição Bernardino

DO QUE TRAZ VIDA...



Fazer do ar introspectivo
uma forma de dar vida,
a um versejar ativo
de uma poesia
que se completará no justo dia,
em que o que vivo
fizer-se reflexo do que vives.

Mirar o horizonte
não por falta de visagem,
mas sim como ponte
no intercalar dos pontos
de uma viagem.

E quanto defronte ao mar
fizer-se a parcela do preamar,
criando sempre um motivo de se declarar.
Uma vontade viva de navegar
pois que o sonho, sempre se fará.

E mesmo que discordes
das notas, dos acordes,
da canção que agora canto...
Ou mesmo que te incomodes
a minha suposta ausência,
o meu silêncio,
que jamais se faça quebrar a essência,
do que na realidade faz-se imenso
pois que traz vida,
ao coração que vibra...


josemir (ao longo...`)

Esse a dois


começando no olhar
buscando norte infinito
tem início quando um chega
e vai termina sabe quando?
A depender dos dois, nunca!


SIGRID SPOLZINO

Passos que já não oiço



Sentada no banco deste jardim
carrego as folhas amareladas,
descansam nas minhas mãos
tão enrugadas como o meu olhar.

Já fui moçoila graciosa…

Resta-me agora
este perpétuo jardim
onde os sorrisos se calam
na nudez das árvores,
onde o fado se chora tão bem
nos passos que já não oiço
nem no frio que já não sinto.

Guardo as minhas lembranças
no relento que me agasalha
e quando a saudade me trai
reparto-a com o meu fiel companheiro,
o copo, que me acompanha
em tragos de solidão.


Conceição Bernardino

Borboletas ....



Quando depositamos muita confiança ou expectativas em uma pessoa, o risco de
se decepcionar é grande.
As pessoas não estão neste mundo para satisfazer as nossas expectativas, assim como não estamos aqui, para satisfazer as dela.
Temos que nos bastar... nos bastar sempre e quando procuramos estar com alguém, temos que nos conscientizar de que estamos juntos porque gostamos, porque queremos e nos sentimos bem, nunca por precisar de alguém.
As pessoas não se precisam, elas se completam... não por serem metades, mas por serem inteiras, dispostas a dividir objetivos comuns, alegrias e vida.
Com o tempo, você vai percebendo que para ser feliz com a outra pessoa, você precisa em primeiro lugar, não precisar dela. Percebe também que aquela pessoa que você ama (ou acha que ama) e que não quer nada com você, definitivamente, não é o homem ou a mulher de sua vida.
Você aprende a gostar de você, a cuidar de você, e principalmente a gostar de quem gosta de você.
O segredo é não cuidar das borboletas e sim cuidar do jardim para que elas venham até você.
No final das contas, você vai achar
não quem você estava procurando, mas quem estava procurando por você!

"Mário Quintana"

O auto Retrato...



No retrato que me faço
traço a traço
às vezes me pinto nuvem,
às vezes me pinto árvore...
às vezes me pinto coisas
de que nem há mais lembrança...
ou coisas que não existem
mas que um dia existirão...
e, desta lida, em que busco
pouco a pouco
minha eterna semelhança,
no final, que restará?
Um desenho de criança...
Terminado por um louco!

"Mário Quíntana"

informe o(s) compositor(es)




Olha
Será que ela é moça
Será que ela é triste
Será que é o contrário
Será que é pintura
O rosto da atriz
Se ela mora no sétimo céu
Se ela acredita que é outro país
E se ela só decora o seu papel
E se eu pudesse entrar na sua vida

Olha
Será que ela é louça
Será que é de éter
Será que é loucura
Será que é cenário
A casa da atriz
Se ela mora num arranha-céu
E se as paredes são feitas de giz
E se ela chora num quarto de hotel
E se eu pudesse entrar na sua vida

Sim, me leva pra sempre, Beatriz
Me ensina a não andar com os pés no chão
Para sempre é sempre por um triz
Aí, diz quantos desastres tem na minha mão
Diz se é perigoso a gente ser feliz

Olha
Será que é uma estrela
Será que é mentira
Será que é comédia
Será que é divina
A vida da atriz
Se ela um dia despencar do céu
E se os pagantes exigirem bis
E se o arcanjo passar o chapéu
E se eu pudesse entrar na sua vida

Olha
Será que ela é moça
Será que ela é triste
Será que é o contrário
Será que é pintura
O rosto da atriz
Se ela mora no sétimo céu
Se ela acredita que é outro país
E se ela só decora o seu papel
E se eu pudesse entrar na sua vida

Olha
Será que ela é louça
Será que é de éter
Será que é loucura
Será que é cenário
A casa da atriz
Se ela mora num arranha-céu
E se as paredes são feitas de giz
E se ela chora num quarto de hotel
E se eu pudesse entrar na sua vida

Sim, me leva pra sempre, Beatriz
Me ensina a não andar com os pés no chão
Para sempre é sempre por um triz
Aí, diz quantos desastres tem na minha mão
Diz se é perigoso a gente ser feliz

Olha
Será que é uma estrela
Será que é mentira
Será que é comédia
Será que é divina
A vida da atriz
Se ela um dia despencar do céu
E se os pagantes exigirem bis
E se o arcanjo passar o chapéu
E se eu pudesse entrar na sua vida


 Beatriz Catarina Consentino      

Por instantes esqueço
da tarde gris
das silhuetas sombrias
& glaciais.

Pausa breve que bebo
& aprecio.

Pois logo chegarão os homens
trazendo sob os ombros
sua inumerável prole
de desgraças.


Francisco De Arruda Bezerra     
Amar é lento...
Ou velocíssimo --
-- ou melhor:
em velocidade
de cruzeiro.

ijs

QUEM SABE DA SEMENTEIRA, CONHECE A COLHEITA...


Em verdade,
a luz procura o belo,
assim como a poesia,
busca o momento singelo.

Os seres vivos
absorvem o que de puro
pode tornar-lhes ativos,
e faze-los
sem desvelos,
entregarem-se no sentido lato
ao fato, ao ato,
de serem abençoados
pela divina vida
cristalina e colorida.

Quem sabe da sementeira,
por certo prevê a colheita.

E no momento certo,
após o sol dar vida às sementes
e o sal do rosto
inundar o solo,
vê-se que o quê se fará concreto
é a força do arraste, o lastro silente,
que deixa exposto
a vida consciente.
O milagre posto.

Sol, sal,
são da terra,
os elos.
Do céu,
a luz.
E da energia,
o tom de cores fortes
que traduzem a sorte,
de sermos o que somos...

Por mais que as tempestades
nos assustem.
Por mais que as inverdades
nos achaquem de forma covarde.
Por mais enfim,
que se busque inutilmente o fim
para o que de fato,
se fará eternidade...


josemir (ao longo...)