Fios retorcidos embaralham a trama,
bordados sem sentido tomam conta do tecido,
palavras embriagadas tropeçam nos significados;
permanece o drama e ninguém reclama.
O sacerdote enlouquecido num sermão equivocado
diz que a poesia que hoje chora é pecadora contumaz.
Uma guitarra ensandecida em harmonias infernais,
sacrifica a melodia num estranho ritual.
Carpideiras se divertem com a agonia do poema
e o imperador lamenta a morte do tirano enforcado.
A estrela da manhã apedrejada em plena praça
e o povo comemora, ri com gosto da desgraça.
E o diabo observa, lamentando o triste enredo,
já não tem mais nem espaço pra tanta gente em degredo.
E a história se repete, todos os dias, já faz tempo:
a poesia crucificada implora ao Pai por seus rebentos.
Fios retorcidos, bordados sem sentido, palavras embriagadas.
Permanece o drama e ninguém reclama!
NALDOVELHO
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