quinta-feira, 12 de julho de 2018


A vida podia ser um livro
com sumário.
Aí a gente podia pular as partes chatas, tristes
ou tragicômicas
-- como aquela vez em que me espatifei no chão
diante da menina que eu gostava,
ou aquela outra em que me descobri
menor do que eu me imaginava.
A vida podia ser um livro
com notas de rodapé
-- aí quem sabe eu ia entender
porque tu me traíste
ou porque tantas vezes,
vergonhosamente,
eu me traí.
Mas não, a vida é um livro
que deve ser lido por inteiro,
de cabo a rabo,
sem auxílios, sem atalhos,
nem consulta a dicionários,
torcendo para que ao final
o fim não seja tão vil
quanto morrer abandonado
num leito de hospital.

Otto Leopoldo Winck

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