Então ele saiu de casa rumo ao Bosque, um livro de capa
vermelha num braço, uma corda ordinária comprada dia desses no bolso do casaco.
Sentou-se à beira do rio -- um riozinho mequetrefe, mais esgoto que rio -- e
leu alguns dos poemas do livro. Sorriu algumas vezes, talvez diante do efeito
de um verso ou outro. Depois -- o sol estava caindo e logo o Bosque seria
fechado --, ele saiu andando pelas alamedas sombrias do Bosque. Não foi fácil
encontrar uma árvore apropriada.
No dia seguinte, um guarda municipal achou o corpo dele
dependurado do galho de um plátano. Embaixo, jazia um exemplar das Flores do
mal, aberto de borco. No seu bolso acharam um bilhete, apenas com uma frase de
Homero: "Entre todas as criaturas que se arrastam e respiram sobre a
Terra, não há nenhuma outra mais infeliz que a criatura humana." Logo que
sua morte foi anunciada nas redes sociais, começou a chover frases de
condolências e consternação no seu perfil do Facebook. Perdemos uma grande
promessa da poesia. Uma pessoa de rara sensibilidade. Uma mago das palavras. No
entanto, no seu enterro, e mais ainda no seu velório, compareceu muito pouca
gente. Com efeito, de todas as criaturas que se arrastam e respiram sobre a
Terra, não há nenhuma mais infeliz que o poeta.
Otto Leopoldo Winck
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