● meu pai olha a parede ●
● nela corre um velho rio ●
● cheio de crianças nuas ●
● indo na agua como sapos ●
● na chuva depois do verão ●
● meu pai diz era isso assim ●
● a parede volta a ser branca ●
● meu pai de olhos turvos ●
● recria nos dedos o ritmo ●
● da ultima sinfonia e quase ri ●
● mas ele não sabe mais o coro ●
● sabe das touradas do sangue ●
● num segundo nem o sangue ●
● os dedos param numa nota fria ●
● meu pai dorme e não sei ●
● o q sonha meu pai dormindo ●
● na verdade so me pergunto ●
● se meu pai sonha se meu pai ●
● dorme na poltrona dessa sala ●
● agora imovel com certeza pula ●
● com os sapos depois do verão ●
● meu pai de repente ele diz ●
● quanta infelicidade no final ●
● corvos voando entre telhados ●
● quanta neve nos redemoinhos ●
● meu pai dorme bem agitado ●
● ?quem sabe se ele agora é ●
● todos nos no fim sem saber ●
● meu pai acorda e se senta ●
● olha pra mim e diz se mate ●
● antes q a vida cause essa dor ●
● faça isso por vc e volta ao sono ●
● ele pelo menos sabe q chegou ●
● a hora a minha hora q ele deixou ●
● passar como todos os outros ●
● meu pai logo logo dormira ●
● sem sinfonia como todos nos ●
● nem palavras como eu ou ele ●
● resta o rio sobre essa ponte ●
● de madeira suja e ferro gasto ●
● ao redor a cidade se estraga ●
● é preciso não acordar mais ●
*
Alberto Lins Caldas
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