Dançando a dança da chuva no meu quarto,
Sinto, na cara, as gotas que caem do teto.
No palco solitário, danço ao som do free-jazz,
Celebro a liberdade da loucura chapinhando, brincando na
água.
Rio-me de meu rio paralisado, sério, no chão, com medo desta
chuva.
Minha seriedade, tantas vezes inimiga da verdade poética,
Profetiza meu fracasso nas vozes das piranhas que há no
escuro.
Porém, eu, que sou ínfimo na vida e meramente infinito
Na página, rio-me de meu rio e de toda estética ditadura.
Só,
Sorrio com bravura de hippie ante o rifle.
Há candura na dureza de meus versos.
Há ternura na violência de meus versos.
E para eles danço, na umbanda a meu próprio espírito.
Tento psicografar meu passado a meu futuro, com a caneta
Presente, mas a tinta das antigas horas não molha mais a
esfera e o papel.
Ah, liberdade de estar louco no quarto, acompanhado dos
sorrisos!
Ah, liberdade de estar sem camisa para a mente, sorrindo
para um outro eu
Que é espelho, que ri da mesma maneira minha, mesmo
diferente ,
Conforme a Física demonstra...
Se pudesse transformar cada sorriso meu em um ser,
Teria uma grata multidão de gatos acariciando minhas pernas.
Seria atemporal e internacionalmente egípcio e nobre;
Feliz como um faraó, mentindo alegremente a mim mesmo,
Sendo Deus de mim mesmo,
E meu asilo seriam as margens do Nilo...
Mas, como não consigo, danço.
Danço no quarto, alagado até o peito com as águas abstratas
De meu desassossego, sonhando com a chuva que,
Finalmente transformada em torrente,
Lavará todo o lodo do leito
Sem afundar a frágil jangada de papel
Que transporta meu eu em palavras.
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